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Gastroenterologia18 julho 2022

Quais são os preditores de sobrevida após transplante hepático do paciente com NAFLD?

Uma revisão sistemática com metanálise buscou identificar os principais preditores de sobrevida após transplante hepático nesse grupo.

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é uma doença com aumento de prevalência mundial e a prevalência estimada de esteato-hepatite não alcoólica (NASH) é de 3-5%. Atualmente, essa condição é a segunda principal indicação de transplante hepático nos EUA.

A DHGNA geralmente está inserida em um contexto de síndrome metabólica, sendo frequentes comorbidades como DM, obesidade, dislipidemia e doença renal crônica. Dessa forma, o risco cirúrgico cardiovascular do transplante hepático nesses pacientes tende a ser 2 vezes maior do que nas outras indicações.

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Recentemente, foi publicado no The Lancet uma revisão sistemática com metanálise a fim de identificar os principais preditores de sobrevida pós transplante hepático nesse grupo de pacientes, com o objetivo clínico de auxiliar no ajuste de fatores de risco modificáveis e também otimizar tomada de decisões quanto a transplante hepático.

Quais são os preditores de sobrevida pós transplante hepático do paciente com NAFLD?

Métodos

Realizada revisão sistemática e metanálise com estudos das principais bases de dado no período entre 18 de junho de 2020 a 28 de abril de 2022.

Os critérios de inclusão basearam-se no desenho do estudo, na população e nos resultados.

  • Desenho do estudo: observacionais, ensaio clínico randomizado, revisão sistemática/metanálise;
  • População: pacientes pós transplante hepático por NAFLD/NASH e sem outras indicações além de NASH;
  • Resultados: analisados em uma coorte NASH (com ou sem comparação com não NASH) — avaliando sobrevida do paciente e enxerto em 1-3-5-10 anos e sobrevida global.

Foram excluídos estudos pediátricos, em animais, de retransplante e estudos que classificaram pacientes com cirrose criptogênica e IMC < 30 como cirrose por NASH.

Foram coletados dados quanto ao tipo de estudo, grupos/subgrupos, tamanho da amostra, dados demográficos do paciente e doador, variáveis clínicas pré e pós transplante, variáveis do enxerto e das cirurgias.

Heterogeneidade foi avaliada através do índice de inconsistência (I²) e na presença de ensaios heterogêneos, o modelo de efeitos aleatórios foi utilizado para cálculo da razão de chances e IC 95%.  Além disso, estudos com alto risco de viés foram excluídos da análise.

Resultados da revisão sobre o pós transplante hepático nestes pacientes

Foram identificados 8.538 títulos na literatura, contudo após aplicar critérios de exclusão, apenas 25 estudos foram incluídos na revisão sistemática e 5 na metanálise. Esses estudos avaliaram 27 preditores de sobrevida do paciente e 11 preditores de sobrevida do enxerto.

As variáveis preditivas de sobrevida pós transplante em pacientes com NAFLD foram:

  • Idade do receptor;
  • Estado funcional;
  • CHC;
  • MELD;
  • Diabetes;
  • Terapia de substituição renal pré-transplante;
  • Encefalopatia hepática;
  • Trombose de veia porta;
  • Internação em UTI no Transplante hepático ou dentro de 1 ano do transplante.

Além disso, preditores não previamente declarados, também foram significativamente associados a sobrevida do paciente/enxerto: suporte ventilatório no TH, > 3 meses em lista de TH, ano do TH, doença renal estágio V, fibrilação atrial, imunossupressão sem inibidor de calcineurina, hipertensão pós transplante hepático e tempo de permanência hospitalar.

A metanálise identificou que os principais fatores de risco de mortalidade pós transplante hepático foram a idade do receptor (HR 2, 07 IC 95% 1,71-2,5) e diabetes (HR 1,18 IC 95% 1,08- 1,28).

Dados de idade e IMC não foram agrupados devido a heterogeneidade nos pontos de corte utilizados nas referências.

Discussão

Os dados não foram suficientes para fazer recomendações prognósticas em relação a dados de sexo e raça de receptor e doador.

A idade do receptor foi diretamente relacionada a maior risco de mortalidade, mesmo ajustando fatores confundidores, especialmente em maiores de 65 anos.

O DM pré transplante está diretamente relacionado a pior prognóstico, provavelmente devido a aumento de complicações cardiovasculares nessa população. Idealmente, o paciente com NASH candidato a TH, deve estar compensado dessa comorbidade. Estudos futuros devem avaliar alvos de hemoglobina glicada nesses pacientes.

MELD > 23 foi relacionado a maior mortalidade, todavia foi insignificante quando avaliado de forma contínua. Todavia, isso é limitado pois há poucos estudos apoiando esse dado. Deve-se lembrar que os pacientes listados para transplante, em geral, apresentam MELD elevado e que esse risco é inerente a uma cirrose avançada.

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Sabe-se que a obesidade grau III é fator de risco para TH, sendo em alguns casos uma contraindicação ao TH. No geral, há aumento de mortalidade pós-TH em pacientes com maior IMC, contudo não existem coortes específicas comparando NASH e não NASH. São necessários mais estudos avaliando os efeitos do IMC no pós-TH por NASH a curto e longo prazo.

As principais limitações do estudo estão a seguir:

  • Todos os estudos incluídos foram coorte, não randomizados;
  • Exclusão de muitos estudos devido a coortes duplicadas;
  • Ponto de corte de IMC > 30 na definição de cirrose criptogênica como NASH;
  • Foram incluídos apenas textos em inglês;
  • Aumento de falsos positivos relacionados a grande lista de variáveis analisada.

Mensagens práticas sobre transplante hepático nestes pacientes

A cirrose hepática por NAFLD vem crescendo na prática clínica, tornando-se causa importante de indicação de transplante hepático. Os pacientes com NAFLD apresentam no geral maior risco cardiovascular e maior morbimortalidade relacionada ao transplante hepático, que é uma cirurgia de grande porta. Entender os principais fatores prognósticos auxilia na tomada de decisões e manejo desses pacientes. Os achados desse estudo podem auxiliar nessa tomada de decisões. Além disso, apesar de baixas evidências, reforça recomendação de controle do DM pré transplante hepático a fim de reduzir mortalidade. Os dados de IMC foram inconsistentes e sugerem que os pacientes com NASH não devem ser excluídos do TH apenas com base nesse parâmetro.

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Referências bibliográficas

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