Entre as causas não infecciosas do corrimento vaginal, incluem-se conteúdo mucoide fisiológico em excesso, vaginite inflamatória descamativa, vaginite atrófica (em mulheres na pós-menopausa) e presença de corpo estranho.
As causas infecciosas de corrimento vaginal são divididas em:
- Infecções endógenas (candidíase vulvovaginal e vaginose bacteriana);
- Infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto);
- Infecção sexualmente transmissível (IST): tricomoníase, infecção por trachomatis e N. gonorrhoeae.
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A candidíase e a vaginose representam as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico. São afecções da vulva e/ou vagina, conhecidas como vulvovaginites, cujos agentes etiológicos são fungos, principalmente Candida albicans e bactérias anaeróbicas, em especial Gardnerella vaginalis, respectivamente.
Vulvovaginites
As principais vulvovaginites, responsáveis pela queixa de corrimento vaginal são: candidíase, vaginose bacteriana e tricomoníase.
Candidíase
A candidíase pode se manifestar clinicamente com os seguintes sinais e sintomas: prurido, ardência, corrimento geralmente grumoso, sem odor, dispareunia de introito vaginal e disúria externa. Os sinais característicos são eritema e fissuras vulvares, corrimento grumoso, com placas de cor branca aderidas à parede vaginal, edema vulvar, escoriações e lesões satélites, por vezes pustulosas pelo ato de coçar.
Para o diagnóstico pode-se realizar a citologia a fresco, utilizando soro fisiológico e hidróxido de potássio a 10%, a fim de identificar a presença de hifas ou esporos dos fungos e mensurar o pH vaginal, que nessa infecção está próximo ao pH normal vaginal (3,5-4,5).
Vaginose bacteriana
Está associada à perda de lactobacilos e ao crescimento de inúmeras bactérias, bacilos e cocos Gram-negativos anaeróbicos. Sem lactobacilos, o pH aumenta e as bactérias produzem aminoácidos, os quais são quebrados em aminas voláteis (putrescina e cadaverina), levando ao odor desagradável, particularmente após o coito e a menstruação (que alcalinizam o conteúdo vaginal), o que constitui a principal queixa da paciente.
É facilmente identificada ao exame especular, que mostra as paredes vaginais em sua maioria íntegras e conteúdo vaginal perolado e bolhoso.
Se a microscopia estiver disponível, o diagnóstico é realizado na presença de pelo menos três critérios de Amsel:
- Corrimento vaginal homogêneo;
- pH > 4,5;
- Presença de clue cells (células guia) no exame de lâmina a fresco;
- Teste de Whiff positivo (odor fétido das aminas com adição de hidróxido de potássio a 10%).
O padrão-ouro para o diagnóstico é a coloração por Gram do fluido vaginal.
Tricomoníase vaginal
É causada por um protozoário flagelado unicelular, o Trichomonas vaginalis. Seus sinais e sintomas característicos consistem em corrimento vaginal intenso, amarelo-esverdeado, por vezes acinzentado, bolhoso e espumoso, acompanhado de odor fétido (na maioria dos casos, lembrando peixe) e prurido eventual, que pode constituir reação alérgica à afecção. Em caso de inflamação intensa, o corrimento aumenta e pode haver sinusiorragia e dispareunia. Também podem ocorrer edema vulvar e sintomas urinários, como disúria.
No exame especular, percebem-se microulcerações que dão ao colo uterino um aspecto de morango ou framboesa. A transudação inflamatória das paredes vaginais eleva o pH para 6,7 a 7,5 e, nesse meio alcalino, pode surgir flora bacteriana patogênica, inclusive anaeróbica; por conseguinte, se estabelece a vaginose bacteriana associada, que libera as aminas de odor fétido, além de provocar bolhas no corrimento vaginal purulento.
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O diagnóstico laboratorial microbiológico mais comum é o exame a fresco, com observação do parasita ao microscópio. O pH quase sempre é maior que 5,0. Na maioria dos casos, o teste das aminas é positivo. À bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, observa-se o parasita Gram-negativo, de morfologia característica. A cultura pode ser requisitada nos casos de difícil diagnóstico.
Abordagem diagnóstica
A infecção vaginal pode ser caracterizada por corrimento e/ou prurido e/ou alteração de odor. Daí a necessidade de indagar sobre: consistência, cor e alterações no cheiro e presença de prurido e/ou irritação local. A investigação clínica deve ser minuciosa, abrangendo informações sobre: comportamentos e práticas sexuais; data da última menstruação; práticas de higiene vaginal e uso de medicamentos tópicos ou sistêmicos e/ou outros possíveis agentes irritantes locais.
Durante o exame ginecológico, deve-se:
- Examinar a genitália externa e a região anal;
- Separar os lábios vaginais para visualizar o introito vaginal integralmente;
- Introduzir o espéculo para examinar a vagina, suas paredes, o fundo de saco e o colo uterino;
- Realizar o teste de pH vaginal;
- Colher material para o teste de Whiff e para a realização da bacterioscopia, quando disponível;
- Havendo possibilidade, coletar material endocervical para cultura de gonorrhoeae e pesquisa de C. trachomatis e N. gonorrhoeae por biologia molecular.
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