Em novembro de 2020, comentamos aqui no Portal sobre casos de doença de Haff, que ocorreram na Bahia. Na última semana, mais dois casos foram diagnosticados em Recife, além disso, outros cinco casos estão em investigação em Pernambuco.
Doença de Haff
A doença de Haff é um tipo de rabdomiólise humana caracterizada pelo início repentino de rigidez muscular inexplicada e um nível elevado de creatina quinase sérica (CPK) dentro de 24 horas após o consumo de certos tipos de peixes.
Nos casos diagnosticados em Recife, duas irmãs foram internadas em hospital particular, no dia 18 de fevereiro de 2021, horas após almoço, que tinha no cardápio o peixe arabaiana, também conhecido como “olho de boi”, sendo que uma delas veio a óbito no último dia dois de março. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou no dia 22 de fevereiro de 2021 que “foi notificada, pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) do Recife, de cinco casos de mialgia aguda, suspeitos para doença de Haff”.
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Surtos semelhantes de doença de Haff ocorreram em muitos países desde a sua identificação inicial. Os pacientes identificados consumiram vários tipos de peixes cozidos ou outros produtos aquáticos, incluindo estes citados na literatura: burbot (L. lota), peixe búfalo (Ictiobus cyprinellus), lagostim (Procambarus clarkii), Salmão do Atlântico (Salmo salar) e o nosso querido tambaqui (Colossoma macropomum). A causa específica da doença de Haff permanece obscura.
Diagnóstico e tratamento
Geralmente o paciente apresenta com mialgia súbita, astenia, parestesia de membros inferiores, podendo evoluir com rabdomiólise. Neste caso, podem apresentar insuficiência renal, em que a coloração da urina (marrom escura) é um marcador importante.
Os critérios definidores são:
1) História de ingestão de peixes 24 horas antes do início dos sintomas
2) Elevação dos níveis CPK para 5 vezes o valor de referência
3) Fração CK-MB inferior a 5% da CK total.
O tratamento é basicamente de suporte. Laboratorialmente, recomenda-se acompanhar creatinofosfoquinase (CPK), TGO e monitorização da função renal. Nos casos que evoluem com rabdomiólise, o paciente deve seguir a abordagem já conhecida, sendo rapidamente hidratado durante 48 a 72 horas.
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Mensagem prática
- Novos casos de doença de Haff foram registrados em Pernambuco.
- É importante conhecer a doença para que o diagnóstico e tratamento não sejam retardados. A história de ingestão de peixe ou outros produtos marinhos é um marco na anamnese.
Referências bibliográficas:
- G1. ‘Doença da urina preta’: irmãs são internadas no Recife com Síndrome de Haff após comerem peixe, diz família. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2021/02/23/doenca-da-urina-preta-irmas-sao-internadas-em-hospital-no-recife-depois-de-comer-peixe-diz-familia.ghtml
- Pei P, Li XY, Lu SS, Liu Z, Wang R, Lu XC, Lu K. The Emergence, Epidemiology, and Etiology of Haff Disease. Biomed Environ Sci. 2019 Sep;32(10):769-778. doi: 10.3967/bes2019.096.
- Secretaria de Saúde da Bahia. Secretaria de Saúde da Bahia confirma três novos casos de doença de Haff. Dispónível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/11/12/secretaria-da-saude-da-bahia-confirma-tres-novos-casos-de-doenca-de-haff/
- Portal Fiocruz. Estudo descreve surto de enfermidade conhecida como doença da urina preta em Salvador. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-descreve-surto-de-enfermidade-conhecida-como-doenca-da-urina-preta-em-salvador
- CDC. Haff Disease Associated with Eating Buffalo Fish — United States, 1997. Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00056038.htm#:~:text=Haff%20disease%20is%20a%20syndrome,into%20the%20circulation%20(1).
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