Com o envelhecimento populacional, é cada vez mais frequente que cirurgias sejam realizadas em pacientes com 65 anos ou mais. Estima-se que cerca de 50% dos procedimentos cirúrgicos sejam realizados em pacientes com 65 anos ou mais. Essa é uma população de alto risco peri-operatório devido fatores como: comorbidades, polifarmácia, fragilidade, sarcopenia e disfunção cognitiva. Entretanto, ferramentas tradicionais de avaliação de risco cirúrgico (como ASA RCRI ou ACS NSQIP) nessa população podem neglicenciar essas características que contribuem para o risco cirúrgico no idoso. Por isso, existe uma demanda para implementação de uma ferramenta mais específica no pré-operatório, a Avaliação Geriátrica Abrangente (AGA) – do inglês, Comprehensive Geriatric Assessmen (CGA).
Esse é um artigo de revisão publicado em setembro de 2024 na revista Diagnostics, que foca no valor preditivo da ferramenta AGA para prognóstico pós operatório e na implementação de intervenções perioperatórias.
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Metodologia
AGA inclui avaliações de fragilidade, sarcopenia, estado nutricional, função cognitiva, doenças mentais e funcinalidade, que são importantes preditores de desfechos pós-operatórios. Além disso, AGA pode ajudar a direcionar o cuidado perioperatório, incluindo suporte nutricional, atividade física e intervenções de saúde mental para promover melhores desfechos cirúurgicos e redução de declínio funcional.
Esta revisão tem como objetivo fornecer uma visão abrangente da avaliação de risco perioperatório e manejo de pacientes geriátricos. Uma avaliação perioperatória abrangente que pode prever com precisão resultados é crucial para informar adequadamente os pacientes durante o processo de tomada de decisão compartilhada. Além disso, esta avaliação pode revelar grupos específicos de pacientes que podem estar candidatos à reabilitação pré e pós-operatória para melhorar seu curto e resultados a longo prazo.
Resultados
A Avaliação Geriátrica Abrangente é processo de diagnóstico multidimensional e interdisciplinar para determinar as capacidades médicas, psicológicas e funcionais dos idosos. É considerado o padrão ouro para avaliar pacientes geriátricos e adaptar intervenções para melhorar resultados. AGA normalmente inclui avaliações de parâmetros, como: comorbidades médicas, presença de polifarmácia, presença de fragilidade, estado funcional (incluindo sarcopenia), função cognitiva, estado nutricional, risco de quedas e fatores psicossociais.
Os resultados mostram que AGA é uma ferramenta melhor quando comparada a modelos tradicionais por sua maior acurácia em identificar idosos com maior risco de complicações, como delirium pós-operatório, infecções e aumento do tempo de internação hospitalar. Entretanto a sua implementação nos serviços pode ser complexa, demorada e dependente de profissionais treinados.
AGA pode auxiliar nas decisões cirúrgicas (ex: curativo ou paliativo) além de selecionar qual perfil de paciente mais se beneficiará de intervenções perioperatórias para prevenir declínio funcional.
Manejo perioperatório e reabilitação eficazes são cruciais para melhorar a recuperação, minimizar complicações e declínio funcional e melhorar as taxas de sobrevida global de pacientes geriátricos. Por isso são importantes intervençoes nutricionais, de fisioterapia e correção de deficiências específicas se necessário (ex: anemia, deficiência de vitamina D e hipogonadismo).
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Conclusão
A crescente população de pacientes idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos apresenta desafios que podem não ser adequadamente abordados pelas tradicionais ferramentas de avaliação de risco pré-operatório. Por isso, o artigo sugere uso da CGA como uma forma mais ampla e confiável abordagem avaliar as necessidades perioperatórias desses pacientes pois inclui fatores como fragilidade, sarcopenia, estado nutricional, função cognitiva e funcional capacidade.
Desta forma, a CGA permite aos médicos prever complicações pós-operatórias com precisão maior e adaptar intervenções, incluindo pré-habilitação e cuidados pós-operatórios direcionados para melhorar os desfechos. Embora a implementação da CGA na prática clínica diária possa ser complexa, seu potencial para melhorar a avaliação de risco perioperatório e os resultados pós-operatórios pode justificar seu uso rotineiro na população idosa.
Autoria
Letícia Japiassú
Médica endocrinologista com Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (2008) e especialização pela Associação Brasileira de Nutrologia (2020). Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2006).
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