Na avaliação de pessoas com obesidade, percebemos uma diferença importante na prevalência de alterações metabólicas. Enquanto alguns pacientes apresentam obesidade sem alterações metabólicas, outros podem ter diabetes de difícil controle e hipertrigliceridemia apesar de um IMC mais baixo.
A compreensão dessa variabilidade vem em estudo e, provavelmente, apresenta mais de uma explicação, mas parte significativa dessa resposta pode ser encontrada na distribuição de gordura corporal. Nesse sentido, o estudo da lipodistrofia parcial familiar nos ajuda a compreender a prevalência de síndrome metabólica associada à obesidade.
Uma sessão do Congresso Internacional de Obesidade, ICO 2024, abordou o tema.
Definição de lipodistrofia parcial familiar (LPF)
A LPF se caracteriza pela perda de tecido adiposo subcutâneo em membros superiores e inferiores, até a região glútea, e acúmulo variável em face, pescoço e região intra-abdominal. Classicamente, se desenvolve no final da infância ou logo após a puberdade.
Como consequência da deficiência de tecido adiposo subcutâneo, ocorre acúmulo ectópico de um tecido adiposo disfuncional, primariamente no compartimento visceral e em órgãos como: fígado, pâncreas, tecido epicárdico, músculo – entre outros. O acúmulo ectópico de gordura e processo inflamatório associado a esse depósito se associa ao desenvolvimento de complicações metabólicas, entre as quais destacam-se: diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertrigliceridemia, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e doença hepática esteatótica associada a disfunção metabólica (DHEADM).
A LPF apresenta origem genética. Atualmente existem sete subtipos descritos, incluindo a lipodistrofia parcial familiar do tipo 1, que tem provável origem poligênica e outras formas de origem monogênica. Entre as formas monogênicas, a mais frequente é a LPF tipo 2, causada por mutação no gene LMNA, conhecida como síndrome de dunnigan.
Diagnóstico da LPF
O principal ponto para o diagnóstico é a identificação da escassez de gordura em membros inferiores que pode ser feita, no exame físico, pela medida da prega do terço médio de coxa a partir de um plicômetro, com identificação da prega < 22 mm em mulheres e < 10 mm em homens. Além da escassez de gordura em membros inferiores, podemos observar maior acúmulo em face, pescoço e região supraclavicular.
Em associação ao fenótipo de lipodistrofia, devemos buscar as alterações metabólicas, como sinais de resistência a insulina, hipertrigliceridemia e esteatose hepática. Considerando ser uma condição de origem genética, importante também atenção à história familiar, se há história de consanguinidade, e se há familiares com o mesmo fenótipo e história de alterações metabólicas.
Alterações metabólicas na lipodistrofia e obesidade
Pacientes com lipodistrofia parcial familiar geralmente apresentam um conjunto de alterações metabólicas, de gravidade variável, mas frequentemente com consequências como doenças cardiovasculares e desfechos hepáticos negativos, como fibrose e cirrose associada à esteatose hepática.
Da mesma forma, pacientes com obesidade que apresentem distribuição de gordura com predomínio de acúmulo abdominal e menor acúmulo em pernas, terão maior risco de desfechos cardiovasculares e hepáticos associados à maior gravidade de alterações metabólica.
Conclusão para a prática clínica
Percebemos então a necessidade de termos atenção à distribuição de gordura corporal. A detecção precoce da lipodistrofia e da obesidade com perfil corporal “lipodistrophy-like” podem levar a otimização do tratamento, com foco em medicações com capacidade de redução da resistência à insulina e redução de risco cardiovascular.
Confira outros destaques da cobertura do ICO 2024:
- Doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica
- Obesidade na menopausa
- Dieta cetogênica: Quando ela pode ser indicada e quais cuidados precisamos ter
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