De acordo com critérios pré-estabelecidos, o transplante hepático (TH) é o padrão de tratamento para várias doenças graves, como cirrose hepática, insuficiência hepática, doenças oncológicas, entre outros. O TH na América Latina vem aumentando progressivamente nos últimos anos, com países como Brasil, Argentina e Uruguai alcançando taxas compatíveis com países desenvolvidos.
A Associação Latino-Americana para Estudo do Fígado (ALEH) publicou em junho de 2025 o primeiro posicionamento em relação ao TH, abordando questões referentes a indicações, avalição do TH e manejo do paciente na lista de espera, baseado na realidade e aplicabilidade do TH na América Latina.
Pelo fato de se tratar de uma região altamente heterogênea, com distribuições socioeconômicas desiguais e acesso irregular a recursos de saúde, o TH na América Latina é considerado inconsistente. Portanto, o posicionamento da ALEH é fundamental para que haja padronização e regulação do TH em toda região.
Assim, um levantamento envolvendo critérios de encaminhamento para TH, avaliação pré-transplante e manejo de pacientes em lista de espera foi realizado por um comitê de especialistas da ALEH.
Métodos
Para o desenvolvimento de recomendações baseadas em evidências, foram avaliados dados da literatura médica e em pesquisa online em centros de TH. Foram avaliados artigos publicados entre janeiro de 1990 a dezembro de 2024 e 20 centros de TH em 14 países da América Latina, no período entre janeiro e maio de 2023.
Critérios de encaminhamento para TH
As recomendações da ALEH para TH envolveram doenças hepáticas como cirrose hepática e insuficiência hepática aguda. Os critérios para cirrose são a presença de ascite, hemorragia digestiva por varizes, peritonite bacteriana espontânea, síndrome hepatorrenal ou encefalopatia hepática (cirrose descompensada) e/ou escore MELD ≥ 15, independentemente da etiologia.
Para insuficiência hepática a indicação é lesão hepática aguda grave (tempo de protrombina < 50% ou INR > 1,5). TH está sendo considerado em casos de insuficiência hepática crônico aguda grau 2-3 e hepatite grave associada a álcool.
No que se refere a doenças oncológicas, o TH é indicado para hepatocarcinoma que atendam aos critérios de Milão (tumor único com menos de 5 cm ou até 3 tumores com menos de 3 cm cada, sem doença extra-hepática) ou para aqueles com redução da carga tumoral após terapias locorregionais. Pacientes com metástases irressecáveis de tumores neuroendócrinos (TNE) que se enquadram nos critérios de Milão para metástase hepática neuroendócrina também têm indicação de TH.
Tais critérios são histologia tumoral bem diferenciada (G1) ou moderadamente diferenciada (G2), drenagem do tumor primário pelo sistema porta, acometimento do parênquima menor que 50%, ressecção completa do tumor primário e de quaisquer lesões extra-hepáticas com doença estável ou boa resposta ao tratamento por pelo menos 6 meses e idade inferior a 60 anos (critério relativo). Casos selecionados de colangiocarcinoma perihilar e intra-hepático, e metástases de adenocarcinoma colorretal podem ter indicações de TH.
Avaliação pré-transplante
Esse processo envolve a constatação da irreversibilidade da doença hepática do paciente e da ausência de outros tratamentos aplicáveis com impacto positivo no prognóstico. É conduzido por equipe multidisciplinar envolvendo hepatologista, cirurgião entre outras áreas médicas, bem como enfermeiro, nutricionista e assistente social.
Na avaliação pré-transplante são considerados a presença de comorbidades, idade, estado nutricional, questões psicossiciais e ausência de contraindicações.
Veja também: Quais são os preditores de sobrevida após transplante hepático do paciente com NAFLD?
Mensagem prática
O estabelecimento de critérios de encaminhamento permite o reconhecimento precoce de candidatos a TH e o encaminhamento em tempo hábil para centros especializados, o que contribui para mitigar agravos da doença de base, complicações perioperatórias e mortalidade.
Além disso, a padronização de questões sobre TH em um vasto território como a América Latina pode promover maior segurança e previsibilidade para doadores e receptores ao uniformizar práticas clínicas e critérios de seleção de pacientes.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.