IAS 2024: atualização dos guidelines da OMS sobre HIV, IST e hepatites
Nessas novas diretrizes lançadas durante o IAS 2024 encontram-se novas recomendações em relação ao diagnóstico, manejo e tratamento de HIV e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
O controle da infecção pelo HIV, hepatites virais e ISTs permanece uma prioridade para a OMS. Esse grupo de doenças representa um grande impacto na saúde global: estima-se que estejam relacionadas a 2,5 milhões de morte ao ano.
Apesar de diferentes, a epidemiologia dessas doenças se intersecta, apresentando uma possibilidade para o desenvolvimento de programas de prevenção e controle conjuntos. Contudo, os números mostram que o controle e eliminação ainda estão distantes. O número de mortes e de novas infecções não estão reduzindo a uma velocidade adequada para que as metas programadas sejam alcançadas e o número de mortes relacionadas a HBV em 2023 superou o de 2019.
Diante desse cenário e das novas tecnologias disponíveis, a OMS atualizou seus guidelines considerando sua aplicabilidade em regiões com menos recursos econômicos. Confira as principais atualizações apresentadas:
Imagem de freepikDiagnóstico de HIV
- Autotestagem é considerado seguro e eficaz e é recomendada como forma de rastreio para HIV, sífilis e HCV. Novos autotestes para HCV e para sífilis/HIV foram desenvolvidos e poderão estar disponíveis para utilização.
- Há recomendação para expandir o acesso a autotestagem para HIV, com o objetivo de identificar casos que não seriam detectados com a política tradicional de testagem baseada em grupos de risco.
- Há recomendação para a utilização de autotestagem como forma de prevenção, incorporando-a como método nos algoritmos de prevenção pré-exposição (PrEP), podendo ser usada em seu início, reinício e continuação e como uma forma de simplificar a oferta de PrEP nos países.
- Há recomendação para testagem baseada em redes. Os serviços de testagem baseada em redes são um conjunto de abordagens que expandem as testagens e a oferta de tratamento e prevenção ao apoiar os indivíduos a informar, referenciar para testagem ou oferecer autotestes para seus parceiros, familiares ou membros de suas redes sociais.
Tratamento de ISTs
Novas recomendações em relação ao tratamento das principais ISTs foram feitas, com alterações em dosagem e nas drogas de primeira linha. Muitas das alterações foram feitas devido ao aumento de resistência a antimicrobianos que vem sendo observado mundialmente. Os tratamentos recomendados pelos guidelines agora são:
- Neisseria gonorrhoeae: ceftriaxone 1g IM
- Chlamydia trachomatis: doxiciclina 100 mg 12/12h por 7 dias, reservando o uso de azitromicina para infecções emergentes, como as por Mycoplasma genitalium. Doxiciclina deve ser priorizada como primeira linha mesmo quando a abordagem sindrômica é utilizada.
- Treponema pallidum: penicilina benzatina continua sendo considerada superior aos esquemas alternativos de tratamento, especialmente para a prevenção de transmissão vertical durante a gestação.
- Mycoplasma genitalium: doxiciclina 100 mg 12/12h por 7 dias seguido por moxifloxacino 400 mg 1x/dia por 7 dias (nos locais em que há alta resistência a macrolídeos ou quando há infecção com resistência a macrolídeos confirmada) ou azitromicina 1g 1x/dia por 1 dia e depois 500mg 1x/dia por 3 dias (nos locais em que há baixa resistência a macrolídeos ou quando há suscetibilidade confirmada a macrolídeos).
- Trichomonas vaginalis: metronidazol 500 mg 12/12h por 7 dias. Alternativas: secnidazol, ornidazol.
- Verrugas genitais (HPV): aplicação de podofilotoxina 0,5% ou imiquimod 0,5 – 1,5%. Alternativas: eletrocirurgia, eletrocauterização, crioterapia, laser de CO2.
- Vaginose bacteriana: metronidazol 500 mg 12/12h por 7 dias. Alternativas: tinidazol, clindamicina, secnidazol.
- Candidíase: fluconazol oral ou formulações intravaginais (clotrimazol, miconazol, econazol, nistatina).
Rastreio de ISTs
Em algumas situações, em que a prevalência de ISTs é alta e recursos estão disponíveis, a OMS sugere que populações-alvo sejam rastreadas para infecções assintomáticas por N. gonorrhoeae e C. trachomatis:
- Gestantes em pré-natal;
- Jovens e adolescentes (10-24 anos) sexualmente ativos que procuram os serviços de saúde, priorizando as adolescentes do sexo feminino;
- Trabalhadores do sexo que procuram os serviços de saúde;
- Homens que fazem sexo com homens que procuram os serviços de saúde.
Recomendações de profilaxia pós-exposição
A profilaxia pós-exposição (PEP) é uma ferramenta importante na prevenção de novas infecções por HIV, mas ainda é subutilizada. A OMS atualizou seus guidelines no ano de 2024, dando ênfase aos seguintes pontos:
- A PEP deve ser oferecida o mais precocemente possível após a exposição, idealmente nas primeiras 24h, mas não depois de 72h.
- A combinação de tenofovir (TDF), lamivudina (3TC) e dolutegravir (DTG) é recomendada como primeira opção para PEP em adultos e adolescentes. DTG é a droga de escolha em crianças quando a formulação com dosagem adequada estiver disponível.
- Alternativas para DTG incluem atazanavir (ATV/r), darunavir (DRV/r), lopinavir (LPV/r) e raltegravir (RAL) em adultos e adolescentes.
- Para crianças, zidovudina (AZT), em combinação com 3TC, são as drogas de escolha para a base da PEP. Abacavir (ABC) e TDF são alternativas possíveis. As recomendações de terceira droga são semelhantes às para adultos e adolescentes.
- A duração de PEP deve ser de 28 dias, iniciada logo após avaliação.
- A PEP deve preferencialmente estar disponível em unidades descentralizadas nas comunidades e mais profissionais de saúde devem ser treinados para ofertar essa modalidade de prevenção, permitindo expansão de sua aplicação.
Confira todos os destaques do congresso aqui!
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