Logotipo Afya
Anúncio
Saúde6 outubro 2025

Casos de intoxicação por metanol no Brasil

Brasil entra em alerta após notificações de intoxicação por ingestão de metanol se espalharem e levarem pessoas a perda de visão e óbito
Por Augusto Coutinho
Atualizado dia 14/10/2025 às 15:00

No último final de semana de setembro, dezenas de casos de intoxicação por ingestão de metanol no estado de São Paulo vieram à tona, nos dias seguintes esses casos se desenvolveram e notificações começaram a surgir por todo território nacional. Até a última atualização no dia 13 de outubro de 2025, o Ministério da Saúde contabilizava 213 registros de intoxicação pela sustância por todo país com 32 casos confirmados e 181 em investigação.

Os casos de intoxicação confirmados foram majoritariamente em São Paulo (28), seguido do Paraná (3) e do Rio Grande do Sul (1). Óbitos confirmados apenas em São Paulo (5), 9 estão sob investigação: 3 em SP, 3 em PE, 1 no MS, 1 em MG e 1 no CE.

Além de São Paulo, os outros estados com casos suspeitos são Pernambuco com 43 suspeitas, Espírito Santo (9), Rio Grande do Sul (6), Rio de Janeiro (5), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Goiás (3), Maranhão (2), Alagoas (2), Minas Gerais (1), Paraná (1), Rondônia (1).

As investigações apontam que a ingestão do metanol se deu por meio de bebidas alcoólicas adulteradas. 

Autoridades abriram investigação em diversas frentes para averiguar a responsabilidade pela adulteração e prevenção de novos casos. “É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle. A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias.” afirmou, em nota, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos. 

Saiba mais: Intoxicação por metanol: o que todo médico precisa saber? 

Problema mundial

Levantamento realizado pela organização Médicos Sem Fronteiras estima que, nos últimos 27 anos, o mundo registrou 40 mil casos de intoxicação por metanol e 14 mil mortes devido a ingestão da substância, tendo a maior parte dos casos ocorrido em países Asiáticos e do Leste Europeu.

Impactos do metanol sobre a saúde 

“O metanol é um tipo de álcool que, diferente do álcool comum (etanol), não pode ser ingerido porque o organismo não consegue processá-lo de forma segura. Quando uma pessoa ingere metanol, o fígado o transforma em substâncias muito tóxicas, principalmente formaldeído e ácido fórmico. Esses compostos afetam especialmente o sistema nervoso, os rins e os olhos.”, explica a Dra. Alléxya Affonso, editora de oftalmologia do Portal Afya. 

Segundo parentes de uma das vítimas fatais do caso, o primeiro sintoma apresentado foi a perda de visão. O paciente, homem de 45 anos veio a falecer por uma parada cardiorrespiratória e falência múltipla dos órgãos com a intoxicação por metanol apontada como causa. 

A Dra. Alléxya aponta que a visão costuma ser um dos primeiros órgãos a sofrer “porque o ácido fórmico se acumula no nervo óptico, que é responsável por levar as imagens da retina até o cérebro. Essa toxicidade pode causar desde visão borrada e pontos escuros até cegueira permanente.” 

Outras vítimas do caso foram encaminhadas para UTI após perderem completamente a visão e apresentarem outras complicações. “Além do risco ocular, o metanol também pode levar a sintomas graves como dor abdominal, vômitos, dificuldade para respirar, convulsões e até o óbito, dependendo da quantidade ingerida”, complementa a Dra. Alléxya, reforçando que “qualquer suspeita de ingestão de metanol é uma emergência médica que exige atendimento imediato no hospital.” 

Sintomas comuns da intoxicação por Metanol 

Um alerta emitido pela a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo reforça alguns sinais e sintomas aos quais os serviços de saúde devem ficar atentos, estes costumam aparecer entre 6 e 24 horas após a ingestão: 

  • Sonolência 
  • Tontura 
  • Dor abdominal 
  • Náuseas 
  • Vômitos  
  • Confusão mental 
  • Taquicardia 
  • Visão turva 
  • Fotofobia 
  • Convulsões 
  • Acidose metabólica 
  • Em casos graves, pode haver:  
    • Cegueira irreversível 
    • Choque 
    • Pancreatite 
    • Insuficiência renal  
    • Comprometimento neurológico 

Tratamento 

Como reforçado por órgãos de saúde e associações médicas, a intoxicação por metanol deve ser tratada imediatamente assim que constatada. Alguns contatos para se ter em mente para casos de intoxicação são o Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001; CIATox da sua cidade (lista aqui); Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país. 

Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), sociedade filiada ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) divulgou alerta reforçando essa necessidade e elencando o uso de antídotos como: 

  • Etanol venoso; 
  • bicarbonato para corrigir a acidez no sangue;  
  • vitaminas (ácido fólico/folínico);  
  • e, em casos graves, hemodiálise para remover o veneno. 

Ações governamentais

O Ministério da Saúde informou que instaurou um gabinete de crise com uma equipe técnica para analisar a situação, “planejar, organizar, coordenar e controlar as medidas a serem adotadas neste momento de Evento de Saúde Pública, devido aos casos registrados”. Tal equipe técnica será composta por representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Segurança Pública, Agricultura e Pecuária, Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).

Também foi anunciada o estabelecimento de um estoque estratégico em hospitais universitários federais e serviços do SUS com 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico. E a aquisição emergencial de mais 5 mil tratamentos (150 mil ampolas), o que de acordo com a pasta ministerial busca garantir a reposição e distribuição do produto conforme a necessidade do sistema de saúde. “Os pedidos e compras de antídotos que estamos fazendo são por precaução. Nos últimos anos, não ultrapassamos 20 casos por ano, mas temos observado um registro maior no estado de São Paulo. Essas são medidas preventivas do Ministério da Saúde”, afirmou o ministro da saúde, Alexandre Padilha.

Saiba mais: Brasil registra um caso de envenenamento a cada duas horas

Casos de intoxicação por metanol em São Paulo 

Falsificação de bebidas e riscos para saúde 

Como consequência deste caso ainda em desenvolvimento no estado de São Paulo o assunto das bebidas alcoólicas adulteradas ganhou os holofotes. Uma pesquisa da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp), divulgada no primeiro semestre de 2025, estimou que quase 40% das bebidas comercializadas no Brasil eram fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas.  

Segundo a Fhoresp“vinhos e destilados estão entre os mais afetados pela prática criminosa. Um dado alarmante: 1 em cada 5 garrafas de vodca vendidas no Brasil é falsificada.” 

O caso recente também gerou reação do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), que considerando a situação como um risco sanitário coletivo, emitiu nota pedindo um maior controle de fornecedores e da origem dos produtos por parte dos estabelecimentos, pedindo que estes se atentem a sinais de alerta para suspeita de adulteração, como por exemplo: preço muito abaixo do mercado, lacre/cápsula tortos, vidro com rebarbas, erros de ortografia ou acabamento gráfico em rótulos e embalagens além de odores estranhos e alterações afins. Lembrando que “testes caseiros” (cheirar, provar, acender) não são práticas seguras nem conclusivas. 

Leia também: Como se tornar médico toxicologista?

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal Afya.

Autoria

Foto de Augusto Coutinho

Augusto Coutinho

Jornalista formado pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) em 2009, com extensão em Produção Editorial (UNESP) e Planejamento Digital (M2BR Academy).

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Saúde