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Clínica Médica21 outubro 2024

Os Hs e Ts da parada cardiorrespiratória: você conhece essas siglas?

Um dos principais pontos norteadores de condutas na parada cardiorrespiratória (PCR) é a identificação do ritmo cardíaco de base.
Por Leandro Lima

A mais prioritária das emergências médicas é a parada cardiorrespiratória (PCR), que deve ser abordada de forma imediata e sistematizada, conforme o que é preconizado pelas diretrizes do Suporte Avançado de Vida Cardiovascular (ACLS) 

Um dos principais pontos norteadores de condutas na PCR é a identificação do ritmo cardíaco de base, um passo fundamental para selecionar os candidatos à terapia elétrica, que são aqueles em taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular.  

Quando o ritmo de base é de atividade elétrica sem pulso (AESP) ou assistolia, além de não existir a indicação de terapia elétrica, faz-se necessário considerar os famosos “Hs” e “Ts”. O objetivo desta nomenclatura é refrescar a memória da equipe assistente para que elenque, sem pestanejar, as principais etiologias potencialmente reversíveis, viabilizando a tomada de condutas em tempo hábil e diante de informações clínicas que tendem a ser escassas nesse cenário.  

Veja mais: Como melhorar o atendimento à parada cardiorrespiratória?

O problema dos Hs, contudo, é que, por si só, não viabilizam a formação de atalhos cognitivos simples, pois remetem aos prefixos “hipo/hiper”, e não aos radicais, que são o que realmente importa para a evocação da memória.  

Dessa forma, a nossa proposta é de um acrônimo complementar, baseado nos radicais e assim definido:  

 

TOPA VolTar  

(à circulação espontânea)?  

T 

  • Temperatura (hipotermia) 
  • Toxinas (álcool, benzodiazepínicos, opioides, tricíclicos, barbitúricos, betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e anestésicos locais) 
  • Trauma 

O 

  • Oxigênio (hipoxemia) 

P 

  • Potássio (hiper ou hipocalemia) 

A 

  • Acidose 
  • Açúcar (hipoglicemia) 

Vol 

  • Volume (hipovolemia) 

Tar 

Tórax: 

  • Trombose coronariana 
  • Tamponamento cardíaco 
  • Tromboembolismo pulmonar 
  • Pneumotórax 

O manejo sequencial dependerá da etiologia de base mais provável, e poderá contar com a administração de: 

  • Antídotos 

Toxina 

Antídoto 

Bloqueadores de canais de cálcio 

Gluconato de cálcio 

Betabloqueadores 

Glucagon (50 a 150 mcg/kg), Glicoinsulina 

Benzodiazepínicos 

Flumazenil 

Opioides 

Naloxona 2 mg 

Tricíclicos 

Bicarbonato de sódio (1-2 mEq/kg) 

Anestésicos locais 

Emulsão lipídica a 20% 

 

  • Medidas de reaquecimento na hipotermia;  
  • Gluconato de cálcio, bicarbonato de sódio e beta-agonistas na hipercalemia;  
  • Trombólise no IAM ou TEP;  
  • Punção torácica por agulha ou toracostomia com drenagem torácica em caso de pneumotórax; 
  • Pericardiocentese em caso de tamponamento cardíaco. 

Por fim, lembramos que as propedêuticas mais úteis no cenário de PCR, tendo-se por objetivo a busca por causas potencialmente reversíveis, incluem: 

  1. ECG, que pode demonstrar sinais de hipercalemia, como ondas T apiculadas, ondas P achatadas, QRS prolongado e padrão sinusoidal; bradicardia, aumento do QT e ondas J de Osborn na hipotermia; presença de bloqueio atrioventricular ou ondas U na hipocalemia; alargamento do intervalo QT e torsade de pointes na intoxicação por tricíclicos; bradicardia e bloqueios atrioventriculares avançados na intoxicação por bloqueadores  de canais de cálcio ou betabloqueadores; baixa voltagem e fenômeno da alternância elétrica no tamponamento cardíaco; alterações isquêmicas nas síndromes coronarianas agudas; taquicardia sinusal, desvio do eixo para direita, strain de ventrículo direito e padrão S1Q3T3 no tromboembolismo pulmonar. 
  2.  Gasometria venosa ou arterial, com dosagem dos eletrólitos, é um exame que pode ser realizado à beira do leito, surpreendendo distúrbios ácido-básicos e extremos da calemia.  
  3.  Ultrassonografia à beira do leito (POCUS), que pode ser extremamente útil para a detecção de tamponamento cardíaco, déficits segmentares da contratilidade miocárdica, pneumotórax, presença de líquido livre na cavidade abdominal e sinais indiretos de TEP e hipovolemia.   

PCR

Conclusão e Mensagens práticas 

  • Os algoritmos do ACLS consolidaram os mnemônicos das causas potencialmente reversíveis de PCR baseados nos “Hs e Ts”. Entretanto, a listagem mental das causas subjacentes, sobretudo para os menos experientes, é emperrada pela utilização do prefixo hiper/hipo, em detrimento dos radicais, que realmente são os atalhos cognitivos úteis. Dessa forma, a nossa proposição é a utilização de um acrônimo complementar para a nossa realidade: TOPA VolTar? 
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Referências bibliográficas

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