Muito já se sabe sobre a fisiopatologia da mais recente pandemia mundial causada pelo vírus da covid-19 e hoje, mais do que nunca, a vacinação mostrou-se a única forma verdadeiramente eficaz para a prevenção da doença, porém ainda não se tem um panorama concreto sobre quantas doses ou quantos reforços serão necessários para que a doença seja controlada definitivamente no mundo. Por enquanto a realidade atual mostra a eficácia de duas doses de vacina com tecnologia RNA mensageira e um reforço no período de seis meses após a segunda dose, isso para os pacientes sem comorbidades específicas.
Sabe-se também que provavelmente a covid-19 será mais uma doença que supostamente necessitará de reforços anuais, devido a grande capacidade de mutações do vírus, como a vacinação contra o vírus da influenza. Nesse escopo preventivo, especula-se o desenvolvimento de uma vacina pelo laboratório indiano Bharat Biotech, administrada via nasal para ser realizada anualmente na população geral.
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Vacinas por via nasal
As vacinas por via nasal provavelmente podem ser as melhores opções para prevenção de infecções a longo termo, uma vez que promovem proteção no local exato onde o vírus é primariamente inoculado, na mucosa do trato respiratório. O laboratório indiano é famoso e conceituado por sua atuação junto ao mercado contra a covid-19 e parece que o desenvolvimento da vacina nasal poderá ser uma mudança radical na evolução da prevenção da doença.
A vacina por via nasal tem como grande vantagem a maior aceitação da população, principalmente da população infantil, por não promover dor no momento da vacinação tampouco após a sua realização. É sabido que as vacinas intramusculares atuais contra a covid-19 promovem uma reação inflamatória intensa no local da injeção, sendo bastante desagradável para grande parte dos pacientes. Além disso, há facilidade de administração, sem a necessidade de técnicos especialistas e menor custo com a economia de materiais como seringas e agulhas.
Existem dezenas de outros laboratórios também trabalhando nesse tipo de vacina, porém para aprovação é necessário que o estudo passe por todas as três fases de teste e o laboratório indiano já começou sua terceira fase testando em pacientes que receberam duas doses completas da vacina contra a covid-19 .
A variante ômicron nos mostrou que apesar de “ceder” às três doses da vacina, ela não impede que o paciente seja infectado, mas sim que evolua para formas graves, isso porque as vacinas atuais apenas desenvolvem anticorpos na corrente sanguínea e não na mucosa nasal que é a porta de entrada do vírus. As vacinas administradas pela mucosa já se mostraram eficazes contra a disseminação de outras doenças virais por induzir a formação de anticorpos locais, além disso, estudos laboratoriais em animais vêm comprovando excelente eficácia da mesma contra a covid-19. O reforço intranasal mostrou uma indução na memória das células imunes e anticorpos localizados nas vias aéreas superiores e o aumento da proteção após a primeira dose da vacina comum. Estudos ainda não publicados em jornais científicos estão demonstrando forte eficácia dessa proteção.
As vacinas intranasais, diferentes das intramusculares, desenvolvem outro tipo de anticorpos, mediados pela Ig A que diminuem mais lentamente e uma vacina aplicada na forma de spray consegue alcançar desde as fossas nasais até os pulmões, possibilitando a formação de anticorpos Ig A por todo o trato respiratório. Fora isso, alguns estudos demonstram que pessoas que desenvolvem mais anticorpos do tipo Ig A tem maior probabilidade de serem resistentes as infecções.
“A localização é muito importante assim como a imunidade de mucosa para evitar algumas infecções” afirma Michal Tal, imunologista da faculdade de Stanford.
Além disso, podemos citar que os pacientes que adquiriram imunidade devido a infecção pelo vírus e não pela vacinação, adquiriram também imunidade de muscosa, uma vez que a penetração do vírus se faz pelas vias aéreas, mas isso não quer dizer que se expor a infecção é tão eficiente como se vacinar, definitivamente não.
“As vacinas intranasais são a única forma de realmente impedir a transmissão de pessoa a pessoa. Não podemos viver eternamente isolando e reforçando a população de risco por tempo indeterminado para que seus níveis de anticorpos permaneçam artificialmente elevados”, relata Jennifer Gommerman, imunologista da Universidade de Toronto.
Akiko Iwasaki, também imunologista da Universidade de Yale diz que o objetivo não é vacinar primariamente as pessoas pela via nasal, mas sim fazer dessa, uma forma de reforço da vacina, podendo promover o aumento da imunidade adquirida pela primeira dose.
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Considerações
Apesar dos estudos relacionados a vacinação intranasal serem mais difíceis de serem realizados, uma vez que a medição de anticorpos de mucosa é bem mais difícil de ser realizada que anticorpos sanguíneos, a possibilidade da existência dessas vacinas estarem disponíveis rapidamente e poderem ser administradas logo após a primeira dose da vacina comum, gera maior conforto dentro da classe científica para mais uma arma contra a propagação da covid-19.
Referências bibliográficas:
- Mandavilli A. The Covid Vaccine We Need Now May Not Be a Shot. The New York Times. Published Feb. 2, 2022. Disponível em: https://www.nytimes.com/2022/02/02/health/covid-vaccine-nasal.html
- Tianyang M,et al. Unadjuvanted intranasal spike vaccine booster elicits robust protective mucosal immunity against sarbecoviruses. BioRxiv 2022.01.24.477597.
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