Quais competências comportamentais desenvolver para ser um bom médico?
A expectativa em torno do que define “um bom médico” é elevada, tanto para aqueles que estão iniciando sua jornada na medicina quanto para os profissionais recém-integrados à carreira.
Em essência, a excelência médica é alcançada pela harmonização do conhecimento teórico, prática dedicada, e habilidades interpessoais bem desenvolvidas para uma interação eficaz com o paciente.
Esta tríade de competências se constrói ao longo de anos de dedicação: inicialmente, durante a graduação em medicina, seguida pela formação especializada e continuada ao longo da carreira por meio de atualizações constantes – participação em cursos, palestras e congressos.
Excelência clínica vs. Habilidades interpessoais
A excelência clínica exige do médico o domínio de uma ampla gama de habilidades, que vão desde a condução de uma anamnese detalhada, passando pela realização de exames clínicos minuciosos, formulação de diagnósticos hipotéticos até a escolha da abordagem terapêutica mais adequada. Compreender o funcionamento normal do corpo humano e os mecanismos fisiopatológicos é crucial, assim como a habilidade para realizar procedimentos específicos.
Comumente, os médicos concentram grande parte de seu tempo aprofundando-se e aprimorando essas competências técnicas. Portanto, uma atitude de curiosidade, associada à disposição para o estudo contínuo e ao aperfeiçoamento, são indispensáveis para ser reconhecido como um bom médico.
Entretanto, o desenvolvimento de habilidades interpessoais fundamentais para a construção de uma relação sólida com o paciente muitas vezes não é priorizado. A eficácia das etapas técnicas mencionadas depende intrinsecamente da capacidade de estabelecer uma comunicação efetiva com o paciente, possibilitando a coleta de uma história clínica bem-feita e o engajamento do paciente nas propostas terapêuticas formuladas.
Aprender sem cessar
A dinâmica dessa interação pode ser complexa, demandando respeito, confiança, empatia e estratégias de comunicação clínica eficazes. Alguns profissionais e estudantes da medicina, curiosamente, veem essas habilidades como inatas, desconsiderando a existência de técnicas e estratégias desenvolvidas para aprimorar a comunicação e o relacionamento interpessoal. Essas ferramentas, contudo, podem ser aprendidas e refinadas.
Problemas na relação médico-paciente frequentemente decorrem de falhas na comunicação, como interrupções abruptas ou falta de atenção, além de uma preocupação desproporcional com a doença em detrimento do paciente como indivíduo. Além disso, interações com familiares ou a equipe multidisciplinar representam desafios adicionais, que demandam também ensino e conhecimentos apropriados.
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Como melhorar a relação com o paciente?
Medidas simples, como revisar o prontuário do paciente antes da consulta, preparar-se para evitar distrações, ouvir atentamente sem interrupções nos momentos iniciais do atendimento e manter um julgamento neutro, podem significativamente melhorar a comunicação.
Estratégias abrangem tanto a comunicação verbal, como através do uso inteligente de perguntas abertas ou fechadas, quanto a não verbal, considerando a postura, expressões faciais, entre outros. A comunicação efetiva também se apoia na empatia, permitindo ao médico perceber, reconhecer e responder adequadamente aos sentimentos do paciente. Assim, entender a dimensão emocional do paciente e reagir de forma congruente se torna um aspecto fundamental do cuidado médico.
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União do técnico com o interpessoal
O desafio de transmitir más notícias, por exemplo, embora difícil, pode ser gerenciado com preparo e prática. Unir o conhecimento técnico sobre a fisiopatologia e os aspectos biológicos da doença com a capacidade de compreender o paciente como um ser humano único, com sua história de vida e contexto social, é o que verdadeiramente caracteriza um bom médico.
Essa abordagem personalizada ao paciente, considerando suas experiências individuais com a doença, permitindo a união entre técnica e interação interpessoal.
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