Relato de caso: Captação de pacientes para o consultório
O mercado de saúde é considerado um dos mais promissores para investimento de sucesso, considerando a alta demanda por atendimentos fora do serviço público.
Segundo dados de levantamento feito pela Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos do Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (FEHOESP), em 2019, mais de 12 mil estabelecimentos de saúde privados foram abertos, representando um crescimento de 5,2%. Desse montante, cerca de 8 mil foram consultórios.
Diante de tanta concorrência, como se destacar?
Leia mais: Quais competências comportamentais desenvolver para ser um bom médico?
Relato do autor
Desde a época da graduação, sempre tive a certeza do que não queria para mim, como médico, viver de plantões noturnos e nos finais de semana, trabalhando na correria, apesar de ser o destino da maioria. Sempre admirei a filosofia da Slow Medicine, que resgata o tempo para ouvir como parte essencial da abordagem médica, enfatizando o raciocínio clínico e o cuidado focado no paciente – algo praticamente impossível dentro dos cenários mencionados.
No meu caso, como optei pela Reumatologia Pediátrica, sempre soube que não teria um movimento enorme de pacientes, mas, ao mesmo tempo, muitos exigiriam bastante tempo e dedicação pela complexidade dos casos e os desafios diagnósticos que a mim seriam apresentados.
Depois das residências médicas de Pediatria e Reumatologia Pediátrica, ficou bem claro onde queria trabalhar: (1) no setor privado, em meu consultório, e (2) no setor público, como reumatologista pediátrico, inserido em um hospital universitário.
O desafio de iniciar o atendimento no consultório privado é grande, ainda mais quando a especialidade é bastante específica e não tem uma demanda tão alta. Iniciei o consultório como Pediatra e Reumatologista Pediátrico e tive a oportunidade de atender em um local que já trabalhava e acabei não tendo os custos fixos referentes ao aluguel. Isso, sem dúvida, é um grande alívio para o início da prática da medicina privada, já que o retorno do investimento não é tão rápido como se imagina – e nem deve ser.
Depois de três anos, optei por seguir meu caminho e sublocar um horário em outro local que fazia mais sentido em termos de localização e perfil de atendimento dos meus pacientes (crianças e adolescentes). Optei, desde o início, por atender apenas pacientes particulares, ainda que o valor da consulta inicial tenha sido baixo.
Isso me dava uma satisfação enorme de estar trabalhando para mim mesmo e não dependente de operadoras de saúde ou de clínicas que funcionam com volume de produção. O mais importante é que isso me dava a liberdade de ter total gerenciamento do meu tempo, de exercer a Medicina que eu realmente acredito até hoje que deve ser feita.
Leia também: Dicas do médico experiente: como escrever um bom artigo científico?
Dicas de onde atuar no campo privado
Se você não tem a oportunidade de iniciar o atendimento em um local sem custos, a dica que dou (que uso até hoje) é sublocar um horário.
Ter seu próprio consultório significa ter um alto custo fixo (aluguel da sala, condomínio, luz, água, secretária, insumos etc.) e ter que lidar com problemas que vão acontecer (gerenciar licença médica e cobertura de férias da secretária, comprar insumos, consertar os equipamentos etc.). Caso você realmente ache que faz sentido ter seu próprio espaço (seja por um sonho ou pelo volume de atendimentos da sua especialidade), busque alguém que possa dividir essa responsabilidade financeira e administrativa.
Encaro o consultório como uma renda extra e uma atividade prazerosa, onde posso colocar em prática o que estudo e o que acredito ser correto, dentro do meu espaço, meu tempo e minha filosofia. Ter outras fontes de renda certamente me ajudou a diminuir a “pressão” do retorno que todos buscam ao iniciar o atendimento no consultório e é outra dica importante – diversifique as suas fontes de renda e dilua a sua “pressão” de retorno do investimento.
E como atrair os pacientes?
Atualmente, existem vários “experts” nas redes sociais dando sugestões de como aumentar seu volume no consultório e viver de atendimentos privados. As pessoas focam excessivamente no marketing (que certamente ajuda a dar visibilidade ao seu trabalho), mas o mais importante é quem você é ao vivo, no improviso, sem roteiros.
O crescimento orgânico se dá pela construção de uma rede de confiança que envolve seus próprios colegas de profissão, amigos e seus pacientes, que acabam te indicando para outras pessoas. Isso só é possível se o seu trabalho exercido for consistente e começa lá atrás, na graduação, residência médica, até os dias atuais, onde você trabalha e circula.
Lembra aquele seu colega que na residência não tinha responsabilidade e deixava tudo para os outros? Aquele que nunca estudava e colava nas provas? Essas manchas são difíceis de serem removidas, por isso que a sua reputação é extremamente importante.
Estar sempre estudando, ouvindo, refletindo e dividindo com os colegas é essencial para o crescimento do seu consultório. Ser humilde e sincero com os seus pacientes é algo muito mais valorizado do que o número de seguidores do Instagram. O crescimento orgânico é sólido, mas demanda investimento e tempo.
Cuidado com o imediatismo e as receitas milagrosas de sucesso
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.