Gastroenterites agudas (GEA) são ocasionadas, singularmente, por certos grupos de vírus que são eliminados pelas fezes em quantias significativas, se dispersam com facilidade e são resistentes a temperaturas mais elevadas. Em geral, a população pediátrica é mais afetada pela gastroenterite aguda devido ao sistema imunológico ainda em desenvolvimento.
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O norovírus é considerado, atualmente, o principal agente etiológico da GEA em todas as faixas etárias. É um vírus altamente transmissível e estima-se que cause 1/5 de todos os casos de GEA e mais de 200.000 óbitos em todo o mundo, com maior impacto ocorrendo em crianças de países de baixa e média renda.
Especialmente após a introdução global da vacina contra o rotavírus, os norovírus foram considerados a causa mais importante de surtos de GEA viral. Esses surtos são frequentemente relatados em ambientes semifechados e fechados, como hospitais, navios de cruzeiro, instituições de longa permanência e escolas.
Manifestações clínicas da infecção pelo norovírus
Quadro 1 – Manifestações clínicas da infecção pelo norovírus |
Início abrupto de vômitos acompanhados de diarreia aquosa, cólicas abdominais e náuseas. Pode ocorrer diarreia aguda sem vômito, principalmente em crianças. |
Manifestações sistêmicas, incluindo febre, mialgia, mal-estar, anorexia e cefaleia, podem acompanhar os sintomas do trato gastrointestinal. |
Os sintomas podem durar de 24 a 60 horas, mas geralmente não mais do que 48 horas. Cursos mais prolongados podem ocorrer, particularmente entre idosos, crianças pequenas e pacientes hospitalizados. |
O norovírus é importante causa de gastroenterite crônica em imunocomprometidos. |
Fonte: Adaptado de Committee On Infectious Diseases, American Academy Of Pediatrics, 2018. [3]
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O período de incubação é de 12 a 48 horas. O derramamento viral pode começar antes do início dos sintomas, atinge o pico vários dias após a exposição e pode persistir por 4 semanas ou mais. Excreção prolongada (> 6 meses) foi relatada em hospedeiros imunocomprometidos.
Outros vírus, como rotavírus, astrovírus, calicivírus e os vírus das hepatites A e E, são agentes etiológicos de inúmeras complicações. A principal forma de transmissão desses agentes é através do contato com fezes contaminadas. Além disso, destaca-se a ocorrência de outros patógenos, como as bactérias Escherichia coli, Salmonella e Shigella, e os parasitas Cryptosporidium, Cyclospora e Giardia.
Fatores de risco para a ocorrência de diarreia aguda no verão
Quadro 2 – Fatores de risco para a ocorrência de diarreia aguda no verão |
Ingestão de alimentos preparados sem higiene e/ou mantidos sem refrigeração, comercializados, na maioria das vezes, sem licença da vigilância sanitária. |
Consumo de ostras e outros frutos do mar crus ou cuja procedência não é conhecida. |
Consumo de gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água de procedência desconhecida e clandestina. |
Consumo de produtos que podem ter sido preparados com água contaminada, de bica ou de poços, ou sem a higiene necessária. |
Hábito de levar alimentos preparados para praia ou acampamentos sem conservação térmica adequada (resfriamento ou reaquecimento adequados), deixando esses alimentos em temperatura ambiente, o que favorece a multiplicação de microrganismos e toxinas. |
Banho em praias impróprias, ou em rios/córregos poluídos, não liberados para lazer. Em temporada de chuvas e de enchentes, esse fator de risco se agrava, pois se espalham para as coleções hídricas, lixo, restos de alimentos, esgoto etc., aumentando as áreas com poluição. |
Interrupção no fornecimento de água de abastecimento público, problemas no tratamento da água ou acidentes na rede de distribuição, que podem favorecer a entrada de microrganismos e sua contaminação. |
Fonte: Adaptado de Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES/SP, 2010 [4]
Dessa forma, as seguintes medidas de prevenção são recomendadas:
- Lavagem regular das mãos;
- Desinfetar superfícies com cloro ou com água sanitária;
- Lavagem adequada dos alimentos;
- Consumo de água tratada (ferver, se necessário).
A capacidade do norovírus de sobreviver a níveis relativamente altos de cloro e temperaturas variáveis (de congelamento a 60 °C) significa atenção rigorosa aos procedimentos de limpeza, sendo as higienes pessoal e doméstica essenciais para prevenir novas transmissões.
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Piscinas: alerta do CDC
No verão, as piscinas são perfeitas para distrair crianças e seus pais e também para refrescar um pouco. No entanto, infelizmente podem ser um foco importante para viroses, conforme o alerta “Clean It Up, Swimmers” (em tradução literal “Limpe tudo, nadadores”) do órgão americano Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Apesar de a limpeza da maioria das piscinas ser feita com cloro, alguns germes ainda sobrevivem por tempo prolongado (eles chegam na piscina através da pele dos usuários). Os produtos químicos para a limpeza das piscinas também decompõem fezes, urina e suor, ficando menos disponíveis para deteriorar os microrganismos infecciosos.
De acordo com o CDC, um nadador de porte médio pode trazer para a piscina a seguinte quantidade de micróbios ou sujeira conforme a área do corpo ou eliminações fisiológicas:
- Cabelo: 10 milhões;
- Mãos: 5 milhões;
- Fezes: 140 bilhões;
- Nariz, boca, pele: bilhões;
- Suor: quantidade equivalente a uma ou duas latas de refrigerante;
- Urina: quantidade equivalente a uma xícara;
Uma criança: 10 gramas de fezes, com 10 trilhões de micróbios.
O uso de produtos, como loções, sabonetes e bronzeadores também pode carrear esses elementos.
O CDC também destaca a quantidade dessa água que é engolida em 45 minutos de natação (o suficiente para a transmissão de doenças):
- Adultos: 1 colher de sopa;
- Crianças: 2 e ½ colheres de sopa.
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As seguintes medidas são orientadas pelo CDC para se evitar a transmissão de doenças:
- Orientar a população a não usar a piscina se apresentar sintomas, como diarreia;
- Orientar os usuários a tomar banho antes de entrar na água;
- Orientar os usuários a não urinar ou defecar na água;
- Orientar os usuários a não engolir a água.
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