Esta mesa redonda do Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025) abordou diferentes aspectos das disfunções do assoalho pélvico, com ênfase nas repercussões sexuais e urinárias, sob a coordenação da Prof.ª Rejane Itaborahy, docente da Univag e da UFMT e atual presidente da SOMAGO.
Dispareunia
A discussão teve início com o Prof. Dr. Emerson de Oliveira, livre-docente da FMABC, que tratou da dispareunia, com foco na investigação e tratamento. A dispareunia acomete até 20% das mulheres, mas, apesar dessa prevalência, muitas relatam que sua queixa é ignorada ou minimizada por profissionais de saúde.
A etiologia é multifatorial, podendo envolver causas psicológicas, fisiológicas, demográficas e clínicas, e exige abordagem cuidadosa. O exame físico deve ser detalhado, incluindo a investigação de lesões, traumas, dor à palpação com cotonete, avaliação da parede vaginal e da musculatura do assoalho pélvico, além do toque bimanual, quando possível. O tratamento deve ser baseado na causa identificada, incluindo o uso de lubrificantes e hidratantes em casos de lubrificação inadequada.
Na Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM), o uso de estrogênios é recomendado (exceto quando contraindicado), com respaldo na meta-análise de Lethaby et al. (2016), publicada na Cochrane. Não há evidência que sustente o uso de tecnologias baseadas em energia nesses casos, segundo estudo de Li et al. (2021). Para quadros de vulvodínia e vaginismo, indicam-se terapias cognitivo-comportamentais, fisioterapia, uso de anestésicos, dilatadores vaginais e, especificamente para vaginismo, toxina botulínica.
ITU recorrente
Na sequência, a Prof.ª Dra. Ana Selma Bertelli Picoloto, da UFRGS, discutiu o manejo da infecção do trato urinário (ITU) recorrente. Destacou-se, inicialmente, a importância do diagnóstico correto, com urocultura para identificação do patógeno e do padrão de resistência bacteriana — não sendo indicada sua repetição rotineira em pacientes assintomáticas. Exames de imagem são reservados para suspeitas de anomalias funcionais ou anatômicas.
O tratamento da ITU recorrente segue os mesmos princípios do tratamento agudo e deve ser complementado por intervenções comportamentais, mesmo com baixa qualidade de evidência. A ingestão adicional de 1,5 L de água por dia pode reduzir em até 50% o risco de recorrência. Práticas como higiene adequada e micção pós-coito, apesar da ausência de ensaios controlados, são recomendadas pelo baixo risco associado. O uso de espermicidas deve ser evitado, enquanto o estrogênio vaginal mostra-se benéfico.
Produtos à base de cranberry (proantocianidinas) têm evidência de nível 1A, com redução estimada de 36% nas ITUs recorrentes. Já o uso de probióticos carece de evidência robusta, não sendo recomendado pela FEBRASGO, assim como a metenamina e a D-manose. A imunoterapia é amplamente recomendada, com exceção da AUA, e demonstrou superioridade em estudo recente de Han et al. (2024). A profilaxia antibiótica também é possível, mas deve ser cuidadosamente considerada e iniciada apenas após urocultura negativa, preferencialmente evitando quinolonas, devido ao risco de resistência.
Frouxidão vaginal
O Prof. Dr. Luiz Gustavo Oliveira Brito, professor associado da UNICAMP, abordou a queixa de “frouxidão vaginal”. Apesar de não ser um diagnóstico formal, trata-se de uma queixa comum, presente em cerca de 30% das consultas ginecológicas, frequentemente associada à autoimagem negativa e insatisfação sexual.
A etiologia está relacionada à idade (afetando mais mulheres jovens), paridade e presença de prolapso. Ao exame, é possível observar aumento da área hiatal do músculo levantador do ânus, geralmente por hiperdistensão. Importante destacar que não há correlação com a parede vaginal ou com as práticas sexuais da paciente.
Uso de tecnologias baseadas em energia
A Prof.ª Dra. Daniela Siqueira Prado, professora associada da UFS, tratou do uso de tecnologias baseadas em energia na ginecologia. Em relação à dispareunia, estudo realizado pelo HC demonstrou que os resultados do uso de laser e radiofrequência fracionada (Fraxx) são semelhantes aos do promestrieno. A SOBRAC endossa esses achados e considera o uso de laser como alternativa viável para mulheres com contraindicação ao uso de hormônios. No entanto, sociedades internacionais ainda não recomendam seu uso rotineiro.
Para incontinência urinária, estudo randomizado de não inferioridade demonstrou que o laser apresentou eficácia semelhante à fisioterapia. Apesar da segurança desses métodos, o NICE, o European Board e o ACOG reforçam a necessidade de mais evidências e alertam para a análise criteriosa do custo-benefício.
O uso dessas tecnologias não deve ser indicado para Síndrome da Bexiga Hiperativa, prolapso vaginal ou ITU recorrente, sendo considerado apenas para SGUM e incontinência urinária leve a moderada.
Pessário vaginal
Por fim, a Prof.ª Dra. Jussara Nunes, da UFPI, discutiu o uso do pessário vaginal (PV), uma alternativa segura e conservadora para mulheres que não desejam ou não podem se submeter a cirurgia. Os PVs, feitos de silicone ou borracha, proporcionam alívio imediato dos sintomas, além de melhora na qualidade de vida e na função sexual.
A escolha do tipo de pessário depende da avaliação do comprimento vaginal e do introito, que pode ser feita com o uso de colpômetro. O modelo em anel é o mais indicado para casos de prolapso vaginal. A inserção é feita em posição ginecológica, com o dispositivo devidamente lubrificado e ajustado ao canal vaginal.
O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no Portal Afya.
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