A NP é usada na prática clínica em adultos e em crianças quando há disfunção do trato gastrointestinal (TGI) e o paciente não tem condições de receber alimentação por via oral ou enteral como por exemplo em: obstrução intestinal, fístulas gastrointestinais, perfuração ou deiscência de anastomose intestinal ou em casos de má formação de TGI.
Doença hepática associada à insuficiência intestinal (do inglês, intestinal failure-associated liver disease ou IFALD) é um termo mais genérico à doença hepática associada a nutrição parenteral e é definida como um um dano hepático resultante de falência intestinal na ausência de doença hepática parenquimatosa primária e fatores hepatotóxicos. E é uma complicação relativamente comum em paciente recebendo nutrição parenteral (NP) podendo ser manifestada como diferentes tipos de injúria hepática, incluindo esteatose, colestase e fibrose; podendo resultar até em falência hepática em alguns casos.
A injúria hepática relacionada ao uso de NP parece ser multifatorial e sua etiologia não é totalmente esclarecida. Mas o artigo sugere que pode ser decorrente de excesso de caloria ofertada, de deficiência nutricional, além da relação entre ômega-6 e ômega-3 das soluções lipídicas das fórmulas de NP.
Veja também: Quando indicar a nutrição parenteral em pacientes graves?
Metodologia
Esse é um artigo de revisão publicado na revista Toxicological Sciences em fevereiro de 2024 com objetivo de fornecer uma visão abrangente de todos os aspectos relevantes inerentes a doença hepática associada à insuficiência intestinal.
A IFALD é mais comum em pacientes recebendo NP por um período maior do que duas semanas e, de acordo com a literatura, sua incidência pode variar entre 25% e 90% sendo colestase a manifestação mais comum. Além disso, a taxa de mortalidade por chegar a 15%-34% em 4 anos por decorrência de doença hepática terminal.
O diagnóstico deve ser feito excluido-se outras condições com manifestações clinicas semelhantes como: hepatite isquêmica, sepse, insuficiência cardíaca aguda, colecistite, hepatites virais (agudas e crônicas), trombose de vasos hepáticos, colangite esclerosante primária, ou lesão hepática induzida por drogas. Além disso, é importante diferenciar IFALD de esteatose hepática metabólica.
Resultados
Os fatores de risco relacionados à IFALD são vários. Referente àqueles relacionados à NP:
- excesso de calorias e taxa de infusão da NP;
- Composição lipídica das soluções de NP (ex: maior relação ômega-6 para ômega-3, soluções com óleo de soja
- Excesso de elementos-traço como cobre, alumínio e manganês.
- Deficiências nutricionais de aminoácidos essenciais, ácidos graxos essenciais e vitaminas
Àqueles relacionados ao paciente:
- Ausência de dieta enteral
- Microbiota intestinal e síndrome do intestino curto
- Infecções de corrente sanguínea associado ao cateter central
Conclusão
Apesar de a NP ser uma intervenção com potencial de salvar vidas quando há comprometimento do TGI para adequado processamento dos alimentos, a IFALD pode representar uma das mais graves complicações dessa terapêutica. Uma das formas mais eficazes de evitar tal complicação é prevenindo sepse decorrente de infecção de corrente sanguínea, otimizar a fórmula da NP assim como sua taxa de infusão. Mais pesquisas sobre a segurança da NP são necessárias, com especial enfoque nos estudos sobre desenvolvimento de novas oportunidades terapêuticas de IFALD e a melhoria das fórmulas PN.
Autoria
Letícia Japiassú
Médica endocrinologista com Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (2008) e especialização pela Associação Brasileira de Nutrologia (2020). Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2006).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.