Como a cirurgia robótica avança no Brasil e no mundo
Recentemente, pesquisadores anunciaram que um robô realizou cirurgias complexas bem-sucedidas. Onde estamos com a cirurgia robótica?
Recentemente, pesquisadores americanos anunciaram que um robô realizou cirurgias complexas bem-sucedidas, que produziram resultados significativamente melhores do que os usualmente produzidos pelos médicos.
Contudo, os pacientes não eram seres humanos. Ainda. O Smart Tissue Autônomo Robot (STAR), desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, realizou cirurgias laparoscópicas para conectar duas extremidades do intestino de porcos.
Essa foi a primeira vez que um robô realizou uma cirurgia laparoscópica sem a ajuda humana, mostrando como será possível automatizar uma das tarefas mais complexas e delicadas da cirurgia: a reconexão de duas extremidades de um intestino.
O novo robô tem recursos que permitem uma maior precisão na cirurgia, incluindo ferramentas especializadas de sutura e sistemas de imagem que fornecem visualizações mais precisas do campo cirúrgico.
Os médicos Azad Shademan e Peter Kim, líderes do projeto, explicam que os cirurgiões seguem um ritual básico com três “elementos”: a visão para verificação do estado atual do tecido, a mente como fonte de conhecimento para tomada de decisões e técnicas manuais de cirurgia.
Já o robô cirurgião STAR foi equipado com câmeras 3D com sistema de visão noturna que permitem a identificação com detalhes de toda a área que será operada. Nessa fase, o robô já é capaz de utilizar as informações visuais obtidas para definir a técnica cirúrgica mais adequada.
No procedimento cirúrgico em si, uma espécie de braço mecânico utiliza um sensor que mede tensão e a força para realizar suturas ou cortes com bastante precisão.
Todavia, o robô precisa da ajuda dos médicos para a realização de certas tarefas. Os cirurgiões tiveram, por exemplo, que usar marcadores fluorescentes para indicar quais pontos do tecido deveriam ser operados. Até porque o projeto foi desenvolvido desde o início para o robô ter autonomia supervisionada pelos médicos responsáveis.
Segundo estimativas de instituições internacionais, cerca de 8,5 milhões de pacientes já foram operados através de cirurgias robóticas, sendo que no Brasil foram mais de 15 mil desse total. Somente no último ano foram realizadas mais de 1 milhão dessas cirurgias ao redor do mundo.
Cirurgia robótica
Especialistas destacam que a cirurgia com robôs é menos invasiva, com menos sangramento, reduzindo ainda o risco de infecção e acelerando o retorno do paciente à vida normal.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Capítulo do Rio de Janeiro (SOBRACIL-RJ), o médico Thiers Soares, ressaltou que esse tipo de procedimento possibilita que a internação e a alta hospitalar da paciente seja mais rápida, garantindo uma redução de tempo dentro da unidade e diminuindo seu tempo de exposição e risco ao novo coronavírus.
“O robô Da Vinci, por exemplo, possibilita uma visão 3D dos órgãos, além de ampliar a atuação médica com mais mobilidade durante o procedimento. Ele tem uma capacidade de articulação maior do que teria manualmente, com movimentos muito mais angulados”, apontou Thiers Soares, em entrevista ao Portal PEBMED.
Também na cirurgia de endometriose profunda ou oncologia ginecológica, onde 40% dos casos de câncer de endométrio estão relacionados à obesidade, o robô pode oferecer grandes vantagens, como uma maior segurança para tratar áreas anatômicas de difícil acesso, facilitar uma visão ampliada e clara do interior do paciente, garantir um manuseio estável e sem temores dos instrumentos cirúrgicos, além de permitir a máxima precisão dos movimentos das mãos do cirurgião.
“A visão do procedimento é em 3D e suas pinças têm movimentação articulares superiores à mão humana. Uma segunda diferença é a impressão de que você está operando com o rosto dentro do abdômen do paciente. Estudos indicam que a cirurgia robótica, por ser mais precisa, permite uma sutura mais assertiva, causando uma recuperação mais rápida e com menos dor”, ressaltou Thiers Soares.
O chefe da Uro-Ginecologia e coordenador de Residência Médica em Urologia do Hospital Federal do Andaraí, o cirurgião urologista José Alexandre Araújo, também destacou alguns benefícios da nova plataforma tecnológica, em entrevista ao Portal PEBMED.
