A dermatoscopia com luz ultravioleta (DUV) pode ser aplicada na avaliação e diagnóstico de doenças infecciosas, com identificação de padrões e estruturas de fluorescência específicos, que auxiliam na diferenciação etiológica e aumentam a acurácia no diagnóstico.
Utilização da dermatoscopia UV
A aplicação na DUV na tinea capitis é particularmente ilustrativa. Em infecções por Microsporum spp., a técnica demonstra fluorescência verde característica, permitindo diferenciá-las de infecções por Trichophyton spp., que geralmente não exibem esse padrão. Enquanto a dermatoscopia com luz polarizada (DLP) pode evidenciar somente descamação branca e rarefação capilar, a DUV pode exibir fluorescência verde, o que reforça o papel da ferramenta na identificação dos dermatófitos.
Na pediculose, a técnica permite visualizar nitidamente piolhos vivos dentro das lêndeas, facilitando o diagnóstico e monitoramento terapêutico. Já na demodecidose, especialmente nas variantes que mimetizam a dermatite perioral, a DUV evidencia tampões foliculares salientes.
Na escabiose, a DUV revela o trajeto serpiginoso com coloração azulada e destaca o corpo do ácaro como um ponto fluorescente verde, correspondendo ao parasita. Esse achado tem sido considerado mais sensível do que o tradicional “sinal da asa delta”, observado na DLP, sendo denominado de “sinal da bola”, no qual o ácaro é visualizado integralmente sob luz UV, mesmo quando estruturas cutâneas superficiais dificultam sua observação no modo polarizado.
Alguns estudos comparativos demonstraram que a DUV também pode contribuir para a identificação de ovos na escabiose e facilitar a visualização dos túneis em peles de fototipo mais alto, enquanto a DLP permanece superior para a observação do ácaro em peles de fototipo mais baixo.
Além das ectoparasitoses, a DUV também fornece avanços no diagnóstico das doenças bacterianas e virais. Na ceratólise puntata, causada por Corynebacterium spp., a fluorescência coral-avermelhada permite confirmar rapidamente o diagnóstico, diferenciando de outras dermatoses plantares.
Já no molusco contagioso, embora a DLP possa evidenciar um centro ceratósico branco sobre um fundo homogêneo, a DUV realça de maneira mais marcante a umbilicação central brilhante, facilitando a identificação quando as características dermatoscópicas típicas são discretas ou ausentes.
Esses achados fluorescentes da DUV não apenas complementam a DLP, mas também oferecem dados adicionais, principalmente em situações clínicas ambíguas, em fototipos mais altos ou em casos nos quais as características clássicas são pouco evidentes.
Autoria

Marselle Codeço Barreto
Médica pela Faculdade de Medicina Souza Marques e Dermatologista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Preceptora de Dermatologia e Dermatoscopia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ). Possui Título de Especialista em Dermatologia e é Membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM) e International Dermoscopy Society (IDS).
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