O câncer de reto apresenta uma importante representatividade entre as doenças oncológicas, sendo uma das principais causas de morte por câncer. Estudos recentes estimam aumento em 2 vezes na incidência dessa neoplasia na população abaixo dos 50 anos nos últimos 10 anos.
Por outro lado, avanços nas técnicas cirúrgicas possibilitam cada vez mais resultados promissores. A cirurgia tradicional vem sendo substituída pela cirurgia minimamente invasiva com melhores resultados e menor morbidade cirúrgica. Nesse contexto, a cirurgia robótica, uma técnica minimamente invasiva mais aprimorada e com mais recursos comparada a videolaparoscopia, apresenta resultados promissores.
Métodos
Um levantamento de ensaios clínicos comparou resultados entre cirurgia robótica e videolaparoscopia no tratamento de câncer de reto médio e inferior. O estudo conduzido por Khan et al. avaliou 15 ensaios clínicos randomizados, envolvendo um total de 4.218 pacientes alocados em 2 grupos: cirurgia robótica (2.109 pacientes) e videolaparoscopia (2.109).
Resultados e discussão
Vários pontos da meta-análise não mostraram superioridade de resultados entre a cirurgia robótica e a videolaparoscopia, seja pela ausência de significância estatística ou pela alta heterogeneidade entre os ensaios levantados. Uma das poucas diferenças identificadas com significância estatística foi a taxa de conversão para cirurgia aberta que, no grupo robótico, foi menor em relação a videolaparoscopia (RR = 0,53, IC de 95%: 0,38–0,74, P = 0,0002). Isso possivelmente está relacionado à visão tridimensional e maior ergonomia proporcionada pela cirurgia robótica.
Um fato interessante foi a alta heterogeneidade identificada no tempo cirúrgico. Ensaios clínicos com amostras pequenas, de até 100 pacientes, apontaram para maior tempo operatório na cirurgia robótica. Entretanto, em ensaios com amostras maiores, com mais de 100 pacientes, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as técnicas robóticas ou videolaparoscópicas.
Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos quando se comparou complicações relacionadas à cirurgia como fístula, abscesso intra-abdominal, íleo paralítico, retenção urinária, ou infecção da ferida operatória.
Sangramento intraoperatório apresentou menores taxas na cirurgia robótica em relação a videolaproscopia (RR = 1,07, IC de 95%: 1,01 1,14, P = 0,03), mas é importante destacar que houve grande heterogeneidade entre os ensaios analisados.
Em relação aos aspectos oncológicos, o grupo robótico apresentou melhores resultados em relação à excisão total do mesorreto (RR = 1,07, IC de 95%: 1,01–1,14, P = 0,03) e maiores taxas de margens circunferências livres (RR = 0,67, IC de 95%:0,49–0,91, P = 0,01). No entanto, outros aspectos oncológicos avaliados como dissecção linfonodal, recidiva de doença ou margem distal não apresentaram diferenças estatísticas.
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O que levar para casa?
Um dos primeiros passos para se estabelecer uma nova categoria terapêutica é demonstrar que ela é eficaz, segura e tecnicamente viável. Nesse aspecto, a cirurgia robótica para pacientes com câncer retal vem mostrando seu potencial e, além disso, possíveis vantagens como menores taxa de conversão, sangramento e, também, melhores resultados na ressecção total do mesorreto e margens circunferenciais livres.
No entanto, há vários fatores a se considerar como necessidade de mais estudos para se estabelecer com segurança as vantagens da cirurgia robótica e os custos ainda altamente elevados dessa modalidade.
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