SBAD 2022: Controvérsias do supercrescimento bacteriano do intestino delgado
Durante a palestra, um dos pontos de maior destaque foi a relação do supercrescimento bacteriano do intestino delgado e a síndrome do intestino irritável.
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Durante o segundo dia da Semana Brasileira do Aparelho Digestivo, o professor Eamonn Quigley abordou em sua palestra o tema Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado (SCBID). Durante sua apresentação, discutiu-se as principais doenças associadas ao SCBID, a sintomatologia clínica, alterações do microbioma intestinal e o tratamento. A disbiose foi associada a alterações na utilização de vitamina B12, absorção intestinal e resposta imune, além de lesões da mucosa e competição por nutrientes luminais. Como consequências diretas do SCBID, citou-se a má absorção de nutrientes, como a vitamina B12, diarreia associada a desconjugação de ácidos biliares, produção de enterotoxinas, alteração da permeabilidade intestinal e digestão de proteínas. Indiretamente, pode-se destacar ainda o risco aumentado de translocação bacteriana e sepse, hepatopatias como a doença hepática gordurosa não alcoólica e enteropatias imunomediadas.
Quigley apresentou os fatores de proteção contra o SCBID, como a integridade da mucosa, válvula ileocecal, acidez gástrica, atividade motora intestinal e flora comensal. Por outro lado, acloridria, distúrbios de motilidade, alterações anatômicas (como estenoses, divertículos, cirurgia bariátrica, etc), deficiências imunes e insuficiência pancreática exócrina foram associados a maior risco de SCBID. Em estudos de histologia intestinal, se observou redução da relação vilo/cripta em 24% dos pacientes com SCBID versus 7% em controles. Do ponto de vista clínico, os pacientes apresentaram amplo espectro de sintomas, desde assintomáticos, até flatulência, esteatorreia, dor e distensão abdominal e perda de peso.
Durante a palestra, um dos pontos de maior destaque foi a relação de SCBID e síndrome do intestino irritável (SII). Quigley apresentou a heterogeneidade de resultados devido a diferenças em definições de doença e metodologias de pesquisa do SCBID. Segundo Quigley, o excesso de bactérias parece contribuir para alguns dos sintomas de SII, embora não seja a única explicação. Os testes mais utilizados para diagnóstico de SCBID na prática clínica são aqueles que medem os produtos da fermentação bacteriana (hidrogênio e metano) por testes respiratórios. Quigley destacou que a utilização de glicose como substrato para os testes respiratórios apresenta maior especificidade, enquanto a lactulose maior sensibilidade. Outro método, mais restrito a pesquisa, com maior acurácia e invasivo, seria a cultura de aspirado jejunal com crescimento de > 105 UFC/mL. Testes moleculares e de medida dinâmica de gases estão em desenvolvimento.
Com relação ao tratamento do SCBID, algumas medidas devem ser adotadas, como correção da causa base, reposição de micronutrientes e tratamento com antibióticos. Os probióticos e prebióticos surgem como estratégias ainda em pesquisa, mas promissoras. A rifaximina parece ser a melhor escolha de antibiótico, porém ainda com uso restrito pelo alto custo. Quigley apresentou o microbioma duodenal e fecal de pacientes com SII, as quais parecem ser diferentes de controles sadios e modulados pela dieta. Por fim, concluiu-se que o SCBID é um campo aberto para pesquisas e que novos estudos são necessários para melhor compressão dessa condição.
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