O tratamento de feridas em idosos é, muitas vezes, desafiador. Primordialmente, devido às comorbidades, haja vista que estudos demonstram incidência de doenças concomitantes em até 80% desta população. Ademais, deve-se considerar a fragilidade desses indivíduos, que apresentam maior sensibilidade a lacerações da pele, traumas leves e consequências de intervenções cirúrgicas. Sem falar das feridas crônicas, tais como as úlceras de membros inferiores (úlceras venosas), pé diabético, insuficiência renal e escaras por pressão.
Metodologia
Um artigo recente do Departamento de Cirurgia do South Shore Health, Weymouth, MA, abordou os principais aspectos cirúrgicos dos pacientes idosos. Este estudo discutiu estatísticas, epidemiologia, fatores e comorbidades associadas a feridas e cirurgias na população idosa.
Discussão
Existem muitos fatores importantes que devem ser considerados quando lidamos com cirurgia em pacientes mais velhos.
A avaliação pré-operatória é fundamental para tentar minimizar riscos de complicações pós-operatórias como delirium, uma das mais comuns e que implica em aumento do tempo de internação hospitalar, na recuperação e no retorno às atividades habituais. É importante a realização de testes cognitivos e a participação de parentes e cuidadores no pré-operatório.
Ademais, outros fatores são discutidos, como índice de fragilidade, medicamentos que devem ser evitados, comorbidades associadas e se a cirurgia será benéfica para o paciente.
As feridas constituem um grande determinante na qualidade de vida e na fragilidade dos pacientes idosos, sendo que estudos revelam que em pacientes acima de 70 anos, a fragilidade é muito maior em pacientes com feridas crônicas (75%) do que na população geral (26%).
A presença de comorbidades muitas vezes mascara o real diagnóstico e leva a atraso no início do tratamento. Uma ferida causada por um pequeno trauma que não cicatriza deve levantar suspeitas de acometimentos vasculares, bem como doenças associadas como neoplasias. Quando há dúvidas diagnósticas, biópsias incisionais simples, à beira-leito, podem ser uma ferramenta útil no diagnóstico.
O emprego de retalhos e enxertos deve ser avaliado, especialmente em grandes feridas causadas pela ressecção de tumores de pele. Existem também tratamentos modernos que têm resultados muito bons no cuidado de feridas em idosos. Técnicas como desbridamento hidrocirúrgico, microenxerto e terapia por pressão negativa auxiliam principalmente na redução do edema e de diversos fatores relacionados à cicatrização.
Podemos relatar três fatores que têm destaque no tratamento pós-operatório de feridas: controle da dor, controle do edema e mobilidade. Um controle eficaz da dor pode contribuir para cicatrização, no sentido de diminuir a vasoconstrição e levar os pacientes a acolher os cuidados adequados com a ferida operatória.
Levando em conta que a maioria dos idosos apresenta algum grau de edema nas extremidades inferiores, a maioria dos autores recomenda que seja realizada algum tipo de compressão, após qualquer procedimento cirúrgico nessas extremidades, para evitar o desenvolvimento de edema acentuado. O repouso por um longo período é nocivo e já existem estudos mostrando o desenvolvimento de atrofia muscular no organismo humano dentro de 72 horas de repouso na cama, com agravo nos idosos. Por isso, a mobilização precoce é fundamental.
Conclusão
O manejo das feridas nos pacientes idosos é tarefa complexa, que requer, além da aplicação dos princípios básicos do tratamento do ferido, integração da equipe de saúde com o paciente, com a família e com os cuidadores. Todo empenho em prol da cicatrização deve ser apoiado, associando tratamento adequado com terapias modernas com a adequação na preparação pré-operatória e cuidados no pós-operatório, controlando fatores fundamentais, como dor, edema e mobilização.
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