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Ginecologia e Obstetrícia10 dezembro 2024

Eficácia e Segurança do DTG/3TC para Profilaxia da Transmissão Perinatal do HIV 

Estudo avaliou a segurança e eficácia de dolutegravir (DTG) mais lamivudina (3TC) para mulheres grávidas com HIV que nunca receberam tratamento antirretroviral.

Um estudo piloto foi publicado recentemente no periódico Open Forum Infectious Disease. Neste estudo piloto, o regime Dolutegrir e Lamivudina (DTG/3TC) demonstrou segurança e eficácia, com todas as participantes alcançando supressão viral antes do parto. Não foram registrados casos de transmissão perinatal do HIV, nem eventos adversos relacionados ao medicamento.  

Introdução 

A transmissão vertical do HIV é um problema significativo de saúde pública, sendo a principal causa de infecção pediátrica pelo vírus. Globalmente, cerca de 1,3 milhão de gestações ocorrem em mulheres vivendo com HIV anualmente, com a transmissão vertical sendo mais comum em mulheres não diagnosticadas, sem terapia antirretroviral (TARV), que interromperam o tratamento ou que contraíram o vírus durante a gestação ou amamentação. No Brasil, 114 casos de transmissão vertical de HIV foram registrados em 2022, representando 0,3% dos casos conhecidos de exposição. A eliminação da transmissão vertical requer o uso de TARV segura e eficaz durante a gestação, reduzindo o risco de transmissão para menos de 1%. 

As diretrizes brasileiras recomendam a TARV baseada em três fármacos, incluindo dois inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa e um terceiro agente, como um inibidor da integrase. O dolutegravir (DTG), amplamente utilizado devido à sua eficácia na supressão virológica e alta barreira à resistência, é preferido em regimes de primeira linha. Estudos recentes indicam que esquemas com dois fármacos, incluindo DTG e lamivudina (3TC), podem ser tão eficazes quanto os regimes com três drogas, além de reduzir a toxicidade a longo prazo e a exposição fetal.   

Leia também: IAS 2024: atualização dos guidelines da OMS sobre HIV, IST e hepatites

Objetivo 

Este estudo buscou avaliar a segurança e a eficácia do regime DTG/3TC em gestantes com HIV que não usaram TARV previamente, fornecendo dados iniciais sobre seu potencial no controle da transmissão perinatal.  

Metodologia 

Trata-se de um ensaio clínico realizado em Salvador, Bahia, Brasil, envolvendo mulheres grávidas vivendo com HIV, acompanhadas até o parto, e seus recém-nascidos até seis semanas após o nascimento. A pesquisa foi conduzida em duas fases: na primeira, 10 gestantes foram acompanhadas e, após análise de segurança, mais 10 participantes foram incluídas na segunda fase. Os critérios de inclusão foram idade gestacional entre 14 e 28 semanas, carga viral ≥ 1.000 cópias/mL, ausência de exposição prévia a antirretrovirais (ARVs) e idade ≥ 15 anos. Foram excluídas pacientes com condições como mutações de resistência aos ARVs usados, doenças hepáticas graves, ou condições clínicas que comprometiam a adesão ao estudo. 

As participantes receberam um regime fixo de dolutegravir (DTG) e lamivudina (3TC) (50 mg/300 mg) em dose única diária, com avaliações realizadas na inclusão, a cada 4 semanas, e no parto. Os recém-nascidos foram avaliados ao nascimento e com 4 e 6 semanas de vida. Os desfechos primários incluíram a proporção de mães e lactentes com carga viral indetectável (< 50 cópias/mL) no momento do parto. Desfechos secundários envolveram mudanças no tratamento até o parto e frequência de eventos adversos (EAs) em mães e bebês. A adesão foi monitorada por contagem de comprimidos e questionário padrão. 

O estudo seguiu os princípios éticos exigidos e recebeu aprovação do comitê de ética local. A análise estatística utilizou estatísticas descritivas para os desfechos primários e secundários. Os resultados visaram fornecer evidências iniciais sobre a segurança e eficácia do regime DTG/3TC em gestantes soropositivas, avaliando também o impacto na transmissão perinatal do HIV. 

Principais achados 

De janeiro de 2019 a março de 2021, um total de 20 gestantes vivendo com HIV foram incluídas em um único centro. A maioria das voluntárias (55%) era casada ou em união estável (65%) e havia concluído entre 8 e 12 anos de escolaridade (65%). Metade das pacientes relatou consumo de álcool no passado, enquanto 30% relataram consumo durante a gestação. A maior parte das mulheres (60%) informou nunca ter fumado, e 75% não utilizaram drogas recreativas. No entanto, 15% relataram uso atual de maconha. A idade média das participantes era de 25,4 anos, com uma idade gestacional média de 18 semanas e 5 dias no início do estudo.  

No início do estudo, a contagem mediana de células CD4 era de 401,6 ± 113,6 células/μL, aumentando para 690,2 ± 266 células/μL no momento do parto. A carga viral mediana inicial foi de 9514 cópias/mL. Todas as mulheres alcançaram carga viral indetectável após uma média de 40 dias. Não foram detectados casos de transmissão vertical do HIV. Nenhuma modificação no regime terapêutico foi necessária durante o estudo, e não foram registrados eventos adversos relacionados à terapia antirretroviral.  

Saiba mais: Terapia dupla em marcadores inflamatórios e de reservatório como tratamento de HIV

Discussão e conclusões 

A eficácia do DTG/3TC é comparável à de regimes com três fármacos, com o benefício adicional de reduzir a exposição fetal a medicamentos e minimizar riscos de toxicidade a longo prazo.  

Embora estudos iniciais tenham levantado preocupações sobre o uso de DTG no início da gestação devido a possíveis defeitos do tubo neural, evidências mais recentes, incluindo grandes coortes brasileiras e internacionais, não confirmaram esse risco. O DTG é especialmente eficaz para redução rápida da carga viral, sendo útil em casos de diagnóstico tardio. Apesar da amostra pequena e limitações do estudo, os resultados apoiam a investigação futura dessa estratégia em gestantes com HIV.  

O regime DTG/3TC é uma alternativa promissora para o manejo de gestantes com HIV, oferecendo segurança, eficácia e potencial para redução da transmissão perinatal.

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Referências bibliográficas

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