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Gastroenterologia17 fevereiro 2025

Qual o papel do dupilumabe na esofagite eosinofílica?

O dupilumabe é um anticorpo monoclonal totalmente humano que bloqueia o receptor alfa da interleucina 4 (IL-4rα)
Por Leandro Lima

O dupilumabe é um anticorpo monoclonal totalmente humano que bloqueia o receptor alfa da interleucina 4 (IL-4rα). Este receptor é compartilhado entre a IL-4 e IL-13, citocinas fundamentais na cascata inflamatória do tipo 2, que se caracteriza pela infiltração tecidual de eosinófilos e mastócitos.  

O agente biológico já tem sido empregado como terapia adicional  nos seguintes cenários:  

  • Asma moderada a grave. 
  • Dermatite atópica;  
  • Rinossinusite crônica com polipose nasal; 
  • Prurigo nodular.  

Em 2022, houve também a aprovação pelo FDA para o emprego na esofagite eosinofílica (EoE) como uma estratégia de resgate destinada a casos refratários. 

Dessa forma, antes de se considerar a prescrição de dupilumabe, é necessário recorrer  às terapias de primeira linha, que são eficazes em até 70% dos casos:  

  1. Inibidores da bomba protônica (IBPs) – indicados inclusive para pacientes sem doença do refluxo gastroesofágico 
  2. Corticoterapia tópica com fluticasona ou budesonida viscosa deglutidas;  
  3. Dieta de eliminação dos 6 elementos (leite, trigo, ovo, soja, amendoim/nozes e peixes/mariscos); 
  4. Dilatação esofágica na presença de estenose.  

Tendo-se por base a Diretriz do American College of Gastroenterology, publicado em janeiro de 2025, a evidência para o uso do Dupilumabe entre os casos refratários de EoE pode ser assim classificada:   

Faixa etária 

Qualidade da evidência 

Recomendação 

1 a 11 anos 

Baixa 

Condicional 

≥ 12 anos 

Moderada 

Condicional 

 

Saiba mais: ESPGHAN 2024: Dupilumabe em crianças com esofagite eosinofílica – É eficaz? 

Os dois principais estudos que embasaram essas recomendações na faixa etária ≥ 12 anos foram os seguintes: 

  • Dupilumab in Adults and Adolescents with Eosinophilic Esophagitis”, publicado em dezembro de 2022 no NEJM. 
  • “Liberty EoE Treet”, publicado em agosto de 2023 no Lancet Gastroenterology and Hepatology. 

O primeiro RCT, de fase 3 e financiado pela indústria farmacêutica, selecionou indivíduos com idade ≥ 12 anos, peso ≥  40 kg e refratários a 8 semanas de doses altas de IBPs, provenientes das seguintes localidades: EUA, Canadá, Austrália e Europa. Foram excluídos os casos de estenose esofágica com demanda por dilatação ou que impedia a transposição pelo endoscópio convencional no momento da alocação.   

A randomização foi realizada na taxa de 1:1:1 para os seguintes grupos: 

  • Dupilumabe 300 mg SC de 7/7 dias; 
  • Dupilumabe 300 mg SC de 14/14 dias; 
  • Placebo.  

O tempo de seguimento foi de 24 a 52 semanas.  

Os desfechos primários foram remissão histológica (≤ 6 eosinófilos/campo de grande aumento) e mudança no questionário de sintomas de disfagia (DSQ, que varia entre 0 e 84 pontos) em 24 semanas.  

A média da idade foi de 30 anos, com predomínio do sexo masculino (aproximadamente 60% de uma amostra de 321 pacientes) e tempo mediano de diagnóstico de 5 anos. Houve elevada taxa de exposição prévia a corticoides tópicos (70%) e um terço dos pacientes já havia realizado ao menos uma sessão de dilatação endoscópica para o manejo de estenose esofágica ao longo da vida.  

 

Desfechos 

Dupilumabe 300 mg SC 7/7 dias 

Dupilumabe 300 mg SC 15/15 dias 

Placebo 

Remissão histológica 

60% (P < 0,001) 

60% (P < 0,001) 

5% 

Questionário de sintomas de disfagia 

-12,32 pontos (IC 95%: -19,11 a -5,54) 

-0,51 (IC 95%: -5,42 a +4,41) 

Comparador 

Eventos adversos 

7 

1 

1 

A remissão histológica foi observada em 60% dos pacientes em uso semanal de dupilumabe, e se sustentou no grupo com espaçamento quinzenal. Entretanto, a melhora da disfagia só foi significativa, em relação ao placebo, para a posologia semanal.  

O segundo RCT foi muito semelhante ao primeiro, e corroborou os dados para um tempo de manutenção de 52 semanas, favorecendo a dose semanal de Dupilumabe em detrimento da quinzental.  

Em termos de segurança, o dupilumabe foi bem tolerado e não se associou a risco aumentado de infecções, dispensando a triagem prévia para tuberculose latente, HIV ou hepatites virais quando em monoterapia. A imunogenicidade é baixa e os principais efeitos colaterais são dor e eritema no sítio de aplicação, reações alérgicas e artralgia. 

Veja também: Panometria esofágica: Aplicação na esofagite eosinofílica

Conclusão e Mensagens práticas 

  • As terapias de primeira linha para esofagite eosinofílica (EoE) incluem os inibidores da bomba de prótons (IBPs), corticosteroides tópicos, dieta de eliminação e dilatação esofágica 
  • O dupilumabe é uma nova, promissora e segura opção terapêutica na esofagite eosinofílica (EoE) refratária às terapias de primeira linha, sendo eficaz na remissão histológica e melhora da disfagia quando empregado em dose semanal subcutânea de 300 mg.   

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Referências bibliográficas

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