Paciente feminina de 24 anos foi na consulta de dermatologia referindo presença de múltiplos nevos (“pintas”) no tronco e nos membros desde pequena, mas que vinham aumentando em quantidade ao longo dos anos. Foi realizado exame dermatoscópico que constatou alguns nevos com glóbulos periféricos. Entre eles, uma lesão com área homogênea central e glóbulos periféricos simétricos e típicos, localizado no colo. A lesão foi interpretada como um nevo melanocítico benigno e indicado acompanhamento clínico e dermatoscópico.

O que indicam os glóbulos periféricos na dermatoscopia?
Glóbulos periféricos representam um achado dermatoscópico principalmente associado ao nevo melanocítico benigno. A sua presença pode indicar uma fase de crescimento horizontal do nevo, em que o alargamento costuma ser de 0,25 mm²/mês. Ao longo de 4-5 anos, ele para de crescer e estabiliza, quando os glóbulos periféricos tendem a diminuir até desaparecer completamente.
A presença desses glóbulos é mais comum no tronco e nos mais jovens, principalmente infância, adolescência e adultos jovens (20-30 anos). Há regressão rápida da sua prevalência nos anos seguintes até não ser mais visível após os 60 anos.
Deve-se estar atento para diferenciar quando esse achado pode indicar um nevo melanocítico comum, como na maioria dos casos, ou um melanoma (em torno de 3% dos casos).
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O que ajuda a diferenciá-los?
Nevos melanocíticos em crescimento costumam ter glóbulos periféricos mais simetricamente distribuídos e típicos (tamanho, formato e cor similares), além de não possuir outro achado dermatoscópico que cause preocupação em relação ao diagnóstico de melanoma.
Já a hipótese de melanoma deve ser levantada especialmente quando a lesão clínica é assimétrica em dois eixos, ≥ 6 mm de diâmetro, localizada em extremidade e em pessoas mais velhas (> 55-60 anos). Na dermatoscopia, chama a atenção quando os glóbulos são assimetricamente distribuídos (principalmente os mais focais e acometendo < 25% da circunferência da lesão), atípicos (vários tamanhos, formatos e cores), vão além da periferia da lesão, quando há lesão única com glóbulos periféricos, quando eles reaparecem após o seu desaparecimento e/ou quando há outras estruturas dermatoscópicas indicativas de melanoma (rede invertida, rede pigmentar atípica, vasos atípicos, estrias, véu azul acinzentado, etc).
Como conduzir?
As orientações de conduta variam conforme a literatura. Em geral, lesões suspeitas de melanoma devem ser biopsiadas. As lesões com glóbulos periféricos típicos e simétricos e sem outros achados dermatoscópicos de risco, podem ser acompanhados, especialmente até os 35 anos e, se houver alteração na clínica ou dermatoscopia, devem ser biopsiadas também. Todos os pacientes acima de 55 anos com glóbulos periféricos devem ser biopsiados.
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