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Clínica Médica10 novembro 2022

O impacto dos tipos de café nas doenças cardiovasculares

O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, e muito se discute sobre o impacto do seu consumo na saúde da população.

Estudos antigos e muitos profissionais da área de saúde mantém o protocolo de se evitar o consumo de cafeína principalmente nos pacientes com doenças cardiovasculares pré-existentes, porém estudos atuais vêm demonstrando que na verdade, o café apresenta um impacto positivo com benefícios na manutenção e prevenção da saúde coronariana.

O mesmo não se pode afirmar sobre outras bebidas estimulantes, onde há uma concentração elevada de cafeína e outras substâncias estimulantes. Muita atenção é voltada para a cafeína presente no café, porém, essa bebida é composta de mais de 100 substâncias biologicamente ativas.

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O estudo em questão visa analisar o impacto a longo prazo do consumo de diferentes tipos de café na incidência de doenças cardiovasculares, arritmias e da morbimortalidade geral.

O impacto dos tipos de café nas doenças cardiovasculares

Métodos

Esse estudo foi aprovado pela National Information Governance Board for Health and Social Care e pelo National Health Service North West Multicenter Research Ethics Committee onde foi analisado um banco de dados da UK Biobank (Inglaterra) entre janeiro de 2006 e dezembro de 2010 com 449.563 participantes entre 40 e 69 anos de idade sendo 55,9% do sexo feminino com acompanhamento de aproximadamente 12 anos. Esses participantes responderam a pesquisas e questionários sobre estilo de vida com ênfase em riscos cardíacos, detalhes sobre o consumo pessoal de café e foram coletados exames físicos dos mesmos. Destes, 10. 510 participantes que declararam não consumir café foram selecionados como grupo controle.

Análise do consumo de café

A análise do consumo de café para cada participante foi feita mediante resposta de questionário onde se pedia detalhes sobre a quantidade de xícaras de café consumidas por dia e tipo de café consumido, como por exemplo café expresso, café moído ou descafeinado. Os participantes foram divididos em 6 grupos de acordo com a quantidade consumida por dia (0, < 1, 1, 2–3, 4–5 e 5/dia).

Objetivos

O objetivo principal foi avaliar a relação entre o desenvolvimento de doença cardiovascular, arritmias e mortalidade e o consumo específico de cada tipo de café: cafeinado (expresso ou moído) e descafeinado. Doença cardiovascular foi definida como doença coronariana, insuficiência cardíaca congestiva e derrame. Arritmias foram definidas como desenvolvimento de fibrilação atrial (FA) ou flutter atrial, taquicardia supraventricular, taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular. A mortalidade foi analisada e definida como qualquer causa, causas vasculares ou morte súbita.

Resultados

Desenvolvimento de arritmias e consumo de café em geral

De todos os participantes analisados, houve uma incidência de 6,7% com desenvolvimento de arritmias, sendo 3,4% fibrilação ou flutter atrial e 0,7% taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular. E a incidência de arritmias era significantemente menor em pacientes que consumiam cerca de 2 a 3 xícaras de café por dia, e menos ainda quando o consumo aumentava para 4 a 5 xícaras diárias. Na análise dos gráficos os pacientes que não consumiam café apresentavam as maiores taxas de arritmia assim como os que consumiam mais de 5 xícaras por dia.

Desenvolvimento de doenças cardíacas e consumo de café em geral

De todos os participantes analisados, houve uma incidência de 9,6% com desenvolvimento de doença cardíaca, sendo 7,7% diagnosticado com doença coronariana, 2,8% com insuficiência cardíaca congestiva e 1,5% com acidente vascular cerebral. Da mesma forma que a análise anterior, os participantes que não consumiam café ou que consumiam mais de 5 xícaras diárias apresentavam maiores taxas de doença cardiovascular e os participantes que consumiam entre 2 a 5 xícaras por dia foram os mais beneficiados.

Mortalidade e consumo de café em geral

Um total de 27.809 participantes evoluíram para o óbito durante o estudo, sendo 1% relacionado a doença cardiovascular. A incidência das taxas de mortalidade apresentaram-se diminuídas no grupo que consumia até 5 xícaras por dia, sendo menores no grupo dos participantes com consumo médio de 2 a 3 xícaras diárias.

