Análise de disparidades étnicas do acesso a cirurgias de câncer de ovário
Um estudo analisou o acesso aos serviços de saúde para mulheres acima de 65 anos de idade com câncer de ovário e outros.
A mortalidade por câncer de ovário caiu 33% nos Estados Unidos entre 1976 a 2015. Mesmo assim nem todos os grupos raciais têm se beneficiado de forma igualitária. Enquanto a sobrevida em pacientes brancas tenha melhorado de 35% no período de 1975-1977 para 48% em 2011-2017, entre as pacientes negras permaneceu na casa de 40% aproximadamente.
A sobrevida no câncer de ovário está relacionada também ao acesso a serviços de saúde de qualidade. Vários trabalhos têm trazidos disparidades entre grupos étnicos. O conhecimento dos fatores que impedem o acesso aos serviços de qualidade para todos os grupos raciais é crucial para mitigar as disparidades nas pacientes negras com câncer de ovário.
Métodos
Um estudo americano de fevereiro de 2023 analisou o acesso aos serviços de saúde americanos para mulheres acima de 65 anos de idade no período de 2008 a 2015 com câncer de ovário de quaisquer tipos histológicos. O estudo realizado na Duke University utilizou uma coorte de 12 estados americanos totalizando 8987 mulheres assim distribuídas: 553 (6,2%) hispânicas, 612 (6,8%) negras não hispânicas e 7.822 (87%) brancas não hispânicas. A média de idade foi de 76,8 (7,3) anos.
Resultados
As pacientes brancas tinham altas taxas de câncer ovário epitelial tipo II (6423 pacientes [82,1%]); as negras tiveram mediana do score de comorbidades mais alto (3.0 [2.0-5.0]) em relação população branca (2.0 [1.0-4.0]), além de iniciarem seus tratamentos em estadios mais avançados – estadio IV (247 pacientes [40,4%] vs 2540 pacientes [32,5%]). As pacientes hispânicas foram clinicamente semelhantes às pacientes brancas com exceção das comorbidades maior (3.0 [1.0-5.0]).
Um total de 35 variáveis em três dimensões de viabilidade (capacidade de pagamento), aceitabilidade (experiencia da paciente na qualidade e atendimento clínico dispensado), acessibilidade (tipo, qualidade e volume de serviços) e acomodação (organização regionalizada dos serviços para as necessidades das pacientes). As análises aqui levaram em consideração, na época do diagnóstico, a residência da paciente e acompanhamento até um ano após os tratamentos.
Os desfechos estudados foram o acesso a um oncologista ginecológico e a convocação para cirurgia ovariana. Consultas realizadas entre dois meses antes até seis meses após o diagnóstico foram consideradas como critério de entrada no sistema.
Resultados
Os resultados após os ajustes estatísticos mostraram que pacientes negras (ORa. 0,75; IC 95%, 0,63-0,91) e as hispânicas (ORa 0,81; IC 95%, 0,67 – 0,99) tiveram menos consultas com oncologista ginecológico em relação pacientes brancas, além das negras terem menos indicações cirúrgicas (ORa 0,76; IC 95%, 0,62 – 0,94) após ajustes demográficos e clínicos. Após todo ajuste de modelos mútuos para acessibilidade, disponibilidade e viabilidade necessários, as pacientes negras permaneceram com menor possiblidade de consulta com oncologista ginecológico (ORa 0,80; IC 95%, 0,66 – 0,97) e receber cirurgia (ORa 0,80; IC 95%, 0,65 – 0,99).
Conclusão
O estudo conclui que o acesso aos serviços de melhor qualidade e resolução tem uma disparidade racial nos Estados Unidos que pode estar ligada a alguns fatores: médicos especialistas tendem a ficar mais perto de centros acadêmicos ou de maiores recursos, longe de pacientes de algumas etnias com dificuldade de acesso aos serviços de saúde de modo completo.
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Mensagem prática
Políticas de saúde e estratégias para levar essa medicina especializada até mulheres negras e hispânicas que moram mais longe dos grandes centros podem melhorar a sobrevida através de diagnósticos mais precoces e tratamentos ainda mais curativos do câncer de ovário.
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