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Ginecologia e Obstetrícia28 julho 2025

Gestantes sem pré-natal têm 47% mais risco de anomalias

Estudo mostra que falta de pré-natal, idade materna e desigualdades aumentam risco de anomalias congênitas no Brasil.
Por Redação Afya

Estudo publicado no periódico BMC Pregnancy and Childbirth, analisou os fatores socioeconômicos e biológicos associados às anomalias congênitas no Brasil. A pesquisa, feita a partir de bases de dados interligadas do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), mostrou que existem associações entre possíveis anomalias em bebês e fatores como acompanhamento pré-natal insuficiente, idade materna, gravidez multifetal, cor/raça e baixa escolaridade.

No Brasil, as anomalias congênitas são a segunda principal causa de morte de crianças. Essa condição pode ser atribuída à genética, ambiente ou combinação de diversos fatores. Dessa forma, fatores socioeconômicos e desigualdades atuam de forma importante na prevalência dessas anomalias. 

Pensando nisso, o artigo “Maternal and gestational factors associated with congenital anomalies among live births: a nationwide population-based study in Brazil from 2012 to 2020” de autoria da pesquisadora associada do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia Qeren Hapuk, procurou compreender como fatores sociais e biológicos podem impactar o desenvolvimento dos bebês. 

O estudo utilizou dados de bebês nascidos no Brasil entre 2012 e 2020, totalizando cerca de 26 milhões de bebês nascidos e vivos, sendo 144 mil nascidos com algum tipo de anomalia. Das anomalias registradas, foram priorizados defeitos de membros, cardíacos, tubo neural, fenda oral, genitais, parede abdominal, microcefalia e síndrome de Down. Essas anomalias foram selecionadas por terem sido identificadas como condições prioritárias para cuidado e prevenção no Brasil.

A prevalência das principais anomalias congênitas selecionadas foi de 55,3 por 10.000 nascidos vivos. As malformações dos membros foram o grupo mais comum de anomalias, com uma prevalência de 20,1 por 10.000 nascidos vivos, seguidas pelas cardiopatias congênitas, com prevalência de 14,9 por 10.000 nascidos vivos.

Veja também: Malformações da orelha externa e anomalias cardíacas e renais

Fatores de risco para anomalias congênitas 

Anomalias Congênitas são alterações estruturais ou funcionais que ocorrem durante a vida uterina e contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade de crianças. Esses distúrbios podem ser influenciados por questões socioeconômicas como as desigualdades. 

Segundo dados do IBGE, em 2019, 98,2% das gestantes brasileiras de 15 anos ou mais de idade afirmaram ter realizado consulta pré-natal durante a gravidez, percentual similar ao estimado em 2013. Apesar do número de gestante que realiza acompanhamento pré-natal ser alto, a parcela que não tem acesso ainda preocupa. Este estudo destacou que mulheres que não tiveram acompanhamento pré-natal durante o início da gestação tiveram 47% mais chances de ter um bebê com anomalias do que mulheres que realizaram o pré-natal desde o início da gravidez.

A análise ainda mostrou que raça/cor também pode influenciar na prevalência de anomalias. Mães que se autodeclararam pretas tiveram 16% mais chance de ter filhos com anomalias congênitas quando comparadas com mães brancas. Em relação a fatores etários, mulheres com mais de 40 anos possuíam quase 2,5 vezes mais chances de ter um bebê com anomalias congênitas enquanto mulheres com menos de 20 ano tiveram um risco 13% maior do que mães entre 20 e 34 anos. No que se refere à educação, mães com baixa escolaridade (0 a 3 anos) apresentaram 8% mais de chances de ter um bebê com anomalias do que mães com 12 anos ou mais de escolaridade. 

Além disso, a análise mostrou que algumas anomalias foram mais associadas a certoss fatores de risco. Os casos de bebês nascidos com defeitos do tubo neural, por exemplo, foram mais ligados à baixa escolaridade, ausência de pré-natal e gestão multifetal. Já os defeitos cardíacos foram associados à gravidez em idades avançadas, perda fetal e pré-natal insuficiente. Os casos de síndrome de Down foram mais associados à idade materna superior a 40 anos.

Desigualdades regionais

Além de fatores como o pré-natal insuficiente e a escolaridade, as diferentes regiões do Brasil também apresentaram variações significativas nas chances de crianças nascerem com anomalias. A principal causa da variação é a subnotificação, com o Sudeste sendo a região que melhor notifica nascimentos com anomalias congênitas. Como quase metade da população vivendo em situação de pobreza se encontra no Nordeste, a região tem maior probabilidade de mães residentes terem bebês com defeito do tubo neural, já que a condição está associada à baixa renda, baixa escolaridade e má alimentação. 

Os resultados do estudo indicaram que mulheres que pertencem a grupos sociais mais vulneráveis estão desproporcionalmente expostas a fatores que aumentam o risco de dar à luz à bebês com anomalias congênitas. Embora muitas anomalias não sejam evitáveis, o desenvolvimento de medidas de atenção primárias para reduzir os fatores associados têm grande impacto na prevenção de nascimentos de crianças com anomalias congênitas.

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Referências bibliográficas

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