Fístulas do trato gastrointestinal alto: Como abordá-las?
Destacam-se três principais mecanismos fisiopatogênicos: malignidades, processos inflamatórios ou iatrogênicos, os últimos secundários a intervenções endoscópicas, cirúrgicas (fístulas anastomóticas, com destaque para as cirurgias bariátricas) ou radioterápicas. As fístulas do TGI alto podem ser classificadas como internas, quando comunicam dois órgãos internos, como é o caso das fístulas traqueoesofágicas, esofagopleurais e esofagoatriais; ou externas, quando há comunicação com a superfície corporal externa, a exemplo das fístulas esôfagocutâneas.
Quando suspeitar das fístulas do TGI alto? |
Em pacientes com histórico de manipulação cirúrgica, endoscópica ou radioterápica do TGI alto, bem como suspeita de processos inflamatórios ou malignidades nessa topografia, os sinais de alarme incluem:
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A partir da suspeição clínica, deve-se ampliar a propedêutica com exames seccionais de imagem, fistulgrama e radiografia contrastada do TGI. A endoscopia digestiva, por sua vez, costumeiramente é útil para a confirmação da localização e caracterização das dimensões e anatomia do óstio fistuloso.
A abordagem é desafiadora, trazendo a necessidade de cuidados multidisciplinares e terapia personalizada, baseada na avaliação por exames radiológicos e endoscópicos do trajeto fistuloso, levando-se em conta as condições clínicas, cronologia dos eventos e anatomia do defeito mucoso. O objetivo final do tratamento é o restabelecimento da continuidade e integridade do TGI.
Manejo suportivo das fístulas do TGI alto |
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Um grande avanço tem sido observado, nos últimos anos, em relação à endoscopia terapêutica avançada e minimamente invasiva, contornando, parcialmente, a morbidade das intervenções cirúrgicas tradicionais.
Os clipes convencionais (through-the-scope), introduzidos e disparados pelos canais de trabalho dos endoscópios, podem ser de valia diante de óstios fistulosos de até 10 mm, embora a sua eficácia seja limitada na presença de inflamação e fibrose adjacentes.
Os clipes também podem ser ancorados externamente aos endoscópicos (over-the-scope) , por meio de caps, a semelhança do que é feito nas ligaduras elásticas. O dispositivo permite uma abertura mais ampla e maior força de fechamento, permitindo o fechamento de espessura total da parede do TGI e oclusão de defeitos maiores, de até 2 cm (Ovesco®: https://www.youtube.com/watch?v=jvxRmm3r1-s). Questiona-se a elevada taxa de recidiva nos defeitos crônicos.
Os stents luminais, sejam os plásticos, metálicos ou biodegradáveis, apresentam excelentes desfechos clínicos, contudo a passagem exige a combinação de fluoroscopia e endoscopia, geralmente sob anestesia geral. Os stents precisam ser totalmente ou parcialmente recobertos, para selar o óstio fistuloso. As suas vantagens incluem a retomada precoce da dieta oral, com redução do tempo de internação e da mortalidade em relação ao tratamento conservador. A desvantagem é que se faz necessária a remoção em 4 a 5 semanas, por exceção dos biodegradáveis.
Os principais fatores desfavoráveis à terapia com stent incluem a localização da fístula no esôfago proximal, a necessidade de posicionamento do mesmo na transição esofagogástrica, a presença de defeitos com diâmetro superior a 6 cm ou extravasamento anastomótico distal.
Nas fístulas pós-gastrectomia vertical laparoscópica, os fatores de sucesso para a inserção de stents luminais são a ausência de histórico de cirurgia de banda gástrica, óstios fistulosos inferiores a 1 cm, intervalo curto entre a cirurgia bariátrica e o desenvolvimento da fístula (≤ 3 dias) e entre o diagnóstico da fístula e a primeira endoscopia (≤ 21 dias).
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Os principais eventos adversos dos stents são a migração, ruptura, impactação por alimentos, ulceração da mucosa, perfuração, sangramento e crescimento tecidual no interior de sua trama.
A técnica de sutura endoscópica é um procedimento tecnicamente desafiador e que demanda um elevado nível de treinamento, podendo ser associada a outras técnicas, como os stents luminais, reduzindo a taxa de migração dos mesmos.
A terapia a vácuo endoluminal consiste em aplicação de pressão negativa ao defeito mucoso ou à cavidade por ele nutrida, aproximado as margens e favorecendo o seu fechamento. Uma esponja é alocada à cavidade e acoplada a um tubo nasogástrico, sendo esse conectado a um gerador de vácuo.
Os adesivos teciduais, como a cola de fibrina e o cianoacrilato, podem ser especialmente úteis nas fístulas de baixo débito.
A drenagem interna endoscópica, pautada na inserção de stents double pigtail através do trato fistuloso, viabiliza a drenagem das coleções para o lúmen do TGI, enquanto serve como um guia para a reepitelização.
Uma boa perspectiva futura é relacionada com a injeção submucosa de fração vascular estromal obtida por meio da emulsificação mecânica de tecido adiposo autólogo, injetada nos 4 quadrantes das margens da fístula, com eficácia de 100% em uma pequena amostra de 5 pacientes. Outra terapia promissora, adaptada da hemodinâmica, é o dispositivo de oclusão septal cardíaco, com a finalidade de vedação dos defeitos mucosos do TGI.
Conclusão e mensagens práticas
- As fístulas do trato gastrointestinal (TGI) alto são complexas, desafiadoras e atreladas à elevada morbimortalidade.
- Os principais mecanismos incluem as malignidades, inflamações crônicas e iatrogenias.
- A suspeita deve partir da presença de febre, sepse, tosse, dispneia ou drenagem cutânea de conteúdo purulento na presença dos fatores de risco.
- A propedêutica inclui os exames seccionais de imagem, fistulograma, radiografia contrastada do TGI e endoscopia digestiva.
- A abordagem deve ser multiprofissional e personalizada.
- As medidas suportivas gerais incluem ressuscitação volêmica, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, antibioticoterapia, drenagem de coleções profundas e terapia nutricional.
- A endoscopia terapêutica avançada e minimamente avançada tem revolucionado o manejo, contornando, parcialmente, a morbidade das intervenções cirúrgicas tradicionais.
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