No final de 2024 foi divulgado o II Consenso da Sociedade Brasileira de Dermatologia para alopecia areata com o intuito de orientar o tratamento e o seguimento desses pacientes após as últimas atualizações na literatura. Ele contou com a participação de 8 especialistas de diferentes hospitais universitários e baseado em metodologia delphi adaptada.
Como se comporta a alopecia areata?
A alopecia areata é uma doença crônica de curso imprevisível e altamente frequente, responsável por 1,2% dos atendimentos dermatológicos, com grande variabilidade na apresentação clínica (em placas, total, universal, ofiásica, sisaifo, difusa, difusa aguda), na gravidade e no prognóstico.
Para avaliação da gravidade recomenda-se usar o escore Severity of Alopecia Areata Tool (SALT) que avalia a extensão do acometimento no couro cabeludo de acordo com o percentual de área acometida, sendo consideradas 4 áreas (superior, laterais e posterior), subdivididas em 4 quadrantes, cada uma com seus respectivos percentuais. SALT 0 indica nenhuma perda capilar e SALT 100, alopecia de todo o couro cabeludo.
É considerado caso leve quando até 20% do couro é acometido; moderado, 21-49% e grave, ≥ 50%. Casos leves a moderados aumentam a gravidade em um nível se: envolvimento de cílios e sobrancelhas, resposta inadequada após 6 meses de tratamento, teste de tração positivo difuso e impacto negativo no funcionamento psicossocial desencadeado pela doença.
Casos leves são mais propícios à repilação, até mesmo espontânea. A forma extensa e ofiásica geralmente não respondem bem e 7% evoluem para forma total e universal. Início na infância, duração > 12 meses, acometimento ungueal, atopia ou doenças autoimunes associadas, história familiar de alopecia areata também indicam pior prognóstico.
Como o consenso indica tratar a alopecia areata?
Os tratamentos variam de acordo com a idade do paciente e gravidade da doença. Nenhum deles modifica comprovadamente o curso da doença, mas nos ensaios clínicos de fase III com inibidores da JAK foi evidenciado que episódios de doença < 4 anos foram associados com melhor resposta clínica.
Para casos leves, corticoterapia intralesional é a primeira opção. Alternativamente, corticoide tópico com ou sem minoxidil tópico, antralina e imunoterapia com Difenciprona são indicados. Na alopecia moderada, podem ser feitos os tratamentos indicados para casos leves, além de minoxidil oral, corticoterapia sistêmica por curto período ou outros imunossupressores. Já para casos graves, os inibidores da JAK de uso contínuo passaram a ser a primeira escolha, sendo o Baricitinibe e o Ritlecitinibe os aprovados pela ANVISA até então para pacientes ≥ 18 anos e ≥ 12 anos, respectivamente. Minoxidil oral, corticoide tópico ou intralesional são adjuvantes. Corticoide sistêmico é opção em caso de rápida evolução e associado ao imunossupressor (Metotrexato, Ciclosporina, Azarioprina) nos casos graves em atividade e com indisponibilidade de inibidor da JAK. Imunoterapia com Difenciprona é recomendada ainda para alopecia areata grave sem sinais de atividade.
Nas crianças, corticoide tópico de média a alta potência é a primeira opção e, quando possível, com oclusão noturna. Se falta de resposta ou contraindicação, pode ser feito antralina, Difenciprona ou ainda associar minoxidil. Corticoide intralesional tem seu uso limitado pela intolerância à dor e medo de agulhas. Em casos extensos e com franca atividade, por ora, somente o Ritlecitinibe tem aprovação em bula em ≥ 12 anos.
E falando mais especificamente dos inibidores da JAK?
Os inibidores da JAK são os primeiros medicamentos oficialmente aprovados para o tratamento de alopecia areata grave. Além do Barecitinibe e do Ritlecitinibe, Tofacitinibe, Ruxolitinibe, Upadacitinibe também demonstraram eficácia, mas ainda são off-label. Preparações tópicas não se mostraram eficazes. Efeitos colaterais descritos foram infecção do trato respiratório superior, infecção urinária, acne, aumento de transaminases, cefaleia e náuseas, mas em geral leves e transitórios.
Não houve risco aumentado de efeitos adversos graves (evento cardiovascular, tromboembolismo venoso, infecções graves, neoplasia maligna e morte). Sugere-se, entretanto, cautela em pacientes idosos, fumantes ou com risco aumentado dessas condições.
Saiba mais: EADV 2024: Tratamento da alopecia areata na era dos inibidores da JAK
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