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Cirurgia12 dezembro 2023

Lipoenxertia como terapia regenerativa: quais são as atuais indicações?

A lipoenxertia autóloga tem sido utilizada para tratamento da SDPM com melhora significativa dos sintomas reportados.

A enxertia de gordura autóloga tem ganhado relevância crescente nas últimas décadas por seu potencial de auxiliar na regeneração tecidual. Ela é composta pela fração vascular estromal (FVE), que contêm pré-adipócitos e células-tronco (CTDA, células tronco derivadas do tecido adiposo), com capacidade de diferenciação em outras linhagens celulares (ectodérmica e endodérmica).

Pela significativa concentração de CTDA, estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado capacidade antifibrótica, anti-inflamatória, antiapoptótica e imunomodulatória do tecido adiposo, expandindo sua aplicabilidade clínica.  

Um artigo recente publicado na Plastic and Reconstructive Surgery revisou as atuais aplicações clínicas da lipoenxertia como terapia regenerativa, as quais discutiremos a seguir.   

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lipoenxertia

Manejo da dor neuropática e inflamatória

A fisiopatologia da dor neuropática é complexa, envolvendo compressão nervosa, inflamação local crônica e formação de neuroma. Patologias como a síndrome da dor pós-mastectomia (SDPM) podem resultar de lesão nervosa direta durante a mastectomia associada aos efeitos da terapia adjuvante, como compressão neural por fibrose e aumento da produção de mediadores pró-inflamatórios locais.   

A lipoenxertia autóloga tem sido utilizada para tratamento da SDPM com melhora significativa dos sintomas reportados e redução da necessidade de medicações para controle álgico. Acredita-se que esse efeito decorre da descompressão nervosa, associada à liberação de mediadores anti-inflamatórios e ação direta das CTDA que auxiliam na regeneração neural.   

Além disso, a lipoenxertia também tem sido utilizada no tratamento de dor neuropática em grandes queimados, com efeitos como redução de área cicatricial, aumento da angiogênese e ação anti-inflamatória, além de redução de dor e recuperação funcional.   

Já em estágios iniciais de osteoartrite, a lipoenxertia tem reduzido significativamente a dor local e a necessidade de procedimentos invasivos. Em pacientes com rizartrose, por exemplo, esse procedimento tem sido realizado com reabilitação satisfatória, sendo considerado, em casos iniciais, como terapia de primeira linha, em detrimento de abordagens como trapeziectomia. Acredita-se que o efeito benéfico da gordura é decorrente do aumento da viscosidade do líquido sinovial nas articulações, associado à ação das CTDA na regeneração cartilaginosa.   

Em casos de enxaqueca refratária ao tratamento comportamental e medicamentoso, tem-se realizado cirurgia de descompressão nervosa em pontos-gatilho. A associação de lipoenxertia nessa abordagem tem mostrado potencial benefício na redução de episódios álgicos, provavelmente por sua ação neurogenerativa e anti-inflamatória.  

Tratamento de cicatrizes, fibrose e feridas

Alterações cutâneas cicatriciais têm apresentado melhora do aspecto global (coloração, elasticidade, regularidade) após enxertia de gordura, sendo traduzida como potencial reabilitação funcional. Estudos realizados em feridas de difícil cicatrização, como úlceras diabéticas e venosas, demonstraram redução da fibrose e hipertrofia cutânea local, além de cicatrização de úlceras da maioria dos pacientes tratados com lipoenxertia. Outros contextos em que a gordura tem sido usada com resultados promissores são: o tratamento de defeitos cicatriciais funcionais e estéticos após radioterapia e as fissuras anais complexas.  

Restauração capilar

Intradermoterapia de componentes derivados da gordura (CTDA, fatores de crescimento e citocinas) tem sido utilizada para tratamento de alopecia, resultando no estímulo de crescimento dos folículos pilosos, atividade angiogênica local e cicatrização de feridas. Acredita-se que esse benefício é decorrente da atividade anti-inflamatória e anti-androgênica local.  

Tratamento de fissura labiopalatina

A associação de lipoenxertia na correção de fissura labial demonstrou melhora do contorno labial, cicatrização e aspecto final. Também sendo utilizada na correção de fissura palatina com insuficiência velofaríngea moderada, resulta na restauração da competência do esfíncter velofaríngeo.   

Rejuvenescimento facial 

Em pacientes submetidas à ritidoplastia, a aplicação de FVE reduziu elastose, estimulou angiogênese e remodelamento dérmico, traduzido como rejuvenescimento cutâneo. Também observou-se que a aplicação intradérmica de nanofat, concentrado de células progenitoras da gordura, melhora significativamente a qualidade da pele.   

Tratamento de doenças autoimunes 

Acredita-se que manifestações vasculares e cutâneas de patologias autoimunes podem se beneficiar do potencial regenerativo da gordura. Estudos realizados em paciente com esclerodermia, fenômeno de Raynaud e líquen escleroso mostraram melhora de sintomas e recuperação da funcionalidade de membros afetados após lipoenxertia, porém seu uso ainda é controverso pelo risco potencial de reativação da doença ocasionada pelo estímulo tecidual local.   

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Mensagem prática  

O efeito regenerativo da lipoenxertia tem demonstrado potencial benefício no tratamento de um amplo espectro de condições clínicas, promovendo melhora estética e funcional, o que repercute na qualidade de vida do paciente. Embora promissor, seu uso em larga escala demanda protocolos baseados em evidências mais robustas, assim como melhor entendimento de seu mecanismo de ação e risco inerentes ao seu uso.  

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Referências bibliográficas

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