O câncer de esôfago é o nono mais comum em todo mundo. Os dois principais tipos são o carcinoma de células escamosas (CEC) e o adenocarcinoma respondendo por cerca de 95% dos cânceres de esôfago. A incidência do adenocarcinoma de esôfago e da junção esofagogástrica (JEG) vêm aumentando nos países desenvolvidos.
Nos últimos 10 anos, o tratamento do esôfago vem se desenvolvendo. Estudos como The Dutch Chemoradiotherapy for Oesophageal Cancer Follwed by Surgeru Study (CROSS) revolucionou o tratamento do câncer de esôfago com o estabelecimento de quimiorradioterapia pré-operatória seguido de cirurgia para CEC e adenocarcinoma de esôfago. Entretanto, a eficácia desse esquema nos casos de adenocarcinoma de esôfago e de JEG, menor comparada com o CEC, promoveu novos estudos.
Em janeiro de 2025, o tão esperado estudo ESOPEC trial, já apresentado na American Society of Clinical Oncology (ASCO) em 2024, foi publicado, trazendo novos paradigmas no tratamento do adenocarcinoma de esôfago e JEG.
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Métodos
O ESOPEC trial é um ensaio clínico fase 3 realizado em 25 centros oncológicos na Alemanha. O estudo avaliou 483 pacientes, randomizados em 2 grupos: grupo FLOT, com 221 pacientes e grupo quimiorradioterapia pré-operatória, com 217 pacientes.
No grupo FLOT (fluoracil, leucovorin, oxaliplatina, docetaxel), a proposta de tratamento foi quimioterapia perioperatória, com 4 ciclos de quimioterapia antes da cirurgia e 4 ciclos após, iniciados 4 a 6 semanas após a cirurgia. No grupo quimiorradioterpia pré-operatória, a proposta foi o tratamento aos moldes do protocolo CROSS, com radioterapia (na dose de 41,4Gy) e quimioterapia (carboplatina e paclitaxel – 5 ciclos semanais) antes da cirurgia.
Dentre os critérios de inclusão, o tipo histológico foi, obrigatoriamente, adenocarcinoma. O estádio tumoral (classificação TNM) foi T2-T4c, Nx, M0; ou Tx, N0, M0.
O seguimento oncológico desses pacientes foi realizado em 3 anos e o desfecho primário foi a sobrevida global. Os desfechos secundários foram sobrevida livre de doença, recidiva tumoral, estádio tumoral após a cirurgia, regressão tumoral após terapia pré-operatória, complicações, morte associada à cirurgia e eventos adversos.
Resultados e Discussão
A sobrevida global em 3 anos foi de 57,4% (95% IC, 50.1 a 54.0) no grupo FLOT e de 50,7% (95% IC; 43,5 a 57,5) no grupo quimiorradioterapia (HR 0,70; 95% IC, 0,53 a 0,92; p=0,01). A sobrevida global média foi de 66 meses no grupo FLOT e 37 meses no grupo quimiorradioterapia, indicando melhores resultados no grupo FLOT.
A análise dos desfechos secundários também revelou superioridade do grupo FLOT em relação à sobrevida livre de doença em 3 anos, que correspondeu a 51,6% (95% IC; 44,3 a 48,4) nesse grupo e 35,0% (95% IC; 28,4 a 41,7) no grupo quimiorradioterapia.
Os efeitos adversos graves foram observados em 98 pacientes (47,3%) no grupo FLOT e em 82 (41,8%) do grupo quimiorradioterapia.
Os resultados apurados no ESOPEC demonstram superioridade do esquema FLOT para pacientes com adenocarcinoma de esôfago e JEG em relação à quimiorradioterapia aos moldes do CROSS, evidenciados na maior sobrevida global e sobrevida livre de doença no grupo FLOT.
A recidiva locorregional, apesar de ter sido maior no grupo FLOT, não foi um evento comum, ocorrendo em 17 pacientes do grupo FLOT e em 9 pacientes do grupo quimiorradioterapia. Por outro lado, metástases a distância foram bem mais comuns no grupo quimiorradioterapia.
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Mensagem prática
O ESOPEC traz uma mudança de paradigmas no tratamento do adenocarcinoma de esôfago e JEG ao comprovar maior eficácia da quimioterapia perioperatória.
É importante ressaltar que o ensaio clínico em análise foi somente para pacientes com adenocarcinoma. Nos pacientes com CEC, o protocolo CROSS já está consolidado, demonstrando resultados superiores à cirurgia direta ou a neoadjuvância somente com quimioterapia para pacientes T2-T4c, Mx, M0; ou Tx, N+, M0.
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