Efeito da suplementação hiperproteica durante o tratamento oncológico

Dados mostram que, de cada seis óbitos registrados no mundo, um se relaciona ao câncer. O câncer traz grande impacto e sobrecarga na vida dos pacientes, suas famílias e do sistema de saúde. Independentemente do tipo e do estágio do câncer os pacientes costumam experimentar sintomas e efeitos colaterais como: fatiga e depressão, que podem levar a perda de peso, piora da qualidade de vida, perda de massa muscular e alteração de composição corporal acarretando em piores desfechos clínicos e prognóstico. 

Metodologia 

Esse é um estudo de revisão que incluiu ensaios clínicos randomizados (publicados entre 1998 e 2023) que compararam a administração de suplementos hiperproteicos (com ≥10 g de proteína/porção) a placebo, tratamento padrão, ou suplementos com menor teor proteico, em paciente recebendo qualquer tipo de tratamento oncológico. Foram excluídos pacientes em dieta enteral (por sondas) ou parenteral. Metanálises foram usadas para estimar os efeitos da intervenção da suplementação nos desfechos primários de peso corporal e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). Já os desfechos secundários incluíram composição corporal, função muscular, sobrevida, hospitalização, resposta ao tratamento do câncer/ toxicidade e inflamação sistêmica. 

Resultados encontrados e discussão 

Foram incluídos 35 estudos, envolvendo 3.701 pacientes com diversos tipos de câncer.  

Em relação a perda de peso: pacientes que receberam suplementação hiperproteica perderam menos peso (95% IC; P= 0,006), com um efeito mais significativo foi naqueles suplementos que incluíam ômega-3. Adicionalmente, maiores efeitos foram observados quando a suplementação foi feita por três a 12 semanas. 

Por outro lado, a suplementação não teve efeito sobre qualidade de vida relacionada à saúde, nas pontuação globais de saúde. 

No geral, 11 de 13 (85%) estudos mostraram que a suplementação rica em proteínas teve um efeito benéfico na massa muscular e na radiodensidade do músculo esquelético em comparação com controles. Embora tenha ocorrido um declínio na massa muscular em ambos os grupos, o grupo experimental perdeu menos massa muscular do que controles. Um efeito benéfico de suplementação hiperproteica em comparação com controles também foi observado nos resultados de desempenho físico. 

Em sete de 16 estudos (44%), a suplementação rica em proteínas demonstrou um efeito benéfico nos desfechos de sobrevivência e sobrevivência livre de progressão em comparação com controles. 

A suplementação rica em proteínas mostrou um efeito benéfico na toxicidade induzida pela terapia em oito de 14 (57%) estudos. Além disso, dois estudos demonstraram uma efeito benéfico do suplemento rico em proteínas nas taxas de resposta parcial e completa à quimioterapia. 

Os efeitos sobre outros resultados secundários foram inconsistentes ou limitados. Nenhum efeito adverso grave foi relatado.

Veja também: Suplementação oral pré-operatória em pacientes com câncer gastrointestinal

Conclusão 

A suplementação com alto teor de proteína atenua a perda de peso, melhora a força muscular e reduz as taxas de hospitalização em pacientes submetidos a tratamentos oncológicos. Esses resultados clínicos positivos, juntamente com um perfil de segurança favorável, sugerem que a suplementação de alta proteína pode ser um valioso aliado na prática médica.