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Carreira14 agosto 2025

Vulnerabilidade dos pacientes e o atendimento da Emergência

Além das variações climáticas, alguns períodos do ano refletem maior cuidado com pacientes, impactando o trabalho na emergência
Por Juliana Sartorelo

Ao longo do ano ocorrem flutuações, e até mesmo durante o atendimento diário, relacionadas ao volume e perfil dos pacientes admitidos em pronto-atendimento e salas de emergência no Brasil e no mundo.

A natureza das demandas é afetada por variações de temperatura, chuvas e outros eventos climáticos o que, especificamente em países tropicais, também resulta na proliferação de vetores transmissores de doenças infectocontagiosas.

Durante o inverno, há um aumento nos casos de doenças respiratórias, como gripes, pneumonias e crises de asma, devido às baixas temperaturas, períodos maiores de aglomeração em ambientes fechados e pouco arejados, levando à maior circulação de vírus.

No verão, prevalecem os atendimentos relacionados à exposição solar, desidratação, queimaduras, afogamentos e acidentes com animais peçonhentos, além de doenças transmitidas por vetores, como a dengue. Esses picos sazonais podem sobrecarregar o sistema e dificultar a gestão em saúde.

Vários estudos mostram a influência da temperatura e das estações do ano também no estado emocional. O frio e a consequente reclusão se associam a estados depressivos e, embora haja redução relativa na demanda de assistência de emergência nesses períodos, há um aumento em atendimentos relacionados a tentativas de autoextermínio e autoagressão.

médicos atuando na emergência do hospital

Datas comemorativas e festivas

Além das variações climáticas, períodos específicos do ano, como festas de final de ano, carnaval e outros feriados prolongados, impactam significativamente os departamentos de emergência. Durante essas datas, há aumento de casos de intoxicações alimentares e alcoólicas, acidentes de trânsito e traumas decorrentes de aglomerações e atividades recreativas.

Datas de maior apelo emocional, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Natal provocam um aumento em atendimentos relacionados a conflitos familiares, lesões autoprovocadas e suicídio. Tais períodos podem intensificar sentimentos de solidão, tristeza ou angústia em algumas pessoas, o que impacta significativamente os atendimentos de emergência.

O manejo desses pacientes exige não apenas cuidados médicos, mas também suporte psicológico imediato e encaminhamento para acompanhamento especializado. É fundamental que os profissionais estejam capacitados para identificar sinais de sofrimento emocional e oferecer um acolhimento humanizado.

Experiência pessoal

Como emergencista e toxicologista, percebo que as flutuações relacionadas às variações ambientais e à vivência sócio-cultural impactam diretamente o fluxo de pacientes e a natureza dos atendimentos diários na sala de emergência dos locais onde trabalho.

Os meses quentes e chuvosos, que em minha região coincidem com as festividades de final de ano e férias escolares, são particularmente complicados. Nesse período, ao aumento de acidentes com animais peçonhentos somam-se aos atendimentos por abuso de substâncias ilícitas e álcool, autoagressões e tentativas de suicídio.

As celebrações de fim de ano, que em geral promovem encontros com familiares e amigos, podem acentuar sentimentos de exclusão ou sofrimento emocional em indivíduos vulneráveis.

Pessoas que enfrentam transtornos mentais, luto, isolamento ou dificuldades familiares podem ser especialmente impactadas. Neste cenário, atendo um grande volume de intoxicações por medicamentos e outras substâncias tóxicas motivadas por tentativa de autoextermínio, homicídio ou abuso.

Um aprendizado valioso nesse caso é a importância de uma equipe multidisciplinar. Como o acolhimento desses pacientes é uma parte importante do tratamento, a participação de psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais na abordagem em conjunto com  equipe médica, garante um atendimento de qualidade e diminui a sobrecarga dos profissionais envolvidos.

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Referências bibliográficas

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