Análise dos subtipos de café

O tipo de café consumido também foi paralelamente avaliado entre os participantes. 44,1% consumiam café instantâneo, 18,4% café moído e 15,2% café descafeinado. Dos participantes que consumiam café instantâneo, 8,4% desenvolveram arritmias sendo FA a mais comum e 15% desenvolveram doença cardiovascular sendo a doença coronariana com maior incidência, além de uma incidência de 7,7% de óbitos. Dos participantes consumidores de café moído, 7% desenvolveram arritmias sendo a FA também a mais comum, 10,5% desenvolveram doença cardiovascular e 5,5% foi o índice de mortalidade. Em relação ao consumo de café descafeinado, 9,8% desenvolveram arritmias, 14,5% doença cardiovascular e 10,9% evoluiram para o óbito.

Discussão

O café é uma substância complexa com a presença de mais de 100 subtipos de princípios biologicamente ativos, sendo a cafeína o mais conhecido. O café atua a nível de sistema nervoso simpático, ativando-o pela inibição da fosfodiesterase, pelo aumento do cálcio e pela estimulação da liberação de adrenalina e noradrenalina. Está diretamente relacionado ao estímulo do sistema cognitivo levando a um aumento da atenção e concentração. Porém, em doses elevadas, acima de 1,2 g por dia pode levar a um aumento de sintomas de ansiedade, insônia, dificuldade de descanso e agitação psicomotora. Em doses mais elevadas, o aumento do cálcio pode levar também ao aparecimento de arritmias. Em relação a pressão arterial também ocorre um aumento da mesma, porém com o passar do tempo, ocorre uma tolerância e esses efeitos não são mais observados.

A cafeína é 100% biodisponível, ou seja, totalmente absorvida pelo nosso organismo. Nesse presente estudo foi demonstrado que tanto o café instantâneo como o moído apresentavam proteção contra arritmias, o que não ocorria com o consumo do café descafeinado. A cafeína tem um papel protetor particular do ponto de vista de arritmias, por inibir os receptores de adenosina A1 e A2A, diminuindo os efeitos arrítmicos das adenosinas endógenas.

Apesar da cafeína ter um papel muito importante metabolicamente por diminuir a liberação de óxido nítrico endotelial, regular a lipogênese, reduzir a resistência a insulina além de possuir propriedades antioxidantes que acabam por melhorar a saúde cardiovascular, o café também possui outras substâncias ativas que contribuem para o bem estar cardiovascular como os polifenóis, o ácido clorogênico, o ácido ferúlico antioxidante e microelementos como o magnésio. Devido a presença dessas outras substâncias protetoras que não foi evidenciado diferença significativa na melhora da saúde cardiovascular entre os participantes que consumiam café com cafeína e café descafeinado.

Além desse estudo, mais 28 estudos prospectivos demonstraram a eficácia do impacto positivo do consumo de café na saúde cardiovascular independente do tipo de café.

Saiba mais: ESC 2022: Qual o resultado dos 5 anos de estudo de rastreamento de doenças cardiovasculares?

Conclusão

Nesse estudo em questão pode-se resumir algumas conclusões:

  1. Café de qualquer tipo (moído, instantâneo ou descafeinado) contribui de forma positiva para a diminuição da incidência de doenças cardiovasculares.
  2. Uma média de 2 a 3 xícaras por dia já é suficiente para levar a essa melhora.
  3. A melhora da incidência de arritmias está relacionada ao consumo de café contendo cafeína, porém o mesmo não acontece com o tipo descafeinado.
  4. A maior redução do risco cardiovascular está relacionado ao consumo de 4 a 5 xícaras diárias.
  5. Acima de 5 xícaras por dia de café com cafeína ultrapassam a dose recomendada e podem levar a problemas cardíacos entre outros.

Portanto, apesar de algumas limitações e baseado nesse estudo, podemos concluir que o consumo moderado entre 2 a 5 xícaras de café por dia, de qualquer tipo, sendo este moído, expresso ou descafeinado contribui de forma significativa para a melhora da saúde cardiovascular, sendo assim, diferente do que se protagonizava anteriormente, o consumo do café deve ser estimulado em todos os pacientes de forma a promover mais um tipo de proteção ao sistema cardiovascular.

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Referências bibliográficas

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