O adenocarcinoma de pâncreas é uma das principais causas de morte por câncer no mundo. Isso se deve, na maioria dos casos, ao fato de a doença já estar em estágio avançado no momento do diagnóstico. Além disso, as taxas de recidiva e disseminação à distância após ressecção são fatores que contribuem para o pior prognóstico desse câncer.
Aproximadamente, 25% dos pacientes submetidos à ressecção cirúrgica apresentam recidiva local isolada, com sobrevida estimada em 26 meses. Entretanto, o prognóstico desses pacientes é melhor quando comparado a recidiva à distância, como no fígado ou em outros órgãos, que tem uma sobrevida estimada de cerca de 15 a 18 meses.
A identificação de fatores que possam indicar a recidiva local com segurança permite o estabelecimento de tratamento em tempo hábil e pode melhorar a sobrevida dos pacientes.
Metodologia
Um estudo de coorte observacional holandês avaliou, em âmbito nacional, 1693 pacientes portadores de adenocarcinoma ductal de pâncreas, submetidos à ressecção cirúrgica entre 2014 e 2019. O objetivo do estudo foi a identificação de preditores de recidiva local.
Fatores de risco potenciais como ressecabilidade, conclusão de neoadjuvância, níveis de CA 19.9, localização do tumor no pâncreas, ressecção vascular, tamanho do tumor, diferenciação tumoral, invasão linfovascular, margem de ressecção e conclusão de quimioterapia adjuvante foram inicialmente selecionados para avaliação.
Os pacientes foram divididos em três grupos: recidiva local, recidiva sistêmica (sem recidiva local) e recidiva local e sistêmica concomitante.
O que o foi encontrado no estudo
Dos 1693 pacientes avaliados 1194 (71%) apresentaram recidiva e a média da sobrevida livre de doença foi de 11 meses (95% CI 11-2 meses). Dentre esses, 252 (21%) apresentaram recidiva local; 473 (40%) recidiva sistêmica; 469 (39%) recidiva local e sistêmica concomitante.
Comparando o grupo de recidiva local com os outros dois grupos, Van Goor et al. identificaram que o primeiro grupo apresentou maior número de ressecção vascular (39% versus 31%; p = 0,03), estadiamento mais favorável (p < 0,01), melhor grau de diferenciação (76% vs 69%; P= 0,02), menos invasão linfovascular (55% vs 71%; P <0,001) e toleraram melhor a quimioterapia com adjuvância completa em 71% vs. 63% (P <0,01).
Quais fatores prognósticos foram estabelecidos
A quimioterapia adjuvante foi excluída como variável devido a resultados controversos em relação à recidiva local. Vários aspectos estão envolvidos e ainda não foi possível incluir a quimioterapia como variável para recidiva local.
Dentre todos os fatores avaliados, Van Goor et al. elencaram seis covaríáveis preditoras para recidiva local: ressecabilidade pré-operatória (boderline vs. ressecável), localização do tumor (cabeça vs. corpo/cauda), ressecção vascular, invasão perineural, número de linfonodos acometidos e margem de ressecção (R1 < 1mm; R0 ≥ 1 mm).
Considerações
Alguns fatores levantados no estudo como a quimioterapia e as margens com ressecção R1 < 1mm (margens microscópicas) têm resultados controversos e precisam ser melhor investigados para correlação com recidiva local.
Além disso, o estudo holandês em análise é uma análise retrospectiva, que carrega os vieses inerentes a essa modalidade.
Ainda assim, o conhecimento de fatores que podem sinalizar uma recidiva local com potencial de cura é uma ferramenta muito útil e importante para melhorar a sobrevida global dos pacientes. O aprofundamento em tais análises deve ser levado em conta e os resultados obtidos com levantamento conduzidos por van Goor et al. ajuda a direcionar novos estudos.
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