A efpeglenatida é um novo agonista de receptor de GLP-1 (baseado na exendina-4). É uma medicação de ação prolongada, portanto de uso semanal. O estudo AMPLITUDE-O, apresentado durante o congresso da American Diabetes Association (ADA 2021) e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine, comparou seu uso ao placebo, com o objetivo de definir desfechos cardiovasculares.
Efpeglenatida e desfechos cardiovasculares
Este ensaio clínico randomizado (RCT), multicêntrico, teve como desfecho primário a não inferioridade ao placebo quanto ao bom e velho MACE, ou seja, um desfecho composto por IAM não fatal, AVC não fatal e morte por causas cardiovasculares. Ainda, foi definido como desfecho secundário a superioridade da efpeglenatida ao placebo com relação aos MACEs, MACEs acrescidos de revascularização miocárdica e angina instável requerendo internação e MACEs acrescidos de morte por causas não cardiovasculares.
A diferença deste estudo para os demais estudos de desfecho cardiovascular (CVOTs) de agonistas de GLP-1 foi que, além de avaliar os desfechos cardiovasculares, também foram investigados desfechos renais, definidos como nefropatia nova ou em progressão (composto por surgimento de albuminúria A3 e aumento > 30% do basal; queda > 40% na TFG com duração maior que 30 dias ou doença renal terminal – diálise, transplante renal ou TFG < 15 mL/min).
Foram incluídos pacientes com eventos cardiovasculares prévios ou maiores que 50 anos com doença renal crônica (TFG entre 25 e 60 mL/min) com um fator de risco cardiovascular adicional: obesidade (IMC > 35 kg/m²), LDL elevado, HDL baixo ou em uso de estatinas, tabagistas, albuminúria, hipertensos com PA > 140/90 mmhg apesar de tratamento. Destaque para exclusão de pacientes com TFG < 25.
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Os pacientes foram randomizamos na razão 1:1:1 para efpeglenatida 4 mg, 6 mg ou placebo e foram estratificados durante a randomização para que os grupos fossem homogêneos quanto ao uso atual ou planejado de inibidores de SGLT-2 (cerca de 15% da população do estudo estava usando), de modo a reduzir o viés confusional pelo uso dessas medicações. Vale destacar também a glicada média, de 8,9%, a maior dos CVOTs (Estudos de segurança cardiovascular) de agonistas de GLP-1. A média de tempo de diabetes era de 15 anos. O seguimento foi por cerca de um ano e oito meses.
Ao todo, 4.076 pacientes foram selecionados.
Resultados

Indo direto ao ponto, houve uma redução na incidência de MACE no grupo efpeglenatida (4 ou 6 mg) com um Hazard ratio (HR) de 0,73 (IC 95%, 0,58-0,92, p = 0.007), o que significa uma redução de 27% no risco! Isso significa que 46 pacientes precisariam ser tratados por 1.8 anos para evitar um evento (NNT 46), possivelmente com efeito dose-dependente, uma vez que no grupo 4 mg o HR estimado comparado ao placebo foi de 0,82 (0,63 – 1,06) e no grupo 6 mg, o HR foi de 0,65 (0,5 – 0,86).
Houve também redução do evento MACE expandido (HR 0,79; IC 95%, 0.65 – 0.96, P = 0.02). Houve redução no desfecho composto renal (HR 0.68; IC 95%, IC 0.57 – 079) e no desfecho combinado por MACE e morte por causas não cardiovasculares.
Quanto a HbA1c, houve uma redução no grupo Efpeglenatida de – 1,24% vs placebo e perda de peso de -2,6 kg. Houve aumento nos efeitos adversos gastrointestinais, como esperado, porém sem aumento na incidência de pancreatites, câncer de pâncreas ou hipoglicemias graves.
Conclusões
A efpeglenatida é mais um agonista de GLP-1 que se provou não apenas seguro do ponto de vista cardiovascular, mas protetor. Destaca-se que esta é a primeira molécula baseada em exendina-1 que apresentou tal resultado (não observado, por exemplo, na lixisenatida – estudo ELIXA). Ainda, mostrou também ter papel na proteção renal. Os autores discutem que tais benefícios aconteceram independentemente do uso de base de inibidores de SGTL-2, para o qual os pacientes foram equilibrados na randomização.
É mais uma medicação para o arsenal no tratamento do DM2 e que se mostra muito interessante, sobretudo em pacientes de maior risco cardiovascular e com doença renal crônica.
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Referência bibliográfica:
- Gerstein HC, et al. Cardiovascular and Renal Outcomes with Efpeglenatide in Type 2 Diabetes. The New England of Medicine. June 28, 2021. DOI: 10.1056/NEJMoa2108269
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