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Clínica Médica19 maio 2025

SURMOUNT-5: Tirzepatida é superior à semaglutida para tratamento da obesidade?

Estudo SURMOUNT-5 comparou o uso de tirzepatida e semaglutida para tratamento da obesidade

A obesidade é uma condição que acomete mais de 650 milhões de pessoas no mundo e cuja prevalência no Brasil mais do que dobrou nas últimas quatro décadas. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde apontam que cerca de 26% dos adultos brasileiros vivem com obesidade, sendo mais comum entre mulheres e em faixas de menor renda. A obesidade está fortemente associada a uma ampla gama de complicações metabólicas, cardiovasculares, respiratórias e musculoesqueléticas, e representa um fator de risco modificável relevante para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e apneia obstrutiva do sono, dentre outros. 

Recentemente, felizmente, com o advento dos agonistas do receptor de GLP-1, como a semaglutida, o tratamento da obesidade vem passando por uma verdadeira revolução devido a maior eficácia dessas novas terapias. Estas vem demonstrando dia após dia efeitos significativos sobre o peso corporal e fatores cardiometabólicos. Mais recentemente, a tirzepatida, um agonista dual de GIP e GLP-1, vem se destacando pelo potencial superior de induzir perda de peso substancial e sustentada, o que foi observado em estudos prévios como o SURMOUNT-1 e 2, cobertos aqui no portal.  

Apesar da alta eficácia tanto da semaglutida como da tirzepatida, até o momento ainda não havia uma comparação direta entre ambas em um grande ensaio clínico randomizado em indivíduos com obesidade. Com o intuito de trazer essa resposta, foi elaborado o estudo SURMOUNT-5, publicado no New England Journal of Medicine (2025) esta semana e apresentado no congresso europeu de obesidade. Trazemos o estudo para discussão no portal. 

O estudo

O SURMOUNT-5 foi um ensaio clínico de fase 3b, multicêntrico, randomizado, controlado, open label, com duração de 72 semanas, conduzido em 32 centros nos Estados Unidos e em Porto Rico. Os participantes foram randomizados em uma proporção 1:1 para receber a dose máxima tolerada de Tirzepatida (10 mg ou 15 mg), ou Semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg), ambos por via subcutânea, 1x/semana. O estudo foi realizado entre abril de 2023 e novembro de 2024. 

A randomização foi estratificada por IMC (<35 ou ≥35), sexo e status de pré-diabetes. Vale destacar que, como nos demais estudos realizados em indivíduos com obesidade, todos os participantes receberam aconselhamento nutricional e orientações de atividade física ao longo do estudo. Foram incluídos indivíduos com idade ≥ 18 anos e Índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m², ou IMC ≥ 27 kg/m² associado a pelo menos uma comorbidade relacionada à obesidade e excluídos aqueles com diagnóstico prévio de diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2 (DM1 ou DM2), tratamento com agonistas de receptor de GLP-1 ou qualquer medicamento para perda de peso nos 90 dias anteriores ao início do estudo, cirurgia bariátrica prévia ou cirurgia planejada durante o período do estudo e variação de peso corporal superior a 5 kg nos 90 dias que antecederam o screening. 

O desfecho primário foi a mudança percentual no peso corporal da linha de base até a semana 72. Entre os desfechos secundários destacaram-se:proporção de indivíduos que atingiram perda ponderal ≥10%, ≥15%, ≥20% e ≥25%; alteração na circunferência abdominal e parâmetros de risco cardiometabólico (pressão arterial, HbA1c, glicemia de jejum, perfil lipídico). 

