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Endocrinologia27 junho 2024

ICO 2024: Dieta cetogênica

Quando ela pode ser indicada e quais cuidados precisamos ter.
Por Raquel Muniz

Nesta quinta-feira, dia 27 de junho, tivemos no Congresso Internacional de Obesidade (ICO 2024) uma sessão sobre dietas na obesidade. A dra. Cynthia Melissa Valerio, médica endocrinologista do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE) e membro da diretoria da ABESO, apresentou a palestra “Dieta cetogênica: amigo ou inimigo”, na qual apresentou evidências de benefícios da dieta cetogênica para tratamento da epilepsia, assim como cuidados e contraindicações desse padrão alimentar.

Dieta cetogênica

Dieta cetogênica em pacientes com epilepsia

Os estudos para avaliar a eficácia da dieta cetogênica em reduzir crises convulsivas se iniciou em 1921. O racional é que o menor consumo de carboidratos e liberação de corpos cetônicos levem à inativação de canais de cálcio e sódio, com menor sinalização da fenda sináptica e controle das crises.

Entre os estudos, a apresentação destacou uma metanálise publicada em 2020 que avaliou 13 estudos randomizados e controlados, com 932 participantes, sendo 711 crianças (idade entre 4 meses e 18 anos). Comparando dieta cetogênica com tratamento usual para epilepsia em crianças, houve uma maior chance de as crianças permanecerem sem crises convulsivas (RR 3,16, 95% – IC 1,2 a 8,35) ou apresentarem menos crises (RR 5,8, 95% – IC 3,48 a 9,65). Em adultos, houve apenas redução das crises, sendo maior a robustez para indicação da dieta cetogênica em crianças.

Apesar dos estudos mostrando benefícios na redução de crises convulsivas, estudos para tratamento de outras condições neurológicas, como Parkinson e Alzheimer, não mostraram benefícios da dieta cetogênica.

Dieta cetogênica para tratamento da obesidade

No tratamento da obesidade, a dieta cetogênica pode ser considerada quando existe a necessidade de uma perda de peso maior e mais rápida, como em casos de preparação para cirurgia bariátrica, também podendo ter benefícios em pacientes com obesidade sarcopênica e síndrome metabólica. No entanto, importante conhecermos as contraindicações, que incluem gestante e lactantes, pacientes em uso de inibidores de SGLT2, idosos frágeis, casos de arritmia cardíaca, doença renal ou hepática em estágio final, assim como para insuficiência cardíaca em estágios III e IV, e momentos de infecção ativa grave.

Risco cardiovascular e mortalidade

Existe uma preocupação do aumento do risco cardiovascular com a manutenção da dieta cetogênica a longo prazo, visto que muitas vezes há maior ingestão de gorduras saturadas. No entanto, com relação ao risco cardiovascular, dietas low carb e low fat não parecem ter variação significativa quanto ao lipidograma.

Uma metanálise publicada em 2018 avaliou a relação entre a ingesta de carboidratos e mortalidade. Foi estudada uma população de 15.428 adultos entre 45 e 64 anos, mostrando como resultado uma curva em U, ou seja, tanto a dieta com excesso de carboidratos quando a dieta low carb podem estar associadas ao aumento da mortalidade. Avaliando melhor o padrão alimentar da dieta low carb, foi identificado que dietas com maior consumo de proteínas animais estavam associadas ao aumento da mortalidade, enquanto dietas com predomínio de proteínas vegetais, ricas em legumes, verduras e alimentos integrais foram associadas à redução da mortalidade.

Conclusão para a prática clínica

Por fim, percebemos que existem estudos mostrando evidências da dieta cetogênica para crianças com epilepsia refratária. Da mesma forma, a dieta cetogênica pode ser útil em alguns pacientes com obesidade, quando há necessidade de perda de peso maior e mais rápida. No entanto, é preciso atenção ao padrão alimentar além da composição de macronutrientes. Para redução do risco cardiovascular e de mortalidade, a qualidade da dieta, com predomínio de proteínas plant-based e pobre em alimentos ultraprocessados, é mais importante do que a composição de macronutrientes.

Confira os destaques do ICO 2024!

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