“Com a ajuda dos robôs, temos mais facilidade para mexer pinças e dispositivos que ajudam nas cirurgias do que em uma laparoscopia. A robótica em pacientes mais complexos, como grandes obesos e pacientes com múltiplas aderências abdominais, pacientes que já foram submetidos a outras cirurgias, é mais precisa e mais fácil”, disse José Araújo, que também é chefe da Uro-Oncologia do Hospital Mário Kroeff e de Uroginecologia da seccional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Robô Da Vinci
De origem norte-americana, o robô Da Vinci é uma plataforma que tem a aparência de um ‘polvo’, com três braços para os instrumentos cirúrgicos e um braço para visualizar os órgãos do paciente. Como em um microscópio, o cirurgião encaixa a face no visor do robô e manuseia o aparelho inteiro pelos controles do console.
Aqui no Brasil já existem hospitais líderes na área, com mais de dez robôs disponíveis para cirurgia. Para cada um desses estabelecimentos, aproximadamente 4 mil cirurgias foram realizadas.
O robô é composto por três partes: o console (controle), o robô propriamente dito e o rack de imagem, em que o médico visualiza todo o procedimento. Apesar de ter um modelo bem definido, o robô continua a passar por estudos e implementações para se tornar ainda mais eficiente.
“Cada vez mais plataformas robóticas estão chegando ao Brasil, Com a patente sendo quebrada, robôs mais baratos e viáveis estão chegando ao país. Mas, como em qualquer cirurgia, é necessário: verificar se o paciente realmente precisa passar por aquele procedimento, pois mesmo ele sendo minimamente invasivo, é uma cirurgia. Outro cuidado é saber se o médico está apto a fazer o procedimento, uma vez que é necessário ter uma curva de aprendizado. Geralmente, um especialista com maior número de cirurgias pode ajudar até que o médico tenha uma curva boa. Mas, não adianta submeter o paciente a uma cirurgia robótica se não resolver o problema dele. Por exemplo: em uma cirurgia de câncer de próstata, se utilizarmos a robótica ela não irá remover tudo que é necessário como em uma cirurgia aberta. Então, o procedimento deve ser escolhido onde tenha um resultado de sucesso alcançado”, esclareceu o cirurgião urologista José Alexandre Araújo.
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Especialidades mais beneficiadas
A cirurgia robótica tem como alvo principal os procedimentos minimamente invasivos na área de urologia, ginecológicas, digestivas, colorretal e torácicas, que envolvem um grande detalhamento anatômico ou procedimentos cirúrgicos realizados em pequenos espaços e cavidades.
No dia 5 de outubro de 2021, os Serviços de Urologia e Ginecologia do Hospital Clínic, em Barcelona, realizaram com sucesso o primeiro transplante de útero na Espanha, que foi parcialmente realizado através da cirurgia robótica.
“No caso da retirada de miomas, por exemplo, a cirurgia robótica permite uma sutura melhor da área afetada. Além disso, é possível identificar melhor os focos de endometriose, garantindo uma visão mais adequada dos tecidos. A visão 3D presente no robô, ajuda na identificação de estruturas anatômicas bem delicadas – proporcionando mais segurança e precisão ao procedimento”, explicou Thiers Soares.
Alto investimento
Nos Estados Unidos, mais de mil robôs já estão em atuação. O custo de implantação em hospitais é alto, daí a importância de mão de obra médica especializada: o profissional deve realizar o procedimento de maneira impecável, uma vez que é bastante delicado e também reflete em um investimento maior para o paciente.
“Uma plataforma robótica custa, em média, 2,5 milhões de dólares. Geralmente, nesse valor está incluído a assistência técnica e o treinamento. Em alguns hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) já existe essa tecnologia disponível. Mas no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ainda não. Nesse caso, existe uma série de etapas, que pode demorar um pouco mais para acontecer”, revelou o presidente da SOBRACIL-RJ.
“Apenas para o paciente utilizar o robô, o valor está entre 10 e 15 mil reais”, informou José Alexandre Araújo, chefe da Uro-Ginecologia do Hospital Federal do Andaraí.
Os especialistas entrevistados concordam que com o avanço do aprimoramento das plataformas robóticas, a concorrência tende a aumentar e o preço a cair a médio e longo prazos.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
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