Ao final, foram randomizados 751 adultos (374 no grupo tirzepatida e 376 no grupo semaglutida), com idade média de 44,7 anos. Aproximadamente 85% dos participantes completaram o estudo; A maioria era do sexo feminino (64,7%) e de etnia branca (76,1%), mas com inclusão mais significativa de negros (19,2%) e hispânicos (26,1%) do que na média de grandes estudos prévios. O IMC médio foi de 39,4 kg/m², o peso médio de 113 kg, a circunferência abdominal de 118,3 cm. A presença de múltiplas complicações relacionadas à obesidade foi observada em 50,1% dos participantes, e 56,7% apresentavam pré-diabetes. Esses dados refletem uma população com obesidade grau II-III em sua maioria (68,9% com IMC ≥35 kg/m²), e com relevante risco metabólico. 

Saiba mais: Tirzepatida: o agente mais potente no tratamento da obesidade

Resultados 

A tirzepatida foi superior à semaglutida na perda de peso e tratamento daobesidade. A perda média de peso média (na semana 72) foi: 

– Tirzepatida: −20,2% (−22,8 kg) 

– Semaglutida: −13,7% (−15,0 kg) 

– Diferença entre grupos: −6,5% (IC95%: −8,1 a −4,9; p<0,001) 

A proporção de participantes com perda maior que 10% foi de 81,6% no grupo tirzepatida x 60,5% no grupo semaglutida (RR 1,3); > 15%: 64,6% x 40,1% (RR 1,6); > 20%: 48,4% vs 27,3% (RR 1,8); e > 25%: 31,6% vs 16,1% (RR 2,0 – ou seja, uma chance duas vezes maior de perder mais que 25% do peso com a tirzepatida vs. semaglutida). Também houve maior redução na circunferência abdominal nos indivíduos que utilizaram a tirzepatida (-18,4 cm vs. -13,0 cm, p < 0,001). 

Como desfecho exploratório, os autores ainda analisaram o percentual de indivíduos que perderam > 30% do peso (um resultado compatível com técnicas de cirurgia bariátrica), acontecendo em 19,7% vs 6,9% , com um RR 2,8, favorecendo a tirzepatida. 

Ambos os tratamentos resultaram em redução de pressão arterial, com uma leve tendência à melhora com a TZP (PAS: −10,2 mmHg vs −7,7 mmHg (sema). Quanto à PAD, houve reduções semelhantes em ambos os grupos. Os demais fatores não foram descritos numericamente, porém os autores destacaram melhoras mais importantes de HbA1c e no perfil lipídico de indivíduos que perderam um maior percentual de peso corporal independentemente do grupo de tratamento alocado. 

A proporção de eventos adversos totais foi de 77,9% (sem diferença significativa entre grupos). Como sabido, os principais eventos: sintomas gastrointestinais leves a moderados (náuseas, constipação, diarreia). Um dado interessante foi a descontinuação do tratamento, discretamente menor no grupo Tirzepatida (6,1%) comparado ao grupo Semaglutida (8,0%)

Considerações e mensagem prática 

O estudo SURMOUNT-5 fornece evidências robustas de que a tirzepatida é significativamente mais eficaz que a semaglutida na redução de peso e da circunferência abdominal em adultos com obesidade e sem diabetes tipo 2. Com uma perda média de peso de 20,2% e mais de 30% dos participantes atingindo reduções ≥ 25%, a tirzepatida se posiciona como o agente farmacológico com maior impacto já registrado até então, atingindo níveis antes vistos apenas em tratamentos cirúrgicos. 

A tirzepatida, recém-chegada em nosso país, ainda enfrenta uma barreira considerável, que é o custo. Além disso, temos que ponderar que apesar de plausível, ainda não há estudos que demonstrem benefícios cardiovasculares da medicação como temos com a semaglutida mesmo no contexto da obesidade, como no caso do estudo SELECT. Aguardemos cenas dos próximos capítulos com os estudos cardiovasculares da tirzepatida. 

Por fim, este estudo contribui para reafirmação do novo paradigma do tratamento da obesidade: sair do tradicional objetivo de perda de 5–10% e alcançar níveis que possam trazer maiores benefícios cardiovasculares e metabólicos não é mais um sonho distante, mas sim um objetivo cada vez mais tangível. 

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Referências bibliográficas

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