Além do recente desafio da Covid-19, o mundo enfrenta nas últimas décadas uma outra pandemia, que é a obesidade infantil, muitas vezes subestimada. No Brasil, entre 2006 e 2018, a obesidade teve um incremento de 67% acometendo 19,8% da população geral, e se incluirmos o sobrepeso (IMC>25) este número atinge mais da metade dos brasileiros, levando à alta morbi-mortalidade com suas repercussões.
O maior aumento da patologia em nosso país tem corrido entre 25 e 34 anos, idade em que geralmente as mulheres engravidam e o hábito de uma alimentação inadequada durante a gravidez pode levar além de ganho de peso e aumento de doenças como hipertensão, diabetes e também a alterações no desenvolvimento fetal, às vezes com manifestações apenas na infância tardia.
Estudo avalia a obesidade infantil com base nas dietas de mulheres antes e durante a gestação
Metanálise publicada no BMC Journal, em 22 de fevereiro, avaliou 7 estudos europeus de coorte incluindo dados de 16.295 pares de mães e filhos de diversos países, a saber: França, Reino Unido, Holanda e Irlanda. Estas mulheres tiveram suas dietas no período pré-concepcional e durante a gestação (precoce e tardia) analisadas através de questionários e divididas como de boa ou má qualidade através de 2 pontuações: DASH score (Dietary Approaches to stop hypertension) e pelo E-DII score (energy-adjusted Dietary Inflamatory Index).
Como desfecho foram avaliados sobrepeso e obesidade infantil ( IMC com z-score acima do percentil 85), espessura de prega cutânea, índice de massa gorda e índice de massa magra (fat-free mass index – FFMI) nas crianças. Foram excluídas gestantes com diabetes gestacional, hipertensão arterial, pré-eclâmpsia para poder avaliar melhor os dados em gestações de baixo risco.
Resultados
A idade média das mães incluídas no estudo foi de 30,2 anos, com IMC de 23,4kg/m². Dietas com maior pontuação no score DASH (melhor qualidade) durante toda gravidez se associaram a menores taxas de obesidade, sobrepeso e índice de massa gorda na infância tardia (9-11 anos) (OR:0,92), enquanto que pontuações mais elevadas no score E-DII (dieta mais inflamatória) se associaram a piores índices de massa magra (fat free mass index) também na infância tardia. Não foram encontradas associações com significância estatística entre as dietas e influência na adiposidade na infância precoce (pré escolar), exceto por um dado não esperado de associação entre dieta mais inflamatória (alta pontuação no E-DII score) e menor risco de sobrepeso nesta fase, o que não vai ao encontro de outro estudo feito anteriormente considerando corte mais rigoroso para obesidade com z-score acima do percentil 95.
Mensagem prática
A alimentação de baixa qualidade durante a gestação pode prejudicar não só a saúde materna, mas também acarretar um provável aumento da taxa de obesidade na infância tardia. Sugere-se um mecanismo de modificação epigenética na prole induzida pela dieta inadequada. Estimular uma alimentação saudável durante o pré natal é promover uma melhor qualidade de vida e menor risco de doenças crônicas para toda família.
Referência bibliográfica:
- Chen, LW., Aubert, A.M., Shivappa, N. et al. Maternal dietary quality, inflammatory potential and childhood adiposity: an individual participant data pooled analysis of seven European cohorts in the ALPHABET consortium. BMC Med 19, 33 (2021). https://doi.org/10.1186/s12916-021-01908-7
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