Em um estudo prospectivo observacional incluindo 2.964 pacientes críticos que necessitaram de intubação traqueal em centros de tratamento intensivo em 29 diferentes países evidenciou-se que houve uma incidência de 45,2% de eventos adversos durante o procedimento de intubação traqueal, incluindo instabilidade cardiovascular, hipóxia severa e falência cardíaca. E os pacientes que apresentaram alguma complicação durante a intubação traqueal tiveram os índices de mortalidade mais elevados.
Pacientes críticos por si, apresentam fatores que contribuem para o aumento dos eventos adversos durante esse procedimento como a complexidade ambiental que se encontram, a divergência de experiência entre os vários profissionais envolvidos e a própria condição clínica do doente. A maioria desses pacientes apresentam uma via aérea fisiologicamente difícil e essa dificuldade constitui um fator independente para o aumento da mortalidade, que se agrava quando é necessário mais de uma tentativa de intubação. Portanto, um dos principais objetivos de uma intubação traqueal em pacientes críticos é a capacidade de realizar a mesma em apenas uma tentativa e muitos guidelines com o uso de ferramentas facilitadoras foram criados a fim de minimizar as dificuldades.
Desafios na intubação
As maiores dificuldades relatadas pelos profissionais são a não visualização da glote ou da passagem do tubo pela mesma e alguns aparelhos como videolaringoscópio, estiletes e guias como bougies foram propostos como facilitadores de sucesso para a primeira tentativa de intubação. Alguns dos estudos em relação ao uso de videolaringoscópios evidenciaram que apesar do uso desses aparelhos estar em constante crescimento nas unidades de tratamento intensivo, não apresentou estatística significativa na melhora da qualidade de intubação em comparação com a laringoscopia direta, mesmo em profissionais mais experientes.
Em relação aos estiletes e guias tipo bougies, os resultados foram diferentes e mais positivos. Apesar de serem instrumentos simples, baratos e antigos, estudos demonstraram que são os melhores facilitadores da intubação quando se está diante de uma situação de não visualização adequada das cordas vocais.
Metodologia do estudo
O estudo STYLETO realizado com 999 pacientes em 32 unidades de tratamento intensivo na França onde 501 pacientes foram submetidos a intubação com estilete e 498 somente com tubo traqueal, mostrou o sucesso da intubação traqueal na primeira tentativa de 78,2% no primeiro grupo e 71,5% no segundo grupo. Apesar do estudo demonstrar uma melhoria da técnica com o uso de estiletes, houve o questionamento da possibilidade de aumento de lesões traumáticas do trato respiratório, o que se fez questionar o seu uso rotineiro nas primeiras tentativas de intubação traqueal. Porém não houve diferença na incidência de complicações, eventos adversos ou traumatismos entre ambos os grupos. O uso de estiletes também são preferidos em relação ao bougie, pois com estes, pode-se moldar mais facilmente o formato e direção do tubo traqueal facilitando a sua introdução na traquéia.
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Conclusão
Apesar do uso de videolaringoscópios estar crescente nos dias atuais, o estudo STYLETO, demonstrou uma forte tendência ao uso de guias estilete rotineiramente já durante a primeira tentativa de intubação traqueal nos pacientes criticamente enfermos.
Referência bibliográfica:
- Myatra SM, et al. Maximizing first pass success when intubating the critically ill patient: use a stylet! Intensive Care Medicine.27 May 2021. doi: https://doi.org/10.1007/s00134-021-06433-y
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