Relação bidirecional entre uveíte e psoríase: revisão sistemática e meta-análise

A psoríase é uma dermatose crônica eritematodescamativa, e difícil tratamento e grande propensão a recaídas. Pode afetar a qualidade de vida dos pacientes e traz o risco de outras doenças, como doenças cardiovasculares, diabetes, acidente vascular cerebral, dentre outras. A relação entre psoríase e doenças oculares tem sido estudada, incluindo uveíte e olho seco. Postula-se que a desregulação ou ativação anormal do sistema imunológico pode levar à inflamação ocular ou exacerbar condições inflamatórias da pele, como psoríase e dermatite atópica. A uveíte e a psoríase possuem mecanismos patológicos compartilhados, particularmente com a interação entre fatores inflamatórios e células imunes. 

A relação entre uveíte e artrite psoriásica é bem documentada em estudos anteriores e alguns deles revelaram que a uveíte é mais prevalente em pacientes com psoríase HLA-B27 positiva, com uma incidência de uveíte entre 1,5% e 2,5%, com maior resistência ao tratamento. Entretanto a relação bidirecional entre as duas doenças ainda não foi sistematicamente estudada e explorada. 

Materiais e métodos 

Essa revisão sistemática e meta-análise seguiu diretrizes PRISMA e foi registrada na plataforma PROSPERO. Uma revisão preliminar da literatura foi realizada e a busca utilizou as bases de dados PubMed, Embase e Biblioteca Cochrane até março de 2024. Foram incluídos estudos observacionais que avaliaram a relação entre psoríase e uveíte. Estudos duplicados, com dados irrelevantes ou amostras pequenas foram excluídos. Dois revisores selecionaram os artigos e extraíram os dados, de forma independente, com as discordâncias resolvidas por um terceiro autor. 

As informações extraídas foram: as características dos estudos e dos participantes, com desenho de estudo, idade, critérios diagnósticos, tamanho da amostra e qualidade metodológica. A análise estatística foi realizada por software Stata 16.0, com cálculos de odds ratios, razões de incidência e análise de heterogeneidade. Fatores como idade, sexo, gravidade da doença e tratamento também foram considerados, com o objetivo de reduzir a heterogeneidade e fornecer uma análise da associação bidirecional entre psoríase e uveíte.  

Resultados 

Um total de 5942 registros foram inicialmente recuperados e após a revisão, 7 estudos atenderam aos critérios de inclusão na análise.  A análise desses estudos incluídos totalizou mais de 81 milhões de indivíduos e demonstrou a associação bidirecional entre a psoríase e a uveíte. Pacientes com uveíte apresentaram risco de 1,16 vezes maior de desenvolver psoríase, ao passo que aqueles com psoríase tiveram o risco 1,52 vezes maior de desenvolver a uveíte. 

A análise nos subgrupos mostrou que a gravidade da psoríase influencia diretamente o risco de uveíte, visto que pacientes com psoríase de moderada a grave apresentaram maior risco em comparação a quadro mais leves. Essa associação foi mais evidente dentre os pacientes com artrite psoriática, que apresentaram risco maior de uveíte. Esse achado reforça que as manifestações sistêmicas da psoríase aumentam o risco de envolvimento ocular. 

Paciente com psoríase. Imagem de freepik

Mensagens práticas: relação bidirecional entre uveíte e psoríase

Do ponto de vista clínico, esses resultados reforçaram a importância do rastreio oftalmológico anual em pacientes com psoríase moderada a grave e o rastreamento mais frequente em casos de artrite psoriásica.  

Desse modo, estratégias para acompanhamento multidisciplinar entre dermatologistas e oftalmologistas são recomendadas, para identificação precoce dos sintomas oculares. 

O estudo apresentou limitações, apesar da metodologia robusta, como a escassez de estudos focados na prevalência de psoríase entre pacientes com uveíte e a falta de dados sobre formas específicas da doença psoriásica, como a psoríase pustulosa.  

Concluiu-se, portanto, que há uma relação bidirecional significativa entre psoríase e uveíte, ressaltando riscos significativos associados a cada condição em relação à outra. A heterogeneidade e a limitação de dados apontam que mais estudos são necessários, especialmente estudos epidemiológicos de grande escala.