Associação entre o uso de DIUs e câncer de endométrio, ovário e colo do útero
A literatura médica ainda apresenta resultantes sobre o uso de dispositivos uterinos (DIUs) e o risco de câncer ginecológico.
Um artigo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology avaliou a associação entre o uso de dispositivos uterinos (DIUs) e câncer de endométrio, ovário e colo do útero.
Estudos anteriores apontam que o uso de contraceptivos hormonais combinados está associado a redução do risco de câncer de endométrio e de ovário e que a laqueadura tubária também reduz o risco no caso do câncer de ovário.
Quanto ao uso de DIUs a literatura traz ainda resultados conflitantes. De forma geral, esses dispositivos parecem diminuir o risco do câncer de endométrio.
Hoje há dois tipos de DIU: 1 – DIU de cobre (DIU-Cu), que promove uma reação inflamatória endometrial, não permitindo a fertilização; 2 – DIU hormonal com levonorgestrel (DIU-LNG), que promove uma atrofia endometrial e espessamento do muco cervical.
O atual artigo foi uma revisão da literatura para avaliar a associação dos dois tipos de DIUs e o risco de câncer ginecológico.
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Associação entre o uso de DIUs e câncer de endométrio, ovário e colo do úteroPrincipais resultados
- Câncer de endométrio
Por conta da localização intrauterina os dispositivos intrauterinos podem oferecer prevenção para o câncer de endométrio, tanto devido a inflamação causada pelo cobre quanto pela atrofia endometrial causada pelo progestâgeno.
Foram avaliados 12 estudos, de 1993 a 2018 e em 10 deles houve redução do risco de câncer de endométrio em usuárias de dispositivos intrauterinos. Os estudos variaram de uma redução de risco de 19 a 88%.
- Câncer de colo do útero
Embora estudos mais antigos mostraram um aumento da prevalência de displasia cervical em usuárias de DIU, duas metanálises recentes e um estudo de coorte prospectivo mostraram uma redução no risco de câncer de colo de útero em usuárias de DIU.
Um possível mecanismo que pode justificar essa redução é a reação inflamatória causada pelos dispositivos no canal endocervical e a remoção mecânica de células displásicas com o procedimento de inserção e remoção do DIU.
- Câncer de ovário
Estudos que examinam a relação entre o risco de câncer de ovário e o uso de DIU mostraram resultados conflitantes, embora a tendência seja de redução do risco de câncer de ovário em usuárias de DIU.
Considerando que tanto o DIU-Cu quanto o DIU-LNG causam uma resposta inflamatória que ativa as células imunes locais para atingir as células cancerígenas microscópicas ocultas, os mecanismos biológicos propostos para a redução do câncer de ovário variam de acordo com o tipo de DIU e são semelhantes aos mecanismos observados na redução do risco de outras malignidades ginecológicas Além de criar uma resposta inflamatória local, os DIUs-Cu aumentam o pH do trato reprodutivo, que tem sido associado à prevenção da carcinogênese ao alterar o microambiente cervical para diminuir a infecção por HPV no desenvolvimento de câncer e neoplasia intraepitelial cervical. Como alternativa, DIU-LNG espessa o muco cervical e exerce um efeito antiestrogênico no trato reprodutivo que suprime a proliferação endometrial. Como os DIU-LNG reduzem a menstruação e frequentemente causam amenorréia, em teoria eles podem diminuir a menstruação retrógrada e reduzir o potencial de entrada de células cancerígenas nas trompas de Falópio e na cavidade abdominal. Acredita-se também que a inibição do estrogênio impeça a divisão das células ovarianas e contribua para a redução na carcinogênese.
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Conclusões e mensagem prática
A maioria dos estudos sugere que DIUs de todos os tipos (mesmo com uso de curto prazo) reduzem potencialmente o risco de câncer ginecológico. As evidências apóiam fortemente a redução do risco de câncer de endométrio com o uso do DIU. Embora menos definitivas, as evidências também sugerem redução do risco com o uso do DIU para câncer cervical e ovariano.
Este artigo foi produzido em parceria com a Elsevier, utilizando os conteúdos baseados em evidências disponíveis na plataforma ClinicalKey. Clique aqui para saber mais.
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