O câncer gástrico é uma doença representativa, sendo a quarta causa de óbito por câncer no mundo. O único tratamento potencialmente curativo para essa doença é a gastrectomia associada à linfadenectomia. Desde Kitano, em 1994, as técnicas de cirurgia minimamente invasiva vêm se desenvolvendo cada vez mais. Em 2003, Hashizume quebrou novamente paradigmas realizando a primeira gastrectomia por robô assistida.
Estudos recentes mostram eficácia semelhante entre gastrectomia aberta e por técnicas menos invasivas, desde que realizadas por cirurgiões experientes. Entretanto, as técnicas menos invasivas têm a vantagem de proporcionar recuperação e retorno às atividades habituais mais rápidas, menos dor e menor período de internação hospitalar.
A videolaparoscopia e a cirurgia robótica são as técnicas minimamente invasivas que podem ser empregadas na gastrectomia. Existem diferenças entre essas técnicas em diversas áreas e estudos estão sendo conduzidos com a finalidade de comparar a eficácia entre essas duas técnicas.
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Métodos
Uma meta-análise chinesa, publicada em setembro de 2024, comparou a eficácia em pacientes com câncer gástrico submetidos à gastrectomia distal por videolaparoscopia e robótica. O estudo conduzido por Li W et al. avaliou artigos envolvendo 3688 pacientes, dos quais 1844 foram submetidos à gastrectomia robô assistida e 1844 à gastrectomia por videolaparoscopia.
Resultados e Discussão
O desfecho primário foi a avaliação do tempo operatório, perda sanguínea e dissecção linfonodal. Foi identificado maior tempo operatório na gastrectomia robô assistida, com diferença média ponderada (DMP) de 30,64 minutos (IC de 95% 15,63–45,66; p < 0,00011). Entretanto, no grupo robótico a perda sanguínea estimada foi menor (DMP – 29,54 mL, IC de 95% − 47,14 a − 11,94; p = 0,001) e houve uma dissecção linfonodal melhor em relação ao grupo videolaparoscópico (DMP – 5,14, IC de 95% 2,39–7,88; p = 0,0002).
As medidas do desfecho secundário foram período de internação hospitalar, início de eliminação de flatus e complicações pós-operatórias. O tempo de internação hospitalar foi menor no grupo robô assistido, com DMP de 0,36 (IC de 95% − 0,60 a − 0,12; p = 0,004). Entretanto, não foi identificada diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos em relação ao tempo até à primeira eliminação de flatos e às complicações maiores.
Frente aos resultados encontrados algumas considerações foram levantadas pelos autores. O maior tempo operatório nas cirurgias assistidas por robô pode ser associado ao maior tempo de preparação para o início do tempo cirúrgico, como o docking (corresponde ao acoplamento do robô) e à pouca experiência do cirurgião com cirurgias robóticas.
A menor perda sanguínea pode ser atribuída aos sistemas avançados presentes na cirurgia robótica como sistema anti-tremor, visão tridimensional, maior ergonomia e hemostasia mais eficiente que ajudam a prevenir lesões vasculares e permitem dissecções mais precisas. Esses mesmos mecanismos também contribuem para otimizar a dissecção linfonodal. O menor estresse traumático na cirurgia robótica pode estar associado ao menor tempo de internação hospitalar.
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Para levar para casa
Ainda com os possíveis benefícios das cirurgias robóticas levantados na meta-análise chinesa, é preciso considerar que os elevados custos dessa cirurgia ainda são um fator limitante. A maioria dos planos de saúde não cobrem essa modalidade, sendo o valor das despesas com o robô cobertas pelo próprio paciente. À medida que estudos vão demonstrando benefícios com a cirurgia robótica, programas de incentivo e redução dos custos podem ser instituídos, levando a maiores taxas de procedimentos por essa técnica.
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