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Carreira21 maio 2025

Passagem de plantão: os cuidados legais e éticos que todo médico precisa ter

Mais do que uma formalidade, o ato envolve obrigações éticas e legais que, se negligenciadas, podem trazer sérias consequências
Por Redação Afya

A troca de plantão é um dos momentos mais sensíveis da rotina hospitalar. Muito mais do que uma simples formalidade, ela marca a transição de responsabilidade entre profissionais e, se mal conduzida, pode colocar em risco a continuidade e a segurança do atendimento ao paciente. Do ponto de vista jurídico e ético, essa etapa exige atenção redobrada.

De acordo com a advogada Ana Caroline Amoedo, especialista em Direito Médico, o Código de Ética Médica (CEM) estabelece regras claras sobre o tema. O artigo 9º, por exemplo, proíbe que o médico abandone o plantão sem a presença de um substituto, salvo por justo impedimento. Já o artigo 55 reforça a obrigatoriedade de uma comunicação precisa, clara e completa sobre o quadro clínico dos pacientes.

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Responsabilidade não se encerra com o relógio

O médico que encerra o plantão pode ser responsabilizado por omissão caso deixe de repassar informações relevantes ao colega que o substitui — especialmente se esse descuido resultar em algum dano ao paciente. “Essa responsabilidade é agravada quando não há registros adequados no prontuário”, alerta Ana Caroline. Além disso, a responsabilização pode se estender ao Diretor Técnico ou ao profissional que deveria assumir o turno, em casos mais graves, como abandono de plantão.

Prontuário: a principal defesa do médico

Para garantir a segurança tanto do paciente quanto do profissional, o prontuário deve estar sempre atualizado, legível e conter informações completas sobre evolução clínica, condutas e medicações. “O artigo 87 do CEM é categórico: os registros precisam ser cronológicos, datados, assinados e conter o número de registro do médico no CRM”, explica.

Intercorrências, decisões críticas e pendências também devem ser registradas com a mesma precisão. “Esses elementos formam a base documental da continuidade assistencial e são a principal proteção jurídica do profissional”, completa.

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Trocas informais: melhor evitar

Com a popularização de ferramentas como WhatsApp e e-mails, é comum que médicos utilizem esses meios para se comunicar. Mas, segundo a especialista, essa prática precisa de cuidado: “O uso exclusivo de mensagens não tem respaldo jurídico. A substituição de plantonistas só tem validade quando registrada formalmente na escala oficial da unidade e autorizada pela chefia”.

Inclusive, decisões judiciais reforçam esse entendimento. Em um acórdão do TJDFT (Acórdão nº 941109), a troca informal de plantões foi considerada ilícita, ainda que prática comum entre profissionais da saúde.

Passagem formal é obrigatória

É comum que equipes que atuam juntas com frequência tenham maior familiaridade com os pacientes. Ainda assim, a passagem de plantão precisa ocorrer de forma formal. A Resolução CFM nº 2.077/2014, no artigo 8º, deixa claro: “é obrigatória a passagem de plantão, médico a médico”, independentemente da continuidade da equipe ou do conhecimento prévio sobre os casos.

Em plantões caóticos ou com alta demanda, deve-se ao menos garantir o “mínimo essencial”: uma comunicação efetiva com o substituto e registros atualizados no prontuário, com informações clínicas indispensáveis.

E se houver divergência de conduta entre médicos? Nesses casos, a orientação é documentar a conduta adotada de forma técnica e objetiva, sem emitir juízos de valor sobre o profissional anterior. “O prontuário deve refletir apenas as decisões tomadas com base nos critérios clínicos, sempre com foco na assistência segura ao paciente”, diz a advogada.

Boas práticas

Para evitar riscos éticos, civis ou até criminais, recomenda-se seguir alguns princípios básicos:

  • Permanecer no plantão até a chegada do substituto;
  • Comunicar imediatamente a direção técnica em caso de atraso;
  • Manter o prontuário sempre atualizado, legível e cronológico;
  • Transmitir informações completas, objetivas e sem omissões;
  • Formalizar qualquer troca de plantão na escala oficial da unidade.

“A passagem de plantão é um ato técnico e legal, que exige responsabilidade. Cuidar desse momento é cuidar da segurança do paciente — e da própria carreira médica”, finaliza Amoedo.

Se você é médico ou estudante de medicina e quer se aprofundar no tema para atuar com ainda mais segurança, vale a pena seguir o perfil @anacarolineamoedo, no Instagram. É por lá que Ana Caroline compartilha dicas práticas para evitar problemas jurídicos na carreira. Fique de olho!

 

Autoria

Foto de Redação Afya

Redação Afya

Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.

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