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Ginecologia e Obstetrícia9 setembro 2020

Tricomoníase: diagnóstico, manejo e tratamento

A tricomoníase é a IST não viral mais comum. Veja como diagnosticar, manejar e tratar o Trichomonas vaginalis segundo as principais recomendações.
Por Fernando Barros

A tricomoníase é uma das principais causas infecciosas de corrimento vaginal patológico na mulher em idade reprodutiva. Trata-se da doença sexualmente transmissível não viral mais comum do mundo e representa a terceira causa mais comum de corrimento vaginal.

Nesta revisão, exploramos os aspectos essenciais dessa infecção, incluindo seus mecanismos, diagnóstico e condutas terapêuticas recomendadas.

O que é a tricomoníase?

A tricomoníase é uma infecção causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário flagelado que infecta o epitélio escamoso do trato urogenital. Os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais, e a transmissão ocorre predominantemente por via sexual.

Mulheres podem se infectar por meio de outras mulheres, porém homens geralmente não transmitem a doença para outros homens.

Locais de infecção e coinfecções

O protozoário acomete principalmente vagina, uretra e glândulas uretrais, podendo, com menos frequência, atingir o colo uterino, glândulas de Bartholin, bexiga e próstata. A coinfecção com vaginose bacteriana é frequente, sendo observada em 60 a 80% dos casos.

Manifestações clínicas

Nas mulheres, o quadro clínico é variável. Aproximadamente metade permanece assintomática, enquanto outras desenvolvem vaginite inflamatória com corrimento vaginal abundante, purulento e fétido, além de prurido, queimação, disúria, dor pélvica e dispareunia. Os sintomas tendem a piorar durante a menstruação, e pode ocorrer sangramento pós-relação sexual.

Saiba mais: Vaginose bacteriana: como identificar e abordar essa condição?

Diagnóstico da tricomoníase

O diagnóstico da tricomoníase é confirmado por meio de testes laboratoriais (visualização do protozoário móvel na microscopia a fresco do fluido vaginal ou culturas positivas). Como a microscopia é fundamental na avaliação de qualquer corrimento vaginal, ela é geralmente o primeiro passo na avaliação diagnóstica da doença.

Como em outros tipos de vaginite, nenhuma das características clínicas da tricomoníase é suficientemente específica para que se faça o diagnóstico apenas baseado nos sinais e sintomas. A presença do protozoário móvel e flagelado na microscopia a fresco é diagnóstica da doença, mas é identificada em apenas 60 a 70% dos casos confirmados pela cultura.

Leia mais: Tricomoníase: dose única ainda permanece eficaz para tratamento?

Achados laboratoriais associados

Entre os achados laboratoriais frequentemente associados à infecção pelo T. vaginalis destacam-se o pH elevado (> 4,5) e uma população aumentada de polimorfonucleares. Tricomonas são por vezes relatados como um achado incidental em testes de rastreio de câncer do colo do útero.

A citologia cervical não é um teste sensível para o diagnóstico de tricomoníase, mas devem-se tratar mulheres com tricomonas visualizados nesse exame devido a sua alta especificidade.

Tratamento da tricomoníase

A tricomoníase está associada a um risco dois a três vezes maior de contaminação pelo HIV. Entre mulheres soropositivas, a infecção pelo Tvaginalis está associada a um risco maior para doença inflamatória pélvica. O protozoário pode ser encontrado em 70% dos parceiros sexuais de mulheres infectadas. Logo, o tratamento concomitante de todos os parceiros sexuais é essencial para o alívio sintomático, a cura microbiológica e a prevenção de transmissão e reinfecção.

Assim, o tratamento está indicado para homens e mulheres, sintomáticos e assintomáticos, reduzindo a prevalência de carreadores de T. vaginalis na população, aliviando sintomas e reduzindo riscos de aquisição e transmissão do HIV.

Os nitroimidazólicos (metronidazol e tinidazol) são os únicos que oferecem terapia curativa para a tricomoníase. A recomendação principal é:

  • Metronidazol 2 g via oral em dose única
    ou
  • Tinidazol 2 g via oral em dose única, que costuma provocar menos efeitos gastrointestinais, embora seja mais caro.

Os parceiros atuais devem ser aconselhados a se absterem de relações sexuais até que o tratamento seja adequadamente feito e os sintomas desapareçam.

 

Alternativas terapêuticas da tricomoníase

Um tratamento alternativo seria o uso de metronidazol 500 mg via oral, duas vezes por dia, por 7 dias, com taxas de cura similares ao regime de dose única. As vantagens do regime em dose única são melhor adesão ao tratamento, menor tempo de abstinência alcoólica e possivelmente uma menor superinfecção por Candida. No entanto, os efeitos colaterais (náusea, vômitos, cefaleia, gosto metálico, vertigem) parecem ser dose-dependentes e, portanto, ocorrem menos frequentemente nas doses mais baixas usadas no regime de 7 dias de tratamento. Os pacientes devem ser orientados a não consumirem álcool por até 24 horas após o fim do tratamento com metronidazol e por até 72 horas após o uso de tinidazol devido à possibilidade do efeito disulfiram-like.

Tratamento durante a gestação

Devido à associação entre T. vaginalis e desfechos adversos da gravidez, gestantes com infecção confirmada devem ser tratadas. A medicação recomendada durante a gravidez é o metronidazol 2 gramas em dose única. Como muitas gestantes têm náuseas e vômitos significantes, pode-se recomendar a dose de 500 mg de metronidazol duas vezes por dia durante 5 a 7 dias. Ambos os regimes são aceitos.

O creme vaginal de clotrimazol 1%, apesar de muitas vezes aliviar os sintomas, não erradica os organismos e, por isso, não é recomendado.

Esquemas de tratamento

A seguir estão os esquemas recomendados para o tratamento da tricomoníase:

  • Metronidazol ou tinidazol 2 gramas via oral dose única;
  • Metronidazol 500 mg 12/12 horas via oral por 7 dias;
  • Gestantes: metronidazol 2 gramas via oral dose única ou 500 mg 12/12 horas, por 7 dias.

*Este conteúdo foi atualizado em: 17/11/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.

 

Referências bibliográficas:

  • Sobel JD; et al. Trichomoniasis. [Internet]. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. (Accessed on September 09, 2020).
  • Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Diseases Characterized by Vaginal Discharge. MMWR,2015;64(12):69-78.

Autoria

Foto de Fernando Barros

Fernando Barros

Graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. Ginecologista e Obstetra formado pela Maternidade Odete Valadares, rede FHEMIG; em Belo Horizonte, MG.

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