A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) afeta cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva, causando disfunções hormonais, reprodutivas e metabólicas, como resistência à insulina. A heterogeneidade da doença e o acesso desigual à saúde dificultam um manejo eficaz. Estudos indicam que mulheres latino-americanas com SOP têm maior prevalência de obesidade, hipertensão e baixos níveis de HDL-C. A diversidade genética na região pode influenciar a manifestação da doença. Assim, é essencial considerar fatores sociodemográficos e culturais para um atendimento mais adequado.
A Associação Latino-Americana de Endocrinologia Ginecológica (ALEG) organizou um consenso para avaliar diretrizes internacionais e adaptá-las à América Latina. Utilizando a estratégia Delphi, 17 especialistas e três residentes de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade del Rosario, Bogotá, Colômbia analisaram e priorizaram recomendações. O processo incluiu revisão científica, discussões e votação para validar diretrizes regionais. O objetivo é preencher lacunas no manejo da SOP e fornecer diretrizes adaptadas à realidade local. Isso auxiliará profissionais e gestores na formulação de políticas mais eficazes.
O consenso revisou 33 recomendações para o diagnóstico e tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Na primeira votação, 25 recomendações receberam forte apoio (80%-100%), enquanto 8 recomendações tiveram menor concordância inicial. Após discussões adicionais, essas recomendações alcançaram aceitação quase unânime (81,8%-100%), sendo consideradas aplicáveis à realidade da América Latina.
Principais recomendações do documento:
- Estigma do Peso: Mulheres com SOP frequentemente enfrentam estigma relacionado ao peso, impactando sua saúde mental e física. Esse problema é comum em ambientes médicos, dificultando o atendimento adequado. Na América Latina, essa questão ainda não é amplamente reconhecida, e combater o estigma pode melhorar a prevenção e o tratamento.
- Contraceptivos orais hormonais combinados: Poderiam ser recomendados em mulheres em idade reprodutiva com SOP para o manejo do hirsutismo e/ou irregularidade menstrual.
- Uso de Inositol: O inositol pode ser considerado para mulheres com SOP, podendo melhorar hiperandrogenismo bioquímico, ciclos menstruais e distúrbios metabólicos. No entanto, seus benefícios clínicos ainda são limitados. A metformina deve ser considerada em vez do inositol para medidas metabólicas, hirsutismo e adiposidade central.
- Agentes farmacológicos antiandrogênicos, isolados ou em combinação: Em combinação com contracepção eficaz, os antiandrogênicos podem ser considerados para o tratamento do hirsutismo em mulheres com SOP, caso haja uma resposta subótima após pelo menos seis meses de uso de contraceptivos orais combinados e/ou terapia cosmética.
- Metformina na gravidez: A metformina pode ser usada para reduzir partos prematuros e limitar ganho de peso gestacional em mulheres com SOP. No entanto, sua eficácia em prevenir complicações maternas é incerta, e há preocupações sobre possíveis efeitos no feto.
- Função psicossexual: Mulheres com SOP apresentam maior risco de disfunção psicossexual, influenciada por fatores como baixa autoestima e imagem corporal negativa. A triagem para esses problemas pode melhorar a qualidade de vida e o atendimento médico.
- Hiperandrogenismo clínico: O hirsutismo é um forte preditor de hiperandrogenismo e SOP. O escore Ferriman-Gallwey deve ser ajustado conforme a etnia. Os dados sobre SOP na América Latina ainda são limitados, destacando a necessidade de estudos regionais.
- Letrozol em mulheres que desejam engravidar: O letrozol deve ser o tratamento farmacológico de primeira linha para indução da ovulação em mulheres inférteis anovulatórias com SOP, na ausência de outros fatores de infertilidade.
- Metformina em FIV/ICSI: A metformina pode ser usada para reduzir síndrome de hiperestimulação ovariana e abortos em pacientes com SOP submetidas à FIV/ICSI.
- Hormônio Antimülleriano (AMH): O AMH pode ser usado para definir a morfologia ovariana policística em adultas. No entanto, valores de referência variam conforme idade, etnia e método laboratorial. Na América Latina, a falta de cobertura pelos sistemas de saúde dificulta sua implementação, sendo necessária uma pesquisa multinacional.
Leia também: Síndrome dos ovários policísticos: fisiopatologia e oportunidades terapêuticas
Conclusão: Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
SOP é a endocrinopatia mais prevalente em mulheres em idade fértil. Conhecer sua fisiopatologia, diagnóstico e manejo é fundamental para o médico generalista e especialista. O consenso aqui apresentado vai de encontro com os guidelines americano e europeu.
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