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Endocrinologia31 outubro 2024

Lesão hepática associada à nutrição parenteral

A injúria hepática é uma complicação relativamente comum em pacientes que recebem nutrição parenteral (NP) podendo ser manifestada de diferentes formas.

A NP é usada na prática clínica em adultos e em crianças quando há disfunção do trato gastrointestinal (TGI) e o paciente não tem condições de receber alimentação por via oral ou enteral como por exemplo em: obstrução intestinal, fístulas gastrointestinais, perfuração ou deiscência de anastomose intestinal ou em casos de má formação de TGI.  

Doença hepática associada à insuficiência intestinal (do inglês, intestinal failure-associated liver disease ou IFALD) é um termo mais genérico à doença hepática associada a nutrição parenteral e é definida como um um dano hepático resultante de falência intestinal na ausência de doença hepática parenquimatosa primária e fatores hepatotóxicos. E é uma complicação relativamente comum em paciente recebendo nutrição parenteral (NP) podendo ser manifestada como diferentes tipos de injúria hepática, incluindo esteatose, colestase e fibrose; podendo resultar até em falência hepática em alguns casos. 

A injúria hepática relacionada ao uso de NP parece ser multifatorial e sua etiologia não é totalmente esclarecida. Mas o artigo sugere que pode ser decorrente de excesso de caloria ofertada, de deficiência nutricional, além da relação entre ômega-6 e ômega-3 das soluções lipídicas das fórmulas de NP.  

Veja também: Quando indicar a nutrição parenteral em pacientes graves?

Metodologia 

Esse é um artigo de revisão publicado na revista Toxicological Sciences em fevereiro de 2024 com objetivo de fornecer uma visão abrangente de todos os aspectos relevantes inerentes a doença hepática associada à insuficiência intestinal. 

A IFALD é mais comum em pacientes recebendo NP por um período maior do que duas semanas e, de acordo com a literatura, sua incidência pode variar entre 25% e 90% sendo colestase a manifestação mais comum. Além disso, a taxa de mortalidade por chegar a 15%-34% em 4 anos por decorrência de doença hepática terminal. 

O diagnóstico deve ser feito excluido-se outras condições com manifestações clinicas semelhantes como: hepatite isquêmica, sepse, insuficiência cardíaca aguda, colecistite, hepatites virais (agudas e crônicas), trombose de vasos hepáticos, colangite esclerosante primária, ou lesão hepática induzida por drogas. Além disso, é importante diferenciar IFALD de esteatose hepática metabólica. 

Resultados 

Os fatores de risco relacionados à IFALD são vários. Referente àqueles relacionados à NP: 

  • excesso de calorias e taxa de infusão da NP;  
  • Composição lipídica das soluções de NP (ex: maior relação ômega-6 para ômega-3, soluções com óleo de soja 
  • Excesso de elementos-traço como cobre, alumínio e manganês. 
  • Deficiências nutricionais de aminoácidos essenciais, ácidos graxos essenciais e vitaminas 

Àqueles relacionados ao paciente: 

  • Ausência de dieta enteral 
  • Microbiota intestinal e síndrome do intestino curto 
  • Infecções de corrente sanguínea associado ao cateter central 

Conclusão 

Apesar de a NP ser uma intervenção com potencial de salvar vidas quando há comprometimento do TGI para adequado processamento dos alimentos, a IFALD pode representar uma das mais graves complicações dessa terapêutica. Uma das formas mais eficazes de evitar tal complicação é prevenindo sepse decorrente de infecção de corrente sanguínea, otimizar a fórmula da NP assim como sua taxa de infusão. Mais pesquisas sobre a segurança da NP são necessárias, com especial enfoque nos estudos sobre desenvolvimento de novas oportunidades terapêuticas de IFALD e a melhoria das fórmulas PN.

Autoria

Foto de Letícia Japiassú

Letícia Japiassú

Médica endocrinologista com Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (2008) e especialização pela Associação Brasileira de Nutrologia (2020). Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2006).

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Referências bibliográficas

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