Esofagectomia é uma das principais terapêuticas para tratamento do câncer de esôfago, porém a abordagem cirúrgica isolada tem sido acompanhada de altas taxas de recidiva tumoral. Nesse contexto, o uso de terapia neoadjuvante para tratamento dessa neoplasia apresentou melhora da taxa de sobrevida e estadiamento tumoral, tornando a associação de terapia neoadjuvante seguida de abordagem cirúrgica o tratamento de escolha do câncer de esôfago. Dentre tantas possíveis combinações de terapia, surge o questionamento:
Qual a estratégia neoadjuvante que, associada à esofagectomia, gera melhores resultados na sobrevida e estadiamento tumoral?
Pensando nisso, um recente estudo prospectivo multicêntrico comparou o uso isolado de quimioterapia (QT) versus quimioradioterapia neoadjuvante (QRT), ambas seguidas de esofagectomia minimamente invasiva, no tratamento do câncer de esôfago. Foram incluídos 264 pacientes com carcinoma de células escamosas localmente avançado. Destes, metade recebeu apenas ciclos de paclitaxel e cisplatina, e metade recebeu essa mesma associação acrescida de cinco sessões de radioterapia seguida de abordagem cirúrgica minimamente invasiva, seis semanas após a neoadjuvância.
As duas abordagens foram comparadas quanto aos principais desfechos de morbidade e mortalidade nos 90 dias seguintes à cirurgia. Em relação à taxa de complicação pós-operatória, não houve diferença significativa entre os dois grupos, além de ambos apresentarem taxa de mortalidade semelhante em até três meses após abordagem cirúrgica (3,5% no grupo QRT e 2,8% no QT). As principais causas de morte pós operatória foram insuficiência respiratória decorrente de síndrome da angústia respiratória aguda, síndrome da resposta inflamatória sistêmica em resposta a deiscência de anastomose, hemorragia do trato gastrointestinal severa, fístula traqueoesofágica e embolismo da artéria mesentérica superior.
A principal diferença foi observada em relação a melhora do estadiamento, visto que, por mais que ambas as abordagens tenham tido taxas semelhantes (97,3% em QRT vs 96,2% em QT) de ressecção com margens livres (R0), os pacientes tratados com QRT tiveram regressão mais considerável de tamanho tumoral (0% deste grupo apresentou tumor residual), além de quantidade menor de linfonodos envolvidos (66% de QRT não apresentaram linfonodos envolvidos), com melhor estadiamento TNM (classificação de tumores malignos).
Durante o seguimento houve redução significativa de mortes relacionadas à progressão ou recidiva tumoral no grupo tratado com QRT. Já a mortalidade relacionada a causas não neoplásicas foi semelhante em ambos os grupos.
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Em resumo, mantenhamos em mente que o uso de quimioradioterapia neoadjuvante associada à esofagectomia para tratar pacientes com câncer de esôfago ressecável apresenta potencial terapêutico promissor, visto que tem se mostrado efetiva na melhora do estadiamento tumoral e da mortalidade relacionada a progressão tumoral, sem significativo impacto da morbimortalidade pós-operatória. O próximo passo será entender qual o impacto desse tratamento na sobrevida a longo prazo.
Para levar para casa
No tratamento do câncer de esôfago (subtipos ressecáveis) o objetivo é associar cirurgia a terapias neoadjuvantes que melhorem sobrevida e estadiamento tumoral sem aumentar significativamente efeitos adversos ou mortalidade pós-operatória. Caso resultados semelhantes ao estudo apresentado sejam encontrados em estudos mais robustos, nossa perspectiva é que a radioterapia associada a quimioterapia seja eleita como neoadjuvância de escolha para esse perfil de paciente.
Referências bibliográficas:
- Wang H, Tang H, Fang Y, Tan L, Yin J, Shen Y et al. Morbidity and Mortality of Patients Who Underwent Minimally Invasive Esophagectomy After Neoadjuvant Chemoradiotherapy vs Neoadjuvant Chemotherapy for Locally Advanced Esophageal Squamous Cell Carcinoma. JAMA Surgery. 2021. doi: 10.1001/jamasurg.2021.0133
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