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Ginecologia e Obstetrícia3 outubro 2024

Gestação após transplante de órgãos sólidos: quais os riscos? 

A taxa de transplante de órgãos sólidos vem aumentando durante este século, e entre as receptoras, a gravidez está associada a um risco maior de resultados adversos.

O JAMA Network Open em sua recente publicação, apresentou uma revisão sistemática e meta-análise com o objetivo de sintetizar as evidências sobre as associações entre transplante de órgãos sólidos e resultados adversos da gravidez e também examinar o impacto da gravidez no aloenxerto e incidência de rejeição. A pesquisa foi realizada na base de dados do PubMed/Medline, EMBASE e Scopus de 2000 a 2024 através de um grupo de gestantes com transplante de órgão sólido (rim, fígado, coração ou pulmão) e um grupo de gestantes sem transplante. Estudos que relataram perda ou rejeição de aloenxerto durante a gravidez também foram incluídos. 

Os desfechos primários da gravidez foram pré-eclâmpsia, parto pré-termo (< 37 semanas de idade gestacional IG) e baixo peso ao nascer (< 2.500 g). Os desfechos secundários da gravidez foram: IG no parto, nascimento vivo, parto muito pré-termo (< 32 semanas de IG), muito baixo peso ao nascer (< 1.500 g) e cesárea. Para o objetivo secundário, os desfechos foram rejeição e perda aguda do aloenxerto durante a gravidez. 

Leia também: Uma perspectiva atualizada sobre o transplante hepático

A revisão independente de resumos e artigos completos foi realizada por 3 autores e o risco de viés foi avaliado de forma independente usando a Escala Newcastle-Ottawa para estudos observacionais. O método DerSimonian-Laird foi usado para calcular o odds ratio (ORs) da associação entre transplante de órgãos sólidos e resultados adversos primários ou secundários da gravidez, sendo seus resultados considerados estatisticamente significativos em P < 0,05.  

Gestação após transplante de órgãos sólidos: quais os riscos? 

Resultados e discussão: gestação após transplante de órgãos

A busca produziu 1.736 resultados, sendo 22 artigos selecionados, incluindo uma população de 93.565.343 gestações. Destas, 4.431 mulheres tiveram 4.786 gestações após um transplante de órgão sólido, sendo 2.758 gestações (57,6%) com transplantes renais, 1.811 gestações (37,8%) hepáticos, 211 gestações (4,4%) cardíacos e 6 gestações (0,1%) foram transplantes pulmonares. Resultados adversos da gravidez foram relatados em 14 estudos e 13 estudos forneceram dados para resultados de aloenxerto.  

Gestações em receptoras de transplante de órgãos foram associadas a risco significativamente aumentado de pré-eclâmpsia (odds ratio ajustado [aOR], 5,83 [IC 95%, 3,45-9,87]; I² = 77,4%), parto prematuro (aOR, 6,65 [IC 95%, 4,09-12,83]; I² = 81,8%) e baixo peso ao nascer (aRC, 6,51 [IC 95%, 2,85-14,88]; I² = 90,6%). A incidência de rejeição aguda do enxerto foi de 2,39% (IC 95%, 1,20%-3,96%; I² = 68,5%), e a incidência de perda do enxerto durante a gravidez foi de 1,55% (IC 95%, 0,05%-4,44%; I² = 69,2%). 

Vários mecanismos potenciais fundamentam a associação entre resultados adversos da gravidez e transplante de órgãos sólidos. Fatores de riscos como a obesidade, hipertensão preexistente e diabetes, são mais comuns em receptores de transplante, o que contribui para o aumento do risco de pré-eclâmpsia e restrição do crescimento fetal. Medicamentos imunossupressores podem desempenhar um papel na condução do risco de resultados adversos da gravidez, sendo os inibidores de calcineurina uma causa conhecida de hipertensão e disfunção endotelial. 

Saiba mais: Como manejar o potencial doador de órgãos no CTI? 

Mensagens práticas 

Os riscos de pré-eclâmpsia, parto prematuro (< 37 semanas) e baixo peso ao nascer (< 2.500 g) em mulheres grávidas com transplante de órgão sólido foram de 4 a 6 vezes maiores do que em mulheres grávidas sem transplante de órgão. A rejeição do enxerto durante a gravidez é uma grande preocupação devido às opções limitadas de tratamento disponíveis como resultado de potenciais efeitos tóxicos para o feto. A incidência de rejeição durante a gravidez em estudos anteriores variou entre 4,2% a 9,4%, sendo maior que neste estudo.  

Mais pesquisas são necessárias para examinar dados sobre a imunossupressão usada no momento da concepção e durante a gravidez, bem como intervenções eficazes de redução de risco, como suplementação de aspirina para prevenção de pré-eclâmpsia, bem como o aconselhamento pré-gestacional e aprimorar o atendimento pré-natal interdisciplinar.

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