A incidência do melanoma vem aumentando globalmente, provavelmente pelo aumento do diagnóstico de melanomas iniciais. O diagnóstico precoce está relacionado ao prognóstico, pois pacientes com melanomas iniciais podem apresentar sobrevida de até 93% em 10 anos, ao passo que nos pacientes com tumores mais espessos, a sobrevida tende a ser menor. Desse modo, a identificação precoce das lesões é de suma relevância, porque reduz a morbimortalidade, carga psicológica e custos.
Importância da dermatoscopia
A dermatoscopia tem papel crucial no diagnóstico precoce, visto que é um método não invasivo que pode aumentar a acurácia diagnóstica do melanoma em 20-30% quando realizada por profissionais treinados e seu uso rotineiro é recomendado na avaliação de lesões melanocíticas. Além disso, também reduz o número de biópsias desnecessárias e possibilita comparações futuras.
Na prática, quanto mais fino é o melanoma, maior a dificuldade na avaliação dermatoscópica, em decorrência do menor desarranjo estrutural das lesões iniciais. Várias estruturas e padrões dermatoscópicos já foram descritos no melanoma, como assimetria, estrias/pseudópodes, véu azul-esbranquiçado, borrões, rede invertida, polimorfismo vascular, padrão multicomponentes, dentre outros e a apresentação clínica e dermatoscópica pode variar de acordo com o subtipo, topografia e espessura do tumor.
Critérios diagnóstico do melanoma
Critérios como assimetria, três ou mais cores, rede atípica e pontos e glóbulos atípicos são elencados como estruturas relacionadas aos melanomas mais finos. No contexto da avaliação de lesões melanocíticas planas, não faciais, ≤ 5 mm, cinco preditores dermatoscópicos foram elencados: rede pigmentar atípica, véu azul-esbranquiçado, pseudópodes, estrias radiais periféricas e presença de mais de uma cor.
A assimetria é um achado mais frequente no melanoma extensivo superficial e pode estar ausente nos tumores nodulares e amelanóticos. Já a presença de três ou mais cores é mais comum no meloma extensivo superficial invasivo e a literatura sugere que o aumento do número de cores pode estar diretamente relacionado ao índice de Breslow.
Na fase de crescimento vertical ocorre a invasão do tumor, em que véu azul‐esbranquiçado e vasos atípicos são mais comumente encontrados. O véu é uma estrutura altamente específica para o diagnóstico de melanoma, com especificidade de até 97%, e é mais encontrado em melanomas mais espessos.
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O polimorfismo vascular indica maior espessura do tumor e é evidenciado pelas áreas e glóbulos vermelho‐leitosos e vasos atípicos, sendo mais frequentes em melanomas intermediários e espessos. Essas estruturas são prevalentes em melanomas hipo/amelanóticos, nos quais podem ser a única pista para o diagnóstico.
Já o padrão multicomponente é considerado o mais característico e mais associado ao melanoma, e é mais comum em melanomas invasivos e diversos estudos comprovaram que a presença de padrão vascular atípico e áreas azul-acinzentadas estão associadas a melanomas com espessura maior que 0,75 mm.
Além disso, a relação das estruturas dermatoscópicas com o achado histológico já foi analisada sendo encontrados fatores prognósticos independentes para o melanoma. Por exemplo, a presença de estrias branco-brilhantes, áreas vermelho-leitosas e véu azul-esbranquiçado foram associadas a ulceração na histologia e taxa mitótica ≥ 1/mm² , critérios histopatológicos que conferem pior prognóstico.
Considerações finais
Apesar de várias descrições específicas dermatoscópicas, é importante ressaltar que o melanoma pode se apresentar com o padrão inespecífico, mais comum nos melanomas iniciais, uma vez que à medida que a espessura do tumor aumenta, são encontrados mais critérios dermatoscópicos específicos de melanoma. Nos casos de melanoma com padrão inespecífico ou “featureless melanoma”, deve-se considerar biópsia de lesões pigmentadas em que um diagnóstico benigno não puder ser feito. Além disso, a história clínica é crucial, levando em consideração lesões de início recente ou modificação evolutiva.
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