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Gastroenterologia30 novembro 2021

Eructações (arrotos): como abordar?

Eructações, conhecidas popularmente como arrotos, constituem um fenômeno comum e benigno, mas que, em excesso, pode se tornar patológico.

Eructações, conhecidas popularmente como arrotos, constituem um fenômeno comum e benigno, mas que, quando em excesso, pode se tornar patológico e interferir drasticamente na qualidade de vida do paciente. Estima-se que 0,7-1% da população apresente eructação patológica. Essa prevalência é maior em pacientes portadores de doenças funcionais, como síndrome do intestino irritável e dispepsia, acometendo até 50-80% desses indivíduos.

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Eructações (arrotos): como abordar?

O que é a eructação?

A eructação é definida como um escape de ar audível proveniente do esôfago ou estômago na direção da faringe. Baseado nos critérios de ROMA IV, a eructação é considerada patológica quando impacta nas atividades de vida diária do indivíduo mais de 3 vezes por semana, nos últimos 3 meses, sendo os sintomas iniciados pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. Pode ser subdividida em eructação supragástrica, quando o escape de ar é proveniente do esôfago, ou gástrica, quando o ar escapa do estômago.

Fisiopatologia

Os mecanismos associados a eructação supragástrica e gástrica são distintos:

  • Supragástrica: o ar entra no esôfago por sucção associado a pressão intratorácica negativa por movimento do diafragma ou por aumento da pressão faríngea. Não é associado a redução na pressão do esfíncter esofagiano inferior, mas ao relaxamento do esfíncter superior que precede a passagem retrógrada de ar pelo esôfago. É considerada uma patologia associada ao comportamento e que resulta em eructação de repetição. Refeições habitualmente não desencadeiam eructações supragástricas e os sintomas tendem a reduzir com a distração do paciente. Os sintomas não estão presentes durante o sono e os pacientes não deglutem ar mais frequentemente que indivíduos sadios.
  • Gástrica: representa uma resposta fisiológica a distensão gástrica e, geralmente, resulta do relaxamento transitório pós-prandial do esfíncter esofagiano inferior. Diferentemente da eructação supragástrica, pode se associar a aerofagia (deglutição excessiva de ar).

Condições associadas

  • Supragástrica: doença do refluxo gastroesofágico, transtornos de ansiedade, bulimia, síndrome de ruminação, transtorno obsessivo-compulsivo, cirurgia antirrefluxo, esôfago sensível ao refluxo.
  • Gástrica: doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia funcional, aerofagia.

Diagnóstico

O diagnóstico de provável eructação supragástrica pode ser estabelecido clinicamente em pacientes com história de eructações excessivas e repetitivas que melhoram com a distração ou com o sono. A endoscopia digestiva alta deve ser reservada para pacientes com sinais de alarme. Na presença de dúvida diagnóstica está indicada a realização de pHimpedanciometria. A impedanciometria permite a medida da impedância da corrente elétrica entre pares de eletrodos. A presença de líquido no esôfago causa diminuição da impedância, enquanto a presença de ar causa aumento. A eructação supragástrica é caracterizada por aumentos abruptos na impedância (de 1000Ω ou mais) progredindo na direção descendente, com um rápido retorno à impedância basal movendo-se na direção oposta, significando que o ar entra rapidamente e depois sai do esôfago sem cruzar o esfíncter esofagiano inferior . Já a eructação gástrica é caracterizada por movimento de ar retrógado emanado do estômago que progride na direção ascendente.

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Tratamento

  • Supragástrica: o paciente deve ser abordado quando a benignidade do quadro e orientado quanto ao mecanismo associado a eructação. O quadro pode estar associado a transtorno psiquiátrico primário, o qual deve ser tratado. Terapia cognitivo-comportamental e apoio da fonoaudiologia podem ser de grande valia. Recomenda-se tratamento de doença do refluxo gastroesofágico e dispepsia se presentes. Deve-se ainda orientar o paciente quanto a técnicas de respiração diafragmática, as quais podem ajudar no controle das eructações.
  • Gástrica: modificações dietéticas e comportamentais visando a redução de aerofagia devem ser instituídas (ex: evitar alimentos gaseificados, comer devagar, evitar fumar e mascar chicletes). Baclofeno pode ser utilizado para reduzir a frequência de relaxamento do esfíncter esofagiano inferior e de deglutições por mecanismo central. Terapia fonoaudiológica e técnicas de respiração diafragmática também podem auxiliar no controle do quadro.

Referências bibliográficas:

  • Rangan V et al. Belching: Pathogenesis, Clinical Characteristics, and Treatment Strategies. J Clin Gastroenterol. 2021 (ahead of print). doi: 10.1097/MCG.0000000000001631.
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