O câncer de ovário resistente à platina representa um desafio significativo na prática clínica, devido à baixa eficácia das terapias disponíveis atualmente e à alta taxa de recidiva e progressão da doença. Uma das estratégias estudadas para superar essa resistência é o uso de drogas que inibem vias de sinalização específicas envolvidas na sobrevivência celular tumoral, como a via PI3K/AKT/mTOR, frequentemente ativada nesses tumores.
O artigo abordado foi recentemente publicado na revista internacional Gynecologic Oncology, em 2025, e explora o papel de um inibidor da proteína AKT chamado Afuresertib em pacientes com câncer de ovário resistente ao tratamento com quimioterapia baseada em platina.
Objetivo
O estudo teve como objetivo avaliar a eficácia e a segurança da associação do Afuresertib ao quimioterápico Paclitaxel, comparando esta combinação com o uso isolado do Paclitaxel em pacientes com câncer de ovário resistente à platina.
Métodos
Trata-se de um estudo clínico de fase II, ou seja, uma pesquisa com número limitado de pacientes (neste caso, 150 mulheres), projetado para avaliar inicialmente a eficácia e segurança de um novo tratamento antes da realização de um estudo de fase III, maior e definitivo.
As participantes foram randomizadas na proporção de 2 pacientes para o tratamento combinado com Afuresertib e Paclitaxel, para cada 1 paciente recebendo apenas Paclitaxel. O desfecho principal avaliado foi a sobrevida livre de progressão da doença, definida como o tempo entre o início do tratamento e a progressão da doença ou morte. Outros desfechos avaliados foram a sobrevida global, a taxa de resposta objetiva (redução significativa do tumor) e o perfil de segurança dos medicamentos. Uma análise exploratória adicional avaliou biomarcadores específicos, como o nível de expressão da proteína fosfo-AKT nos tumores das pacientes.
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Principais achados
O estudo não demonstrou benefício significativo da adição do Afuresertib ao Paclitaxel em relação ao uso isolado de Paclitaxel quando avaliada toda a população estudada. A sobrevida livre de progressão foi semelhante nos dois grupos, com uma média de 4,3 meses para a combinação versus 4,1 meses para Paclitaxel isolado. A sobrevida global também não apresentou melhora significativa. Porém, em um grupo específico de pacientes cujos tumores tinham níveis elevados do biomarcador fosfo-AKT, houve uma melhora substancial com a associação do Afuresertib, com aumento da sobrevida livre de progressão para 5,4 meses, comparado a 2,9 meses com o Paclitaxel isolado. Em relação aos eventos adversos, o tratamento combinado teve maior incidência de efeitos colaterais graves, como diarreia, anemia e hiperglicemia.
Conclusão
A associação do Afuresertib ao Paclitaxel não demonstrou melhora significativa em relação ao tratamento com Paclitaxel isolado para todas as pacientes com câncer de ovário resistente à platina. Contudo, resultados exploratórios apontam um benefício potencial em pacientes com expressão elevada da proteína fosfo-AKT, sugerindo que o uso de biomarcadores específicos pode ajudar a identificar pacientes que terão maior benefício com terapias-alvo.
Mensagem prática
Apesar de o Afuresertib não ter beneficiado todas as pacientes, os achados reforçam a importância da seleção de subgrupos específicos através de biomarcadores como fosfo-AKT, potencializando estratégias de tratamento personalizado no câncer de ovário resistente à platina. Esses resultados devem incentivar a utilização futura de testes moleculares específicos, orientando decisões terapêuticas individualizadas e possivelmente aumentando a eficácia e segurança dos tratamentos disponíveis para esta população desafiadora.
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