A desordem do desejo sexual hipoativo (DSH) em mulheres na pós-menopausa que já receberam terapia hormonal otimizada, mas continuam com queixas de disfunção sexual, permanece como a única indicação formal de reposição de testosterona no público feminino, segundo diferentes diretrizes, incluindo o posicionamento da SBEM (2019). Entre as formas de tratamento disponíveis, a testosterona em gel feminino tem ganhado destaque como a forma mais adequada de reposição.
Com o intuito de orientar a prática clínica na hora da prescrição, a The North American Menopause Society (NAMS) publicou, em 2023, um documento com recomendações detalhadas sobre o tema. A seguir, estão os principais pontos destacados pelas autoras.
Qual formulação de testosterona utilizar em casos de DSH?
A testosterona em gel feminino, na formulação transdérmica, é atualmente a única opção recomendada para o tratamento da desordem do desejo sexual hipoativo em mulheres, por ser considerada a via mais fisiológica e segura.
Por outro lado, as apresentações intramusculares e os implantes subcutâneos devem ser evitados, já que podem levar a níveis séricos suprafisiológicos. Já as preparações orais são contraindicadas devido ao risco de hepatotoxicidade.
Qual dose prescrever?
A dose recomendada de testosterona em gel para mulheres no tratamento da DDSH corresponde a 10% da dose usual masculina de testosterona transdérmica, ou seja, 5 mg/dia.
Na prática, isso equivale à prescrição de testosterona em gel a 1% (10 mg/dia), orientando a paciente a aplicar 0,5 ml do gel ao dia. Atualmente, apenas a Austrália dispõe dessa formulação de forma comercial; nos demais países, inclusive no Brasil, a alternativa disponível é a manipulação farmacêutica.
Ponto de atenção
Outra possibilidade seria utilizar 10% da dose de uma preparação transdérmica masculina de testosterona. No entanto, essa prática é mais complexa e aumenta o risco de erro na aplicação, resultando em níveis séricos suprafisológicos, o que compromete a segurança no tratamento.
Como aplicar a testosterona em gel
As recomendações atuais indicam que a aplicação da testosterona em gel feminino deve ser feita em áreas como panturrilha, região externa da coxa ou glúteos. É fundamental orientar a paciente a evitar o contato do produto com a pele de crianças, outras mulheres ou animais de estimação. O risco de exposição acidental para um parceiro masculino é considerado mínimo.
Como avaliar a resposta ao tratamento
A resposta ao tratamento da DDSH com testosterona em gel feminino é avaliada clinicamente, observando o aumento do desejo sexual e a redução do sofrimento associado à disfunção sexual. A melhoria surge entre 6 a 8 semanas, com efeito máximo em torno de 12 semanas. Caso não haja resposta em até 6 meses, o tratamento deve ser descontinuado.
Como monitorar o tratamento
No tratamento com testosterona em gel feminino, recomenda-se a dosagem da testosterona total quando houver indicação de reposição, a fim de registrar os níveis basais para acompanhamento. Após o início da terapia, deve-se repetir a dosagem entre 3 a 6 semanas.
Os níveis séricos não devem ultrapassar o limite superior da normalidade. Em caso de valores suprafisiológicos, a dose deve ser reduzida. Após a estabilização, a monitorização pode ser realizada a cada 4 a 6 meses.
A dosagem de testosterona livre não é necessária, mas recomenda-se a dosagem inicial de SHBG. Valores elevados dessa globulina podem indicar menor resposta clínica, mas não justificam o aumento da dose.
É fundamental monitorar sinais clínicos de hiperandrogenismo (como acne e hirsutismo) e ajustar a reposição, se necessário. Função hepática e perfil lipídico também devem ser avaliados no basal e ao longo do seguimento
Qual o tempo de tratamento ideal
Caso não ocorra resposta com 6 meses de tratamento, a testosterona em gel deve ser suspensa por ineficácia. Se, por outro lado, houver resposta, ela deve ser mantida, mas devemos considerar drug holiday após 12 meses de tratamento, para reavaliar a função sexual e a necessidade de continuar a reposição. Em caso de piora, reiniciar e manter o seguimento adequado.
Limitações e segurança do tratamento
É fundamental esclarecer às pacientes que ainda não existem estudos de longo prazo que comprovem a segurança da reposição de testosterona em mulheres com DDSH. Até que novas evidências estejam disponíveis, o uso da testosterona em gel deve ser restrito a casos específicos e bem selecionados, sempre com monitorização clínica ao longo do tratamento.
*Este conteúdo foi atualizado em: 22/09/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
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