O dupilumabe é um anticorpo monoclonal totalmente humano que bloqueia o receptor alfa da interleucina 4 (IL-4rα). Este receptor é compartilhado entre a IL-4 e IL-13, citocinas fundamentais na cascata inflamatória do tipo 2, que se caracteriza pela infiltração tecidual de eosinófilos e mastócitos.
O agente biológico já tem sido empregado como terapia adicional nos seguintes cenários:
- Asma moderada a grave.
- Dermatite atópica;
- Rinossinusite crônica com polipose nasal;
- Prurigo nodular.
Em 2022, houve também a aprovação pelo FDA para o emprego na esofagite eosinofílica (EoE) como uma estratégia de resgate destinada a casos refratários.
Dessa forma, antes de se considerar a prescrição de dupilumabe, é necessário recorrer às terapias de primeira linha, que são eficazes em até 70% dos casos:
- Inibidores da bomba protônica (IBPs) – indicados inclusive para pacientes sem doença do refluxo gastroesofágico;
- Corticoterapia tópica com fluticasona ou budesonida viscosa deglutidas;
- Dieta de eliminação dos 6 elementos (leite, trigo, ovo, soja, amendoim/nozes e peixes/mariscos);
- Dilatação esofágica na presença de estenose.
Tendo-se por base a Diretriz do American College of Gastroenterology, publicado em janeiro de 2025, a evidência para o uso do Dupilumabe entre os casos refratários de EoE pode ser assim classificada:
Faixa etária |
Qualidade da evidência |
Recomendação |
1 a 11 anos |
Baixa |
Condicional |
≥ 12 anos |
Moderada |
Condicional |
Saiba mais: ESPGHAN 2024: Dupilumabe em crianças com esofagite eosinofílica – É eficaz?
Os dois principais estudos que embasaram essas recomendações na faixa etária ≥ 12 anos foram os seguintes:
- “Dupilumab in Adults and Adolescents with Eosinophilic Esophagitis”, publicado em dezembro de 2022 no NEJM.
- “Liberty EoE Treet”, publicado em agosto de 2023 no Lancet Gastroenterology and Hepatology.
O primeiro RCT, de fase 3 e financiado pela indústria farmacêutica, selecionou indivíduos com idade ≥ 12 anos, peso ≥ 40 kg e refratários a 8 semanas de doses altas de IBPs, provenientes das seguintes localidades: EUA, Canadá, Austrália e Europa. Foram excluídos os casos de estenose esofágica com demanda por dilatação ou que impedia a transposição pelo endoscópio convencional no momento da alocação.
A randomização foi realizada na taxa de 1:1:1 para os seguintes grupos:
- Dupilumabe 300 mg SC de 7/7 dias;
- Dupilumabe 300 mg SC de 14/14 dias;
- Placebo.
O tempo de seguimento foi de 24 a 52 semanas.
Os desfechos primários foram remissão histológica (≤ 6 eosinófilos/campo de grande aumento) e mudança no questionário de sintomas de disfagia (DSQ, que varia entre 0 e 84 pontos) em 24 semanas.
A média da idade foi de 30 anos, com predomínio do sexo masculino (aproximadamente 60% de uma amostra de 321 pacientes) e tempo mediano de diagnóstico de 5 anos. Houve elevada taxa de exposição prévia a corticoides tópicos (70%) e um terço dos pacientes já havia realizado ao menos uma sessão de dilatação endoscópica para o manejo de estenose esofágica ao longo da vida.
Desfechos |
Dupilumabe 300 mg SC 7/7 dias |
Dupilumabe 300 mg SC 15/15 dias |
Placebo |
Remissão histológica |
60% (P < 0,001) |
60% (P < 0,001) |
5% |
Questionário de sintomas de disfagia |
-12,32 pontos (IC 95%: -19,11 a -5,54) |
-0,51 (IC 95%: -5,42 a +4,41) |
Comparador |
Eventos adversos |
7 |
1 |
1 |
A remissão histológica foi observada em 60% dos pacientes em uso semanal de dupilumabe, e se sustentou no grupo com espaçamento quinzenal. Entretanto, a melhora da disfagia só foi significativa, em relação ao placebo, para a posologia semanal.
O segundo RCT foi muito semelhante ao primeiro, e corroborou os dados para um tempo de manutenção de 52 semanas, favorecendo a dose semanal de Dupilumabe em detrimento da quinzental.
Em termos de segurança, o dupilumabe foi bem tolerado e não se associou a risco aumentado de infecções, dispensando a triagem prévia para tuberculose latente, HIV ou hepatites virais quando em monoterapia. A imunogenicidade é baixa e os principais efeitos colaterais são dor e eritema no sítio de aplicação, reações alérgicas e artralgia.
Veja também: Panometria esofágica: Aplicação na esofagite eosinofílica
Conclusão e Mensagens práticas
- As terapias de primeira linha para esofagite eosinofílica (EoE) incluem os inibidores da bomba de prótons (IBPs), corticosteroides tópicos, dieta de eliminação e dilatação esofágica
- O dupilumabe é uma nova, promissora e segura opção terapêutica na esofagite eosinofílica (EoE) refratária às terapias de primeira linha, sendo eficaz na remissão histológica e melhora da disfagia quando empregado em dose semanal subcutânea de 300 mg.
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