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Endocrinologia29 junho 2024

ICO 2024: Distribuição de gordura corporal e alterações metabólicas

O que o estudo da lipodistrofia parcial familiar pode ensinar sobre essa associação em pessoas com obesidade?
Por Raquel Muniz

Na avaliação de pessoas com obesidade, percebemos uma diferença importante na prevalência de alterações metabólicas. Enquanto alguns pacientes apresentam obesidade sem alterações metabólicas, outros podem ter diabetes de difícil controle e hipertrigliceridemia apesar de um IMC mais baixo.

A compreensão dessa variabilidade vem em estudo e, provavelmente, apresenta mais de uma explicação, mas parte significativa dessa resposta pode ser encontrada na distribuição de gordura corporal. Nesse sentido, o estudo da lipodistrofia parcial familiar nos ajuda a compreender a prevalência de síndrome metabólica associada à obesidade.

Uma sessão do Congresso Internacional de Obesidade, ICO 2024, abordou o tema.

Definição de lipodistrofia parcial familiar (LPF)

A LPF se caracteriza pela perda de tecido adiposo subcutâneo em membros superiores e inferiores, até a região glútea, e acúmulo variável em face, pescoço e região intra-abdominal. Classicamente, se desenvolve no final da infância ou logo após a puberdade.

Como consequência da deficiência de tecido adiposo subcutâneo, ocorre acúmulo ectópico de um tecido adiposo disfuncional, primariamente no compartimento visceral e em órgãos como: fígado, pâncreas, tecido epicárdico, músculo – entre outros. O acúmulo ectópico de gordura e processo inflamatório associado a esse depósito se associa ao desenvolvimento de complicações metabólicas, entre as quais destacam-se: diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertrigliceridemia, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e doença hepática esteatótica associada a disfunção metabólica (DHEADM).

A LPF apresenta origem genética. Atualmente existem sete subtipos descritos, incluindo a lipodistrofia parcial familiar do tipo 1, que tem provável origem poligênica e outras formas de origem monogênica. Entre as formas monogênicas, a mais frequente é a LPF tipo 2, causada por mutação no gene LMNA, conhecida como síndrome de dunnigan.

Diagnóstico da LPF

O principal ponto para o diagnóstico é a identificação da escassez de gordura em membros inferiores que pode ser feita, no exame físico, pela medida da prega do terço médio de coxa a partir de um plicômetro, com identificação da prega < 22 mm em mulheres e < 10 mm em homens. Além da escassez de gordura em membros inferiores, podemos observar maior acúmulo em face, pescoço e região supraclavicular.

Em associação ao fenótipo de lipodistrofia, devemos buscar as alterações metabólicas, como sinais de resistência a insulina, hipertrigliceridemia e esteatose hepática. Considerando ser uma condição de origem genética, importante também atenção à história familiar, se há história de consanguinidade, e se há familiares com o mesmo fenótipo e história de alterações metabólicas.

Alterações metabólicas na lipodistrofia e obesidade

Pacientes com lipodistrofia parcial familiar geralmente apresentam um conjunto de alterações metabólicas, de gravidade variável, mas frequentemente com consequências como doenças cardiovasculares e desfechos hepáticos negativos, como fibrose e cirrose associada à esteatose hepática.

Da mesma forma, pacientes com obesidade que apresentem distribuição de gordura com predomínio de acúmulo abdominal e menor acúmulo em pernas, terão maior risco de desfechos cardiovasculares e hepáticos associados à maior gravidade de alterações metabólica.

Conclusão para a prática clínica

Percebemos então a necessidade de termos atenção à distribuição de gordura corporal. A detecção precoce da lipodistrofia e da obesidade com perfil corporal “lipodistrophy-like” podem levar a otimização do tratamento, com foco em medicações com capacidade de redução da resistência à insulina e redução de risco cardiovascular.

Confira outros destaques da cobertura do ICO 2024